Na mídia: Novo hóspede no campus da UFSC

22/02/2010 09:16

– Quando criança eu fazia espantalhos para afugentar os pássaros do arrozeiro onde eu morava, em São João Batista. Lá, no meio do bambuzal, eu vi uma bola de fogo brilhando no meio do mato. Não consegui identificar o que era, aí eu corri. Só depois fui saber que aquilo era o que chamavam de Boitatá. A experiência que o artista Laércio Luiz descreve com bom humor pode parecer surreal. E surreal e ambicioso foi o seu projeto de recriar um dos maiores mitos do folclore nacional, com restos de ferros da Ponte Hercílio Luz.

Boitatá Incandescente é o nome da escultura de 15 metros de altura e quase duas toneladas que agora integra a paisagem do Campus da UFSC, em Florianópolis, parte de um projeto de humanização da universidade.

A obra ainda está em fase de finalização e a inauguração está marcada só para 25 de março, mas já enche os olhos de quem passa pelo local, com suas formas arredondadas, asas abertas e um círculo vermelho de LEDs que brilha à noite, para dar a sensação de fogo.

– É uma obra meio andrógina, uma homenagem a Franklin Cascaes, que criou este ser lúdico. A partir do Boitatá do Franklin eu criei o meu próprio, uma mistura do velho com o novo, meio cobra, boi e lagarto. Algo contemporâneo, tecnológico, high tech – enfatiza Laércio, que colocará duas câmeras no alto da escultura que estarão ligadas ao site da UFSC.

O projeto foi fechado para ser sediado na universidade há um ano e, desde então, uma série de ideias foram sendo criadas e incorporadas para dar forma ao local que abriga a escultura. O que era somente um lago que passava despercebido por quem andava pelo Campus, foi transformado em um belo ambiente que está em fase de finalização.

Aos pés da escultura, uma infraestrutura está sendo montada, com água até os pés do Boitatá e um chafariz ao centro do lago. Um mosaico de azulejos com vários boitatás será montado do lado oposto da escultura. E um processo de paisagismo, luzes ambientais e peixes no lago vão implementar o projeto que levará o nome de Praça Franklin Cascaes.

– Vai ficar lindo. Será um ponto turístico a mais para a cidade. No dia da inauguração haverá apresentação folclórica e vamos exibir um vídeo mostrando o processo de construção da obra – conta a produtora de Laércio, Lourcley Silvestre.

Equilibrar a escultura foi a etapa mais complicada

Para colocar o projeto em prática, Laércio contou com a ajuda dos Engenheiros da UFSC e de incentivos do Funcultural de 2009 e da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.

Os pés do Boitatá foram construídos a partir de cinco vigas de ferro da Ponte Hercílio Luz, material doado pelo governo do Estado.

– O mais difícil foi dar o equilíbrio para algo tão grande e essa sensação de que ele está em movimento e entrando na água – afirma Laércio.

Foram inúmeros os utensílios usados para dar forma à obra: solda, maçarico, cortadeira, calandragem… E não é primeira vez que faz um Boitatá. Ele conta que tem vários menores em casa, feitos derretendo as panelas de ferro que ganhou de seus avós.

Laércio se considera um artista eclético. Pinta, esculpe, faz intervenções urbanas, instalações, já ganhou vários prêmios, realizou exposições no Brasil e no exterior, fez cursos, revitalizações e conta que esse apelo artístico vem desde muito cedo:

– Por volta dos 12 anos fiquei um ano em coma, por causa de meningite. Foi aí que entrei em contato com a arte conhecendo o trabalho de artistas como Rembrandt e Van Gogh – lembra ele, que decidiu enveredar pela arte aos 18 anos, quando venceu um concurso em Joinville.

Fonte: Diário Catarinense