Colóquio Internacional discute as múltiplas leituras da cidade hoje
Associação dos Pesquisadores Brasileiros na França promove reflexão sobre os significados da cidade na literatura e nas artes
Pensar a cidade como superfície de inscrição de linguagem criativa na literatura e nas artes. Essa é a proposta da Associação de Pesquisadores e Estudantes Brasileiros na França (APEB-FR), que promove nesta quinta-feira, 13, em Paris, no Teatro Lúcio Costa, da Maison du Brésil, em Paris, o Colóquio Internacional “Penser la ville aujourd’hui dans la littérature et les arts” (“Pensar a cidade hoje na literatura e nas artes”). Múltiplas leituras vão se desenvolver em torno de três eixos: a cidade e o corpo; a cidade e a memória; a cidade como texto. “A cidade pode ser lida como um palimpsesto, um corpo/suporte com sua história em constante sobreposição”, explica a diretora científica da APEB-Fr, Marina Silveira de Melo. A entidade é integrada por cinco estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Dois grandes conferencistas vão ancorar o evento: Pascal Dibie, professor titular da Universidade Paris 7, Campus Diderot e diretor do Laboratório de Antropologia Visual e Sonora do Mundo Contemporâneo da Université de Paris 7, abrirá o evento as 10h30min com a conferência “O olhar sobre a cidade. Às 13h30min, Sylvaine Conord, professora do Departamento de Sociologia na Universidade Paris e Nanterre, antropóloga e fotógrafa, pesquisadora do Laboratório de Antropologia Urbana do C.N.R.S, falará sobre “A fotografia como Expressão de uma Memória Urbana”. Das 14h30min às 19h, estudantes brasileiros no complexo da Sorbonne e pesquisadores de universidades brasileiras (UFSC, URGS, UFRB e UFMG) na França apresentam suas leituras da cidade na área de fotografia, pintura, antropologia, música e literatura. As comunicações estão organizadas em torno de três mesas-redondas: A cidade e a memória; A cidade e os corpos e a Cidade enquanto texto.
Desde os seus primórdios, a cidade mantén uma relação estreita entre o espaço físico e as relações sociais. Para ela converge o capital econômico, social, financeiro, onde se estabelecem as relações sociais, políticas e econômicas, ou seja, onde se concentram os bens de reprodução do capital e a força de trabalho. O aumento da população que migra do campo para a cidade, em busca de oportunidades de trabalho, provoca um inevitável aumento dos “problemas urbanos”. Constituída dentro de um modelo medieval, a cidade passou a não corresponder mais aos apelos da demografia, tornando-se insalubre. Foi necessária uma descrição dos fatos, de modo a ordená-los de maneira quantitativa e descritiva, fazendo surgir a Estatística e a Sociologia como importantes vertentes do pensamento moderno, necessárias para fazer refletir sobre o crescimento da cidade, ainda no século XIX, escrevem os conferencistas.
As evidências do mundo citadino já apareciam nos registros literários e pictóricos da Modernidade. Nas artes plásticas, o realismo de Gustave Courbet e Gustav Doré, exemplifica a representação do povo no cotidiano da cidade, com os artistas em desgraça e as crianças na miséria. a cidade começa a aparecer nas fisiologias da literatura do século XIX, mas é no século XX que pensar a cidade torna-se ainda mais urgente. A Primeira Guerra Mundial, a crise dos valores estéticos, a violência, a revolta, a revolução, a miséria humana fazem das cidades um grande terreno baldio, argumenta o texto de apresentação do evento.
Pensar a cidade é também pensar a sociedade. Em sua obra A Cidade das Palavras, o historiador Alberto Manguel trata a literatura e a política como métodos ou teorias distintas que tentam definir a sociedade, sua identidade e, por extensão, a identidade de seus cidadãos. O Colóquio Internacional se inspira nas duas teorias apresentadas pelo autor para ler a sociedade a partir da observação da cidade: a linguagem criativa e a linguagem criada, ou seja, a literatura e a política respectivamente.
Sobre os conferencistas:
Pascal Dibie
Professor titular da Universidade Paris 7, Campus Diderot e diretor do Laboratório de Antropologia Visual e Sonora do Mundo Contemporâneo da Université de Paris 7.
