Livro de professor da UFSC com Paulo Freire tem edição publicada na Grécia

05/04/2022 11:14

Edição em grego

Uma nova edição do livro Pedagogia da Solidariedade, uma coautoria entre o educador Paulo Freire, sua companheira, Ana Maria Araújo Freire, e o professor da Universidade Federal de Santa Catarina Walter Ferreira de Oliveira, foi lançada na Grécia, pela Editora Epikentrro. O livro teve recentemente o lançamento de sua 4ª edição em Português, além de duas edições em inglês, nos Estados Unidos e na Inglaterra.

Oliveira, que é professor titular do departamento de Saúde Pública, foi parceiro intelectual e amigo pessoal de Freire, um dos maiores pensadores da educação no Brasil e no mundo. “A pedagogia da solidariedade é uma visão de mundo onde a gente se conscientiza de que a solidariedade é essencial não só para as relações entre as pessoas, mas para a própria existência humana. Solidariedade é você entender organicamente o sofrimento do outro, partilhar esse sofrimento no sentido de realmente querer ajudar a superação com ações concretas”, explica o professor. “Essas ações são pedagógicas, por isso a ideia da pedagogia: cada ação que se faz no sentido da solidariedade se torna um processo pedagógico”.

No livro, segundo sinopses das edições brasileiras e inglesa, Freire nos leva a refletir que, sem uma pedagogia crítica, voltada para o aperfeiçoamento da solidariedade em cada um de nós, não é possível construir um mundo mais bonito e democrático. Questões como a globalização, o fatalismo pós-moderno e as qualidades dos educadores para o século 21 são trazidas à tona, com comentários esclarecedores complementados pelos pensamentos da companheira, do professor da UFSC e dos estudiosos Norman Denzin, Henry Giroux e Donaldo Macedo.

O professor lembra da riqueza do processo de escrita da obra, que reuniu intelectuais renomados em torno de um grande legado. “Foi uma experiência única poder estar junto de uma pessoa da grandeza de Paulo Freire discutindo, conversando, tirando dúvidas e absorvendo aquele conhecimento fantástico que ele pode me transmitir, que eu sou muito agradecido em ter partilhado”, resume. Oliveira ainda tem contato com Ana Maria, companheira de Freire, coautora da obra e também pensadora da educação. “Ela é muito requisitada mundialmente, mas sempre que podemos estamos em contato, fizemos, inclusive, alguns eventos juntos para lançamento de edições”.

Livro também foi editado em inglês

Encontro intelectual construiu uma amizade sólida

Em 2013, Oliveira fez um longo relato para o International Journal of Critical Pedagogy narrando a forma como construiu sua relação com Freire. Na época morando e estudando nos Estados Unidos, ele já era um grande admirador da produção teórica do pensador brasileiro, mas teve a oportunidade de conhecê-lo também na intimidade. “Paulo não foi para mim um mestre para a educação, mas para a compreensão do ser humano. Foi um dos meus maiores mestres de psiquiatria e psicologia social”, escreveu.

O primeiro contato entre eles foi numa conferência ministrada por Freire em Minnesota, onde o professor ficou fascinado pelo silêncio e a reverência com que o pensador brasileiro era ouvido e aclamado por pares norte-americanos. “Estava consciente da importância de ter estado ali, de ter visto o mestre, de tê-lo ouvido, de perceber sua luz, de ter bebido de suas palavras, ao vivo, ali bem pertinho, de onde se podia ouvir nitidamente, graças à magia do silêncio absoluto, até mesmo sua respiração entre uma e outra palavra”.

Do encontro profissional surgiu uma amizade em que se falava pouco de trabalho e muito sobre a vida e sobre uma variedade de assuntos que apresentaram a Oliveira “um Paulo Freire sensível, poético, eternamente jovem”. Como pensador, foi influenciado por ele como estudante, como médico e como professor. “Mas aprendi pessoalmente muito mais de Paulo Freire. Paulo foi para mim acima de tudo uma lição de amor, de ternura, de juventude, de eterna renovação”, comenta.

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