Na mídia: professora de Antropologia da UFSC é fonte em matéria sobre a participação das mulheres no futebol

24/06/2010 14:03

Atletas invisíveis

Por Christiane Silva Pinto

Vivemos uma época de crescente participação das mulheres em todos os esportes, inclusive o futebol. Hoje é cada vez mais difícil considerar um esporte esclusivamente masculino. Essa mesclagem de gêneros começa nas escolinhas de qualquer esporte, desde o vôlei até o judô. Mesmo assim, o espaço dado ao esporte praticado por mulheres, principalmente o futebol, é mínimo não só na mídia como nas confederações.

Segundo a professora do departamento de Antropologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Carmen Rial, “no inicío do futebol, as mulheres tinham grande presença nas arquibancadas e poderiam ter tido presença também como atletas, não fosse uma proibição legal”.

Quando o Conselho Nacional de Desportos (CND) surgiu em 1941, tornou-se instância máxima de poder esportivo, criou um decreto que as impedia de jogar futebol: “Art. 54. Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”.

O artigo vigorou até o anos 1970, quando foi revogado devido à pressão do movimento feminista. “As mulheres eram consideradas como reprodutoras e o futebol, assim como outros esportes (inclusive o vôlei, um esporte onde não há contato físico), era tido como capaz de prejudicar seus orgãos reprodutores. Ora, os orgãos reprodutores masculinos, externos, estão muito mais em risco do que o das mulheres”, comenta a professora.

Para o professor de Marketing da FEAUSP, Marcos Cortez Campomar, “em outros países as mulheres participam mais do futebol. No Brasil elas têm medo da violência”, o que entra no quesito segurança. “Aí o problema não é só dos clubes, e sim brasileiro”, afirma o professor, lembrando das inúmeras brigas entre torcidas organizadas que quase sempre acontecem depois dos jogos. Apesar da redução do número de mulheres nos estádios, a maioria dos clubes já tomou consciência do potencial feminino como clientes. Quase todos os times têm modelos femininos de suas camisas.

Não só nas arquibancadas dos estádios, como dentro de campo, o espaço dado às mulheres é mínimo. O futebol continua a ser um esporte masculino no mundo todo – com excessões como os Estados Unidos e a Suécia. A presença do futebol feminino na mídia é quase inexistente. Segundo Carmen Rial, “a televisão brasileira teve que engolir o futebol feminino, pois não poderia continuar desconsiderando um esporte que estava obtendo tantas conquistas internacionais”.

Apesar da cobertura dos jogos em si ser ainda muito pequena, a presença de mulheres como repórteres de programas esportivos se tornou comum atualmente. “Vejo como positivo o fato da televisão estar incorporando as mulheres entre os repórteres e apresentadores de programas desportivos. Porém, ainda não como comentaristas (que pensam, interpretam o jogo) ou narradoras. É como se a mulher pudesse mediar as intervenções dos homens envolvidos no futebol, mas não tivesse capacidade para produzir discursos sobre ele”.

Como uma possível solução para esse problema, Carmen acredita que “a CBF deveria tornar obrigatória a cada equipe de futebol masculino a organização de uma equipe feminina”, para que as atletas fossem mais motivadas. Além disso, as equipes femininas necessitariam de um calendário que as mantivesse em atividade durante todo o ano, para dar maior visibilidade aos clubes a qualquer momento e não apenas em temporadas especiais como as Olimpíadas.