Final de semestre, excesso de atividades e tensão: saiba o que é o doping cognitivo
No livro Flores para Algernon, Charlie Gordon é um homem ingênuo e com sérias limitações intelectuais – até passar por um experimento, uma cirurgia revolucionária, que faz com que sua vida mude dramática e drasticamente. Charlie se torna mais inteligente do que os próprios médicos que o operaram, mudando completamente a sua percepção do mundo.
A obra de ficção científica de Daniel Keyes é de 1966, mas não está muito distante do que milhares de pessoas parecem buscar quando o assunto é melhorar a performance cerebral. Nootrópicos ou fármacos largamente difundidos para o tratamento de doenças psíquicas estão entre as promessas da indústria para ajudar o cérebro a trabalhar melhor, mais rápido e com mais intensidade.
Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Santa Catarina em 2020 descobriu que 16,7% dos estudantes de graduação e pós-graduação entrevistados utilizavam substâncias por acreditar que elas ajudam a estudar. Doping cognitivo ou psiquiatria cosmética são alguns dos termos utilizados para designar um fenômeno ainda pouco estudado pela ciência e cujas consequências também são desconhecidas.
De acordo com o professor do departamento de Farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina, Tadeu Lemos, essas drogas são referidas como drogas da inteligência e potencializadores cognitivos. Os nootrópicos – termo usado pela primeira vez em 1972 – atuam sobre o sistema nervoso central e, em tese, não devem ser tóxicos e tem baixa incidência de efeitos colaterais.
Essa classe de produtos tem sido cada vez mais usada por indivíduos saudáveis. Justamente por conta da ausência de efeitos colaterais e dos níveis de toxicidade, expandem-se entre usuários que buscam aumentar a capacidade cognitiva. É o caso do jornalista Fábio Almeida, que começou a utilizar o Noopept em 2019. De acordo com a descrição do produto, trata-se de um dipeptídeo sintetizado como um análogo do piracetam, enquadrado na categoria de medicamentos prescritos utilizados para tratamento de Transtorno do Déficit de Atenção e da hiperatividade. A promessa é de que tenha ação superior e imediata na cognição .
A descrição sugere ainda que, apesar de apresentar efeitos e mecanismo de ação semelhante ao piracetam, o Noopept é estruturalmente diferente e apresenta rápido resultado no sistema nervoso central. Um trabalho de conclusão de curso defendido na UFSC trata o piracetam como fármaco pioneiro desta classe única de drogas que afetam a função mental.
“Estudos demonstram que o fármaco melhora a eficiência das funções telencefálicas superiores do cérebro envolvidas em processos cognitivos, como aprendizado e memória”, explica a pesquisa. “Concomitantemente, mesmo em dosagens relativamente altas, é desprovida de qualquer atividade sedativa, analéptica ou autonômica”.
Fábio começou a utilizar o Noopept com acompanhamento. Seu primeiro contato com o fármaco foi em uma pesquisa realizada para um trabalho, em que identificou uma reportagem que comentava os efeitos positivos e negativos do uso. Depois, recorreu ao médico, que receitou uma opção que não funcionou. “Na minha primeira tentativa eu não senti alteração nenhuma, era como se não tivesse tomado nada”, conta. Mas na segunda tentativa as coisas mudaram.
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Amanda Miranda, Jornalista da Agecom/UFSC