Publicações: O quarto de dormir (editora Globo, 1988); La tribu sacrée (A tribo sagrada, Métaillé, 2004); Ethnologie des prêtres (Etnologia dos sacerdotes, Métaillé, 2004), La passion du regard (A paixão do olhar, Métaillé, 1998); Essai contre les sciences froides (Ensaio contra as ciências frias, Métaillé, 1998).
Sylvaine Conord
Professora do Departamento de Sociologia na Universidade Paris e Nanterre, antropóloga e fotógrafa, pesquisadora do Laboratório de Antropologia Urbana do C.N.R.S. Suas pesquisas giram em torno das funções e os usos da fotografia na antropologia através da perspectiva de diversos terrenos no meio urbano e peri-urbano: trajetos e migrações, modos de sociabilidade nos cafés de Paris, práticas espaciais e representações do habitat.
Publicações: Ensaio “A função mediadora da imagem fotográfica” na Iluminuras, Revista do Banco de Imagens e Efeitos Visuais, v. 14, n. 32 (2013). Coordenou as obras Arrêt sur images: Photographie et anthropologie, Ethnologie française (Imagens congeladas: Fotografia e Antropologia, Etnologia Francesa, 2007) e Belleville cafés (com Steiner Anne), pela L’échappée, de Paris (2010). Tese de Doutorado em Sociologia pela Université de Paris X, Nanterre Funções e usos da fotografia em antropologia. Dos cafés bellevillois (Paris XXe) à Ile de Djerba (Tunísia): trocas entre as mulheres judias de origem tunisiana e uma antropologia fotográfica (2001).
PROGRAMAÇÃO
10h – 10h30: Abertura 10h30-11h30 Conferência – O olhar sobre a cidade – Professor convidado: Pascal Dibie – Université Paris 7 Diderot.
13h30 – 14h30: Conferência
A fotografia como Expressão de uma Memória Urbana – Professora convidada: Sylvaine Conord – Université Paris Ouest Nanterre La Défense.
14h30 – 16h: Mesa redonda – A cidade e a memória
1. Considerações sobre o projeto “(in) Segurança”: uma experiência interdisciplinar para pensar a cidade.
Andrea Eichenberger – Pós-doutoranda em fotografia na Universidade de Paris I Panthéon Sorbonne, membro dos grupos de pesquisa NAVI (Núcleo de Antropologia Visual e Estudos da Imagem)/UFSC, Poéticas do Urbano/UDESC e AIS (Análise da Imagem e do Som)/UFRB.
2. Ritmos e ressonâncias temporais do vazio urbano. Estudo antropológico sobre a memória coletiva e as formas de sociabilidade no contexto urbano de uma cidade brasileira.
Ana Paula Marcante Soares – Doutoranda do Programa de Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em estágio de doutorado na Universidade de Paris Descartes, em torno do Centro de Estudos sobre o Real e o Cotidiano. Bosista Capes/Brasil.
3. Da cidade global à outra cidade: um diálogo entre Marshall Mcluhan e Paul Virilio
Guilherme Soares dos Santos – Doutorando em Filosofia na Université de Paris 8 Vincennes Saint-Denis
16h30-17h30 Mesa redonda : A cidade e os corpos
1. Um corpo marcado de sentidos: A “Dança da Mochila” no metrô de Belleville
Isabel Cristina Vieira Coimbra Diniz – Doutoranda em Linguística na Universidade Federal de Minas Gerais. Em estágio de doutorado na Université de Paris 4 – Sorbonne. Bolsista Capes/Brasil.
2. A passagem do olhar para a visão: a percepção das paisagens urbanas na literatura do escritor Samuel Rawet e do escritor Gustave Flaubert.
Michel Mingote Ferreira de Azara – Doutoranda em Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais. Em estágio de doutorado na Université de Paris IV – Sorbonne. Bolsista Capes/Brasil.
17h30 – 19h00 Mesa redonda : A cidade enquanto texto
1. Fugit Amor
Maria Angélica Amâncio – Doutoranda da Universidade Federal de Minas Gerais, em estágio de doutorado na Université de Paris 7 – Diderot. Bolsista Capes/Brasil.
