Prêmio Valorização da Biodiversidade de Santa Catarina reconhece trabalho com a goiabeira serrana

06/12/2010 10:51
A pesquisadora em campo

A pesquisadora em campo

Uma pesquisa sobre o uso e manejo da goiabeira serrana nos municípios de São Joaquim, Urubici e Urupema ganhou o Prêmio Valorização da Biodiversidade de Santa Catarina, proposto pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado (Fapesc). O estudo foi desenvolvido por Karine Louise dos Santos, durante seu doutorado no Programa de Pós-Graduação e Recursos Genéticos Vegetais pela UFSC. Karine venceu na Categoria Roberto Miguel Klein, como pesquisadora. Troféu e certificado serão recebidos na abertura do I Seminário de Valorização da Biodiversidade Vegetal de Santa Catarina, nesta terça-feira, 7 de dezembro, a partir de 9h, no auditório da Epagri de Florianópolis.

A goiabeira serrana ou feijoa é uma pequena árvore nativa do sul do Brasil e norte do Uruguai. Pouco conhecida, é muitas vezes considerada fruta exótica no país, mas sua distribuição coincide com a Floresta de Araucária. O trabalho premiado leva em conta que a goiabeira serrana tem potencial para o cultivo de frutos por pequenos agricultores, oferecendo um produto florestal não madeireiro e colaborando com a conservação da floresta.

“O objetivo do estudo foi descrever o atual conhecimento tradicional e uso da goiabeira serrana mantido e praticado por residentes em comunidade rurais do sul do Brasil, com a finalidade de propor estratégias participativas para o uso e conservação dessa espécie”, explica Karine.

Uma nova opção para a economia local
Em seu doutorado a agrônoma adotou abordagens etnobotânicas para descrever o uso e manejo da goiabeira serrana em São Joaquim, Urubici e Urupema. Localizados na região sul de Santa Catarina, caracterizada por planaltos de quase 500 metros de elevação, e por relevos montanhosos com aproximadamente 1600, esses municípios foram selecionados porque possuem fragmentos da Floresta de Araucária onde ocorre a goiabeira serrana.

Karine contextualiza a região lembrando que durante muitas décadas a base da economia agrícola local foi a criação de gado. Depois dos anos de 1940, a exploração da madeira cresceu em importância, gerando na década de 1970 uma redução drástica das florestas. Atualmente é frequente a produção comercial de frutas, principalmente maçãs. Os remanescentes florestais estão confinados a áreas marginais nas encostas dos morros.

“Recente desenvolvimento em atividades de turismo rural e produção orgânica de frutas está ajudando a diversificar a economia, mas as comunidades em geral são dependentes de renda sazonal, o que leva a um empobrecimento da região, como demonstra o baixo Índice de Desenvolvimento Humano”, lembra a agrônoma que fez entrevistas com os agricultores e também acompanhou suas atividades de manejo da goiabeira serrana, preparação de alimentos, bebidas e degustação de frutas.

Conhecimento tradicional
Cinquenta e seis unidades familiares de informantes foram visitadas e organizadas nos subgrupos mantenedores,  manejadores, cultivadores e usuários. As respostas mostram diversidade de uso da goiabeira serrana. Apenas dois participantes disseram que usam a espécie exclusivamente para consumo in natura dos frutos. Os outros citaram outros 12 diferentes usos, incluindo medicinal, especialmente em casos relacionados a distúrbios do sistema digestivo, doces e confeitaria, bebidas alcoólicas suco, consumo de pétalas, lenha, ferramentas, moirões, artesanato e isca para a mosca que ataca as frutas da goiabeira serrana.

No entanto, somente sete dos 56 informantes têm gerado renda a partir da produção de mudas, venda de frutos ou produtos processados, e apenas um pequeno número de manejadores tem algum conhecimento mais aprimorado sobre a produção de frutas. Entre aqueles que utilizam técnicas específicas de agricultura no plantio da goiabeira,  apenas cinco seguem o guia da Epagri, sugerindo que a maioria dos entrevistados é guiada por suas experiências.

