Estudante da UFSC prepara livro sobre feijoada
A quantidade de água colocada na história do prato mais conhecido da culinária brasileira garantiu a existência de versões para todos os gostos. Tentando pinçar algo de sólido do meio desse caldeirão, Rafael Camargo Lopes apresentou o trabalho “Feijoada: importância histórica, identidade cultural” na 6ª Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFSC. Com alguns temperos a mais, a pesquisa do estudante da 8ª fase de administração está prestes a se tornar livro.
Responder sobre a origem da feijoada parece fácil – a maioria das pessoas tem até uma resposta na ponta da língua. Afinal, quem nunca ouviu falar que a feijoada nasceu nas senzalas e que os escravos a preparavam com as partes do porco rejeitadas pela Casa Grande? A versão romântica da iguaria nascida da necessidade, entretanto, é questionada pelo estudante. Na verdade, a feijoada teria sido adaptada de uma receita trazida pelos portugueses. Citando o historiador Rodrigo Elias, Lopes afirma que as partes salgadas do porco – como orelha, pés, e rabo – eram apreciadas na Europa e nunca foram consideradas restos pelos portugueses.
Essa versão mais conhecida teria sido criada a partir de uma experiência norte-americana análoga. Segundo o estudante, eram os escravos do sul dos Estados Unidos que consumiam um caldo à base de feijões e restos de porco. Diferente da nossa feijoada, os feijões desse caldo eram o verde e o fradinho, e as partes do porco utilizadas as bochechas, os pés e as tripas. A feijoada brasileira, diz Rafael, tem origens pré-colombianas.
No princípio era o cozido. Consumido em Portugal antes mesmo do descobrimento do Brasil, misturava em um caldo feijão branco, chouriças e carnes salgadas de porco. Trazida de além-mar, a receita sofreu adaptações para se adequar aos ingredientes locais e recebeu as imprescindíveis colaborações indígena e africana. Nascia o prato que Rafael afirma ser um dos maiores símbolos de nossa brasilidade. “A feijoada é a cara do Brasil. Ali tem a mistura de tudo, ela é a nossa identidade”, resume o estudante formado em Turismo – Habilitação Gastronomia na Unisul.
Bandeirantes, vaqueiros e militares levaram o consumo do feijão, da carne-seca e da farinha de mandioca para todos os cantos do País. “A feijoada foi a resposta brasileira às dificuldades e adversidades encontradas neste território”, diz Rafael. Como a nação que representa, a feijoada também possui uma unidade heterogênea que “aceita, com muito respeito, as variações regionais, adaptando seu paladar às diferentes necessidades e disponibilidades”.
Os diferentes sabores da feijoada estarão presentes no livro de Lopes. O volume, ainda sem editora, vai misturar receitas e histórias em uma edição bastante ilustrada. “Um livro leve”, diz o estudante – mesmo que o tema seja um pouco pesado.
Mais informações: Rafael Camargo Lopes – rafaelcamargolopes@terra.com.br 47 9924 1063
Por Daniel Ludwich / Bolsista de Jornalismo na Agecom