2. Da cidade (ao) texto: a literatura enquanto inquérito urbano e pessoal
Marina Silveira de Melo – Doutoranda en Literatura Geral e Comparada na Université Sorbonne Nouvelle Paris 3. Bolsista Capes/Brasil.
3. A Arte na cidade de hoje: um diálogo com a poesia urbana do século XIX.
Giovana Aparecida Zimermann – Doutoranda em Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina, em estágio de doutorado na Université Paris 7 Diderot. Bolsisa Capes/Brasil.
Mais informações: http://penserlaville.blogspot.fr/ ou diretor.cientifico@apebfr.org
Comunidade de pesquisadores tem nova diretoria
A Associação de Pesquisadores e Estudantes Brasileiros na França (APEB-Fr) divulgou o resultado das eleições para a sua nova diretoria, gestão junho-outubro de 2013. Composta por seis membros oriundos da UFSC, incluindo o presidente Vinicius Kauê Ferreira, reeleito para o segundo mandato, a nova direção se comprometeu com a comunidade de pesquisadores e estudantes brasileiros na França a dar continuidade ao tradicional Ciclo Apeb, realizado sempre às terças-feiras às 20 horas, na Maison du Brésil, além de outras atividades criadas recentemente, como o Café de Ideias. Abaixo a composição da diretoria eleita:
Presidente: Vinicius Kauê Ferreira. Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (2011); Mestrando em Antropologia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, bolsista do Conseil Régional d’Île-de-France.
Vice-presidente: Guilherme Soares dos Santos. Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2008); mestre em Filosofia pela Université Paris IV – Sorbonne (2010); doutorando em Filosofia pela Université Paris 8 Vincennes – Saint-Denis.
Diretor Financeiro: Leonardo Meirelles Ribeiro. Graduado em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (2007); mestre em Filosofia pela Université de Paris X, Nanterre (2007); doutorando em Filosofia na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Bolsista Capes.
Diretora Científica: Marina Silveira de Melo. Graduada em Letras Português e Francês pela Universidade Federal de Goiás (2007); Mestre em Letras e Linguística pela mesma universidade (2010); doutoranda em Literatura Geral e Comparada pela Université Sorbonne Nouvelle Paris 3; bolsista de doutorado Erasmus 2010-2012 e de doutorado pleno pela Capes.
Diretora Cultural: Giovana Aparecida Zimermann. Graduada em Desenho pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (1990); Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade pela Universidade Federal de Santa Catarina (2009); doutoranda em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina, com bolsa sanduíche Capes para estágio na Université Paris Diderot, Paris 7.
Diretor de Relações Institucionais: Fábio de Oliveira. Graduado Letras pela Universidade Federal de Sergipe (2007); Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (2010); Doutorando em Letras pela Universidade de São Paulo, em estágio como bolsista Capes/UFSC na Université Paris 8 Vincennes-Saint-Denis.
Vice-diretora de Relações Institucionais: Daniela Nienkötter Sardá. Graduada em Letras – Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Santa Catarina (2008); Mestre em Ciências da Linguagem pela Universidade Sorbonne-Nouvelle Paris 3 (2011); doutoranda em Ciências da Linguagem pela Universidade Paris Descartes Paris 5; bolsista de doutorado pleno no exterior da Capes.
Representante Regional Sul-Oeste: Daniela Novelli. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (UFSC), na área de Estudos de Gênero. Em estágio de Doutorado Sanduíche no Laboratoire Interdisciplinaire Solidarités, Sociétés, Territoires (LISST), Université de Toulouse 2. Bolsista Capes-Cofecub. Mestre em História do Tempo Presente (UDESC) e Bacharel em Moda: habilitação Estilismo (UDESC).
Diretora institucional – Brasil: Raquel Wandelli. Graduada em Jornalismo pela UFSC. Mestre em Literatura pela UFSC. Doutoranda em Literatura pela UFSC com estágio sanduíche na Université de Paris 3 (Sorbonne Nouvelle) como bolsista da Capes (outubro/2012 a fevereiro/2013).
Informações : Raquel Wandelli – raquelwandelli@yahoo.com.br