Segundo Karine, o conhecimento mantido nas comunidades rurais indica que a goiabeira serrana pode ter um papel na ampliação da economia local e na conservação da biodiversidade. “Uma participação efetiva dos institutos de extensão rural poderia estimular o interesse no cultivo da goiabeira serrana e de outras espécies nativas, além de promovê-las como fontes de renda”, defende Karine, que atua na Epagri de São Joaquim e vê a pesquisa colaborativa como um caminho para incluir os agricultores no desenvolvimento de programas direcionados à manutenção da diversidade genética e do conhecimento tradicional.

O doutorado de Karine foi defendido em 2009 e teve orientação do professor Rubens Onofre Nodari, do Departamento de Fitotecnia da UFSC. O estudo recebeu apoio financeiro do CNPq.

Mais informações com Karine Louise dos Santos / E-mail: karinesantos@epagri.sc.gov.br

Por Arley Reis (jornaista da Agecom) e Cláudia Mebs (Bolsista de Jornalismo na Agecom)

Saiba Mais:

Uso
Nas respostas os usos mais frequentes citados pelos agricultores foram o medicinal (relacionado ao sistema digestivo) e como doce.

Habitat
Os agricultores participantes citaram seis ambientes onde a goiabeira serrana ocorre. Floresta (mata) e mata ciliar (beira de rio) foram os mais frequentes. Na opinião dos entrevistados a maior frequência de plantas perto de rios ou dentro da floresta está relacionada ao fato de que os animais que consomem os frutos (como pássaros, gado) também procuram por sombra e água e depositam as sementes nestas áreas. Os agricultores também indicaram que a goiabeira serrana é mais comum em áreas de mata conservadas de difícil acesso.

Manejo
Dezesseis informantes disseram que ocasionalmente adaptam práticas agrícolas na goiabeira serrana com base nas recomendadas para outras espécies de fruteiras, mas apenas cinco deles têm usado com frequência. Atividades como o raleio de frutos foi mencionado por 12 informantes, mas somente seis praticam essa ação para obter frutos maiores e apenas quatro informantes usam regularmente fertilizantes químicos ou orgânicos para aumentar a produção.

Orientações
Entre os informantes que fazem uso de práticas agrícolas ou de atividades de manejo, somente cinco receberam orientações da Epagri, sugerindo que a maioria maneja a goiabeira serrana por sua experiência.

Mudas
Mudas são usualmente coletadas na mata para transplante durante o mesmo período da colheita dos frutos, porque de acordo com os informantes é possível identificar as melhores plantas com base em seus frutos. Trinta por cento dos entrevistados coletam mudas saudáveis e bem formadas próximas das plantas identificadas como tendo frutos de bom tamanho e sabor.

Sementes
Alguns agricultores também guardam sementes de frutos selecionados pra a propagação no fim do inverno (agosto – setembro). Em alguns casos o plantio é feito ainda em maio, mesmo sem a separação das sementes da polpa. De acordo com os entrevistados, a taxa de germinação das sementes é frequentemente acima de 90% nos dois casos.

Redução das plantas
Quando questionados sobre o número de plantas de goiabeira serrana ao longo do tempo, 44.6% mostraram-se preocupados com o declínio na abundância das árvores e frutas, e usualmente citavam com base de sua preocupação a contínua perda da floresta e a constante pressão do gado sobre as áreas em regeneração.

O prêmio Prêmio Valorização da Biodiversidade de Santa Catarina
Será entreguenesta  terça-feira, 7 de dezembro, a partir de 9h, durante a na abertura do I Seminário de Valorização da Biodiversidade Vegetal de Santa Catarina.

Saiba mais:

Os premiados:
– Categoria Roberto M. Klein
Aluno – Elaine Zuchiwschi
Professor/pesquisador – Karine Louise dos Santos
Jornalista – Arley Reis

– Categoria Raulino Reitz
Aluno – Sinara Colonetti
Professor/pesquisador – Sheila Mafra Ghoddosi

– Categoria Burle Marx
Jornalista – Débora Luiza Volpi

Mais informações sobre o prêmio podem ser obtidas com Márcia Hoeltgebaum (3215-1210 ou 8843-3274) ou Zenório Piana (3215-1227), na Fapesc.