Pesquisadores do Laboratório de Hidráulica Marítima (Lahimar), da UFSC, lançam nesta quarta-feira, dia 28, ao largo da ilha, um ondógrafo direcional, equipamento utilizado para medir as ondas do mar. Eles embarcam no navio do Ibama que zarpa amanhã, bem cedinho, do cais do Cep-Sul, no porto de Itajaí, com destino ao sul da ilha, onde o equipamento vai ser instalado, há 80 metros de profundidade, cerca de 30 km ao largo da praia da Armação. O projeto, financiado pelo CNPq e Funcitec, vai beneficiar gente que tira do mar o próprio sustento. Pescadores e pessoas envolvidas em atividades esportivas, de trabalho ou lazer nas águas salgadas, como surfistas, vão ter acesso a informações precisas sobre o estado do mar.
O ondógrafo direcional serve para medir as ondas, permitindo aos estudiosos calcular e tornar de domínio popular informações como a altura, a direção das ondas e o período de maior energia das mesmas. Torna possível, também, identificar a presença de mais de um campo de onda, o que é chamado de “mar cruzado”.
É a primeira vez no Brasil que este tipo de serviço vai ser oferecido a toda a comunidade, sem qualquer custo, durante 24 horas todos os dias, como explica o professor Elói Melo, supervisor do Lahimar. Há sete anos na UFSC, o pesquisador, PhD em Ciências Oceânicas Aplicadas, veio transferido da UFRJ, do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe. Ele prevê que, dentro de um mês, vai estar disponível uma página na Internet, com informações, em tempo real, das condições do mar. Isso significa poder informar o que está ocorrendo em toda a costa sul e sudeste, com previsões que cobrem um período de tempo de até 72 horas.
Serviço comunitário
Nos próximos dias os pesquisadores pretendem conversar com as associações comunitárias de pescadores para ver o melhor modo de lhes oferecer o serviço. “Para quem não dispõe de Internet, a idéia é dar informações via rádio ou através de telefone, com mensagens gravadas. Queremos divulgar as informações de todas as formas possíveis, para cumprir a missão pública do projeto”, diz Elói.
José Henrique Alves, da equipe do Lahimar e PhD em Oceanografia Física, esclarece que o grupo envolvido nesse projeto, chamado de Programa de Informação Costeira (PIC), espera contar com a ajuda de quem usa o mar para manter o equipamento nas condições adequadas. Há, por parte dos pesquisadores, preocupação com eventuais atos de vandalismo ou ações prejudiciais ao ondógrafo. Atracar um barco nele, por exemplo, pode destruir o aparelho, avaliado em cerca de 40 mil dólares, e que a UFSC conseguiu por conta de um convênio com a Petrobrás, em 1996. “A gente vê aquela bolinha de aço e não imagina que é um computador flutuante, um instrumento de grande sofisticação tecnológica”, comenta o professor Elói. “Vamos depender de quem usa o mar para nos ajudar a mantê-lo preservado no mar. Qualquer pancada pode tornar imprestável o ondógrafo”, avisa.
A esfera de aço vai ficar flutuando no mar, presa por um sistema de cabos, permitindo medir o balanço do mar (as ondas). O ondógrafo direcional permite calcular mais de um campo de onda. Ele é dotado de censores eletrônicos,que medem a elevação e o deslocamento da superfície do mar. Um sistema de rádio registra os dados e, para garantir a chegada deles ao Lahimar, está está sendo instalada uma estação receptora,no Laboratório de Peixes de Água Doce, Biologia e Cultivo de Peixes (Lapad/UFSC), situado na Lagoa do Peri.
“O ondógrafo mede o tamanho das ondas, através do balanço que as mesmas provocam nele. Com isso, nós podemos analisar a informação básica e calcular, através de programas de computador, medições precisas de parâmetros oceanográficos”, explica José Henrique. A proposta é de, numa segunda etapa do projeto, também realizar a medição de águas rasas, o que vai permitir conhecer informações sobre o estado do mar ao largo da costa e não só em águas profundas.
Assumir vocação
O Lahimar atua no campo de uso e proteção de ambientes costeiros, e trabalha com hidráulica marítima, uma área da oceanografia física que estuda os processos físicos da água do mar. A expectativa da equipe é de que a UFSC possa assumir decididamente a sua vocação marítima. “Estamos imersos no ambiente costeiro, não temos como fugir dessa realidade”, diz Felipe Pimenta, mestre em Oceanografia Física e outro integrante do projeto.O grupo de estudiosos espera mais apoio institucional e da comunidade local para consolidar uma grande área de estudos oceanográficos.
“O projeto é apenas mais um passo na direção de realizar a vocação que a UFSC tem, naturalmente, para estudos do mar e ambientes costeiros,” diz o professor Elói Melo. “A região é um laboratório natural e um meio de vida de muita gente. Todo investimento em produção de conhecimento científico e técnico pode ser convertido para beneficiar a comunidade”, complementa José Henrique.
(Por Raquel Moysés)
Informações com os pesquisadores Elói Melo (331-9992) e José Henrique Alves (9115-5370)