Especial Pesquisa: Estudos geram conhecimento sobre funcionamento molecular do câncer
O câncer é uma doença que altera o equilíbrio das células normais. A trajetória esperada para estas pequenas estruturas que formam os seres vivos é a divisão, crescimento, multiplicação e morte. Mas, por algum motivo, o câncer muitas vezes promove a divisão celular sem controle.
A quimioterapia procura atacar essa multiplicação descontrolada das células tumorais. Porém, atinge também outras células, provocando sintomas como queda de cabelo, vômitos, diarréia e enfraquecimento do sistema imunológico, nossa defesa contra as doenças.
Um dos desafios da ciência atual é investigar drogas “inteligentes”, que ataquem com eficiência não apenas as consequências, mas as causas do câncer, sem provocar tantos efeitos colaterais. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) participa desse esforço. Entre os estudos estão trabalhos desenvolvidos em colaboração com a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Na UFSC atuam professores, estudantes de pós-graduação e de graduação do Departamento de Química (ligado ao Centro de Ciências Físicas e Matemáticas) e do Departamento de Bioquímica (ligado ao Centro de Ciências Biológicas). A meta é aprofundar o conhecimento sobre os mecanismos moleculares envolvidos com o câncer, aproveitando o potencial da engenharia genética e da nanobiotecnologia.
Manipulando o DNA
Os trabalhos são estimulados pelo avanço das investigações envolvendo a genômica, capaz de mapear os genes de diversos organismos. Esse conhecimento tem influenciado a busca por estratégias que possam ser utilizadas para manipular o DNA (moléculas que contêm as instruções genéticas dos seres vivos) e o RNA (responsável pela síntese de proteínas, principais compostos constituintes dos seres vivos e que estão em produção constante pelas células).
A pesquisa investiga processos químicos como a degradação das proteínas e ácidos nucléicos (DNA e RNA), explicam os professores da UFSC Ademir Neves e Hernán Terenzi, pesquisadores do projeto que tem apoio do CNPq.
Segundo eles, a expectativa é avançar o conhecimento sobre fenômenos que possam dar suporte ao desenvolvimento de agentes quimioterápicos capazes de bloquear a expressão gênica do câncer. Esse processo traz esperanças para conter a multiplicação descontrolada das células “doentes”.
As equipes investem também na síntese de nucleases artificiais. Elas são enzimas que degradam o DNA e podem colaborar com o desenvolvimento futuro de drogas para combater o câncer (entre outras doenças, já que são pesquisas de base e podem gerar benefícios em aspectos não previstos pelos pesquisadores).
O grupo tem pesquisas neste campo há vários anos e resultados importantes já foram alcançados. São estudos que se destacam em processos de síntese e caracterização de novos complexos químicos e para algumas nucleases artificiais os mecanismos das reações foram completamente esclarecidos. Em 2007, por exemplo, o professor Ademir Neves publicou o primeiro exemplo de um modelo sintético para hidrolase (um tipo especial de enzima), conhecimento importante para compreensão da osteoporose e do câncer nos ossos.
As equipes investem também no estudo de nanopartículas metálicas de alta qualidade, que tenham tamanho e dispersão controlados. A idéia é que estas partículas possam ser usadas como “sondas” na determinação da estrutura do DNA e como drogas quimioterápicas.
Além de já ter capacidade de obter e caracterizar estas partículas, o grupo realiza testes de atividade anti-tumoral in vitro, em células de tumor de pulmão de origem humana. Há ainda estudos para avaliar a toxidade dos novos compostos, realizados no Laboratório de Medicamentos a Base de Metais, do Departamento de Química da UFMG.
“Esperamos que as pesquisas tragam contribuições para obtenção de outros biomateriais e tratamento de diversas doenças.”, destaca o professor Ademir Neves, coordenador geral do projeto que já colabora com a formação de profissionais de alto nível.
Mais informações: ademir@qmc.ufsc.br
Por Arley Reis / Jornalista na Agecom