Pesquisadora da UFSC desenvolve modelo para analisar impactos ambientais da frota de automóveis e tem estudo premiado

15/12/2021 13:17

Ter um mundo sem carros pode ser um sonho muito distante quando o assunto é mobilidade e sustentabilidade, mas pensar em tecnologias que reduzam o impacto da emissão das substâncias tóxicas por parte dos automóveis vem sendo um grande desafio para a ciência. Propor uma ferramenta útil à tomada de decisões para um mundo mais sustentável foi um dos objetivos da pesquisa de doutorado de Lívia Moraes Marques Benvenutti, que teve um dos artigos premiados como melhor publicação de aluno de doutorado no Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação em Engenharia da Produção (EPPGEP), realizado pela Associação Nacional de Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia de Produção (ANPEPRO) em agosto deste ano.

O artigo Electric versus ethanol-based vehicles: A new system dynamic model of Brazil’s case, assinado por Lívia Moraes Marques Benvenutti, Lucila Maria de Souza Campos, Diego A. Vazquez-Brust e Catherine Liston-Heyes, também foi o primeiro, na história do encontro, a premiar uma dupla de mulheres com o primeiro lugar na categoria. Lívia foi orientada pela professora Lucila Maria de Souza Campos, uma das pesquisadoras destaque da UFSC em 2021.

O objetivo da tese foi propor um modelo do poço à roda baseado em frota (fleet-based well-to-wheel model) para estimar os potenciais impactos da frota de veículos leves do Brasil no meio ambiente e na saúde humana ao longo do tempo, de forma a servir de suporte a políticas públicas. Esses modelos consideram os impactos ambientais dos combustíveis desde a sua produção até a circulação nos automóveis. “Penso que é importante, como pesquisadora, voltar o meu estudo para os tomadores de decisão, pois há sempre muitas incertezas nesses cenários”, comenta.

Lívia se refere ao cenário das mudanças climáticas e como os veículos de passageiros vêm sendo alvos de diferentes políticas para tentar mitigar o problema causado pelos gases poluentes. Só no município de São Paulo estima-se que os veículos são responsáveis por mais de 72% dos gases de efeito estufa que circulam no ambiente. Frotas muito antigas e a ausência de legislação e de tecnologias acessíveis podem ser um dos focos do problema.

Na tese, a pesquisadora pretende responder quais estratégias podem mitigar as emissões dos gases da frota de veículos leves e seus potenciais, pensando também em como os atores principais das estratégias evoluíram na transição dos veículos históricos. Ela também busca verificar como contabilizar a eficácia das ações potenciais de sustentabilidade na frota de veículos para servir de suporte às políticas de longo prazo.

Modelagem colabora com antecipação de cenários

O artigo premiado utiliza a modelagem como forma de antecipar cenários, investigando carros elétricos e carros Flex com uso do etanol e comparando o desempenho de ambos como parte da estratégia para mitigar os danos ambientais causados pelos gases de efeito estufa. A investigação é elaborada com base no contexto brasileiro e chega à conclusão de que o etanol produz resultados comparáveis aos dos veículos à bateria.

Lívia trabalha com modelagem desde o mestrado e investiu na área da simulação para contribuir com a projeção de cenários em momentos de incerteza. Ela explica que, na ferramenta, o usuário pode modificar as premissas iniciais para testar diferentes cenários. Cinco estratégias são consideradas para se pensar no problema: a eficiência energética dos automóveis, a intensidade da sua utilização, a quantidade de utilização de gasolina ou etanol nos carros Flex, a renovação das frotas e a substituição total da frota por carros elétricos.

A testagem desses cenários indicou que o etanol é uma opção viável para a frota brasileira, também levando em conta o contexto do país. Ela lembra que, em alguns países, os carros elétricos estão se difundindo rapidamente, mas que aqui as políticas públicas ainda não apontam para um mesmo cenário. “Não se trata de uma questão de escolha pelo etanol ou pelo carro elétrico, mas de entender que o etanol também oferece um potencial de mitigação, o que certamente ajuda em uma transição para a sustentabilidade”, pontua.

Na prática, o modelo prevê cenários até 2050, levando em conta os efeitos ambientais da produção dos combustíveis e da sua circulação nos automóveis. O modelo dinâmico estima indicadores ambientais, como o de potencial de aquecimento global, material particulado, formação de ozônio, entre outros. Também utiliza indicadores da saúde humana, investigando, por exemplo, o impacto da redução na expectativa da vida por conta de uma determinada tecnologia.

“O modelo é dinâmico, então ele permite maior flexibilidade para estabelecer essa discussão sobre o etanol e o elétrico. A gente viu que ambos possuem um potencial de mitigação muito bom e o modelo permite justamente que se discuta os cenários”, comenta. A ideia é, com isso, impactar em políticas públicas que busquem um ambiente mais sustentável, por isso, a pesquisadora salienta que a ferramenta está disponível para quem quiser atuar em parceria.

Amanda Miranda/Jornalista da Agecom/UFSC

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