Estudantes de Literatura Alemã da UFSC visitam o Museu Victor Meirelles
Para conhecer as obras do artista catarinense Victor Meirelles no museu do artista, vinte estudantes de Literatura Alemã/UFSC visitaram na quarta-feira, 11 de maio, a exposição “Construções”, cuja curadoria é de Paulo Reis. Acompanhado pelos professores Werner Heidermann e Maria Aparecida Barbosa, o grupo foi guiado pela antropóloga Simone Rolim de Moura da ação educativa do Museu.
Troca de Perspectiva – desbravando a história catarinense e brasileira
Num dos tópicos das disciplinas de literatura de língua estrangeira troca-se a perspectiva: a arte e os textos lidos e estudados normalmente em alemão são lidos com inversão de perspectiva, isto é, sob o viés da identidade brasileira, da arte brasileira, mais especificamente das artes plásticas brasileiras do século XIX. E nesse caso, o foco foi o trabalho do artista de reconhecido valor no que tange a contribuição à instituição do espírito de Nação, processo que se instaura a partir do movimento romântico (tanto no Brasil, como na Alemanha, com todas as respectivas particularidades).
A incipiente nação brasileira assumiu ao longo de seu primeiro século de autonomia a maneira como o europeu a retratava. Para constituir o espírito de Nação heróica e civilizada o império brasileiro estimulou a literatura romântica, a música e as artes plásticas brasileiras, que perpetuavam esse conceito através das narrativas de obras-primas.
Outros artistas contemplados no tópico que prevê a troca de perspectiva dentro das disciplinas de literatura alemã são os pintores Pedro Américo (autor de “Independência ou Morte”, “Batalha do Avaí”), Oscar Pereira da Silva (autor da pintura “A Descoberta do Brasil”) e o compositor Carlos Gomes (autor, dentre outras, da ópera “O Guarani”).
Por sua vez, os integrantes do Primeiro Romantismo Alemão ou Romantismo de Jena, August e Friedrich von Schlegel haviam tratado com frequência, em seus ensaios e conferências da literatura de língua portuguesa, sobretudo de Camões, referências que foram relevantes para introduzir o campo dos estudos romanísticos na Alemanha. O trecho a seguir refere-se ao conceito de “literatura de Nação”, que Friedrich leu, respectivamente, em Camões e em Cervantes:
“Não somente Gama, mas a descoberta da Índia cantava Camões, tampouco somente o poder e os atos heróicos dos portugueses, porém tudo que de alguma maneira era nobre, belo, grandioso, elevado e amorosamente comovedor na história antiga do seu povo. Tudo estava entrelaçado nessa poesia e entrançado numa totalidade una. A poesia de Camões integra toda a poesia de seu povo; entre todas as poesias de heróis dos antigos e dos mais recentes, nenhuma é tão nacional, e nunca, desde Homero, um poeta foi tão admirado e amado como Camões. Assim sendo, todo o sentimento de patriotismo por essa nação, que logo após Camões perdeu a soberania, quase que se prende a um poeta, que a ela e a nós com razão pode ser compreendido, sem outros poetas, como a literatura da Nação.”
“O nome de Cervantes merece a fama e a admiração de todas as nações européias, das quais ele goza há dois séculos, não somente pelo estilo nobre e a autenticidade da representação; não somente por essa obra ser entre todas as do humor a mais rica em fantasia e espírito, mas também por ser um painel abundante e épico da vida e do caráter essencialmente espanhóis. O que em outra oportunidade já o disse sobre o humor, serve neste caso como uma luva: sobretudo nesse gênero, o poeta precisa confirmar seu talento e seu direito à liberdade de expressão através da qualidade poética nos efeitos, na representação, na forma e na linguagem. (…) Chiste e seriedade, humor e poesia são reunidos com primor nesse diversificado painel de vida.”
Com o apoio do naturalista Alexander Von Humboldt (irmão do filósofo e linguista Wilhelm), que nesse ínterim se convertera no grande mecenas para ambiciosos cientistas, o escritor franco-alemão Adelbert Chamisso concretizou o sonho de viajar pelo mundo: foi aceito como relator da viagem de circunavegação empreendida de 1815 a 1818 pelo navio russo Rúrik, sob o comando de Otto von Kotzebue. A grande contribuição científica da expedição foi a cartografia de 400 novas ilhas. Em 1836 Chamisso publicou seus diários de viagem, compilados no livro Reise um die Welt. De maior interesse para os brasileiros é naturalmente o relato do percurso entre Teneriffa, a maior das Ilhas Canárias, na Espanha, até a Ilha de Santa Catarina, incluindo as impressões sobre a opulência da Mata Atlântica. Tanto que o escritor/naturalista confessou não conseguir se lembrar das pessoas com quem esteve no Desterro (antigo nome de Florianópolis), somente a natureza se impregnou em sua memória. Após a expedição, ele retornou a Berlin e passou a ocupar o cargo de Diretor do Jardim Zoológico.
A passagem de Chamisso por Santa Catarina está registrada na fachada da reitoria da UFSC através de um painel de mosaico concebido pelo artista e poeta Rodrigo de Haro com pedaços de azulejos-tesselas.
Maria Aparecida Barbosa
Professora do DLLE/PGL