Falece Guilherme Bittencourt, docente da UFSC referência na área de Inteligência Artificial

27/04/2009 14:45

Faleceu nesta segunda-feira (27), por volta de 5 horas, Guilherme Bittencourt, que desde 1998 atuava como professor no Departamento de Automação e Sistemas da UFSC. O docente estava internado desde a última quarta-feira no Hospital de Caridade. Não haverá velório. O corpo será cremado em Balneário Camboriú, às 15 horas desta terça-feira, dia 28, com cerimônia aberta. Bittencourt estava aposentado desde fevereiro de 2008. Desde 2004 lutava contra um câncer.

Formado em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1981), e em Eletrônica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1979), fez mestrado em Computação Aplicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (1984) e doutorado em Informática pela Universität Karlsruhe (1990), na Alemanha.

Atuava principalmente nas áreas de inteligência artificial, sistemas multiagentes, lógica, sistemas especialistas e sistemas tutores inteligentes. Escreveu um dos primeiros livros sobre o assunto no Brasil (Inteligência Artificial – Ferramentas e Teorias), que é utilizado como livro-texto em várias universidades brasileiras. Em 1999, graças a este livro, foi agraciado com o Troféu ´Boi de Mamão`, prêmio oferecido pela Câmara Catarinense do Livro.

Em 2008 recebeu o Prêmio Mérito Científico em Inteligência Artificial, durante o Simpósio Brasileiro de Inteligência Artificial. Em 2000 conquistou o ´Best Paper of the Paper Track`, no XV Simpósio Brasileiro de Inteligência Artificial (SBIA`2000) e VII Congresso Ibero-Americano de Inteligência Artificial (IBERAMIA`2000). Em 1996, no primeiro semestre, foi ´nome de turma` dos formandos em Engenharia de Controle e Automação Industrial da UFSC. No segundo semestre do mesmo ano foi professor homenageado pelos formandos. Publicou 69 trabalhos completos em anais de congressos.

Leia mais em depoimento de docentes amigos:

Augusto Loureiro da Costa – UFBA (Coordenador da CEIA)

Frederico Freitas – UFPE

Evandro de Barros Costa – UFAL

Jerusa Marchi – UFSC

Jaime Simão Sichman – USP

– O professor Guilherme era um dos mais antigos pesquisadores em IA ainda em atividade, apesar de ter sido compulsoriamente aposentado por motivo de saúde. Detentor de uma formação vasta, tendo concluído dois cursos de graduação (bacharelado em física e engenharia eletrônica), e dois mestrados (Computação Aplicada no INPE, São José dos Campos, SP e Diplome D’etudes Approfondies en Informatique, Laboratoire d’Informatique Fondamentale et d’Intelligence Artificielle no Institut National Polytechnique de Grenoble, França).

– Sempre foi, ao longo de sua extensa e brilhante carreira, um cientista prolífico em publicações; prova disto é que, até o ano de 2006, enquanto estava ainda em plena atividade e com a saúde em boas condições, o professor Guilherme era Pesquisador Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq – Nível 1D, tendo publicado em vários periódicos de circulação internacional e conferências de renome, além de, por duas vezes, ter publicado na trilha

principal do IJCAI, provavelmente um feito inédito entre pesquisadores brasileiros.

Ensino e formação de estudantes e docentes:

– Além das publicações de artigos, duas de suas preocupações permanentes eram o ensino e a formação de pesquisadores e estudantes no Brasil. Por isso, ainda no começo de sua carreira, publicou artigos que propunham formas de melhor ensinar algumas disciplinas, em especial teoria da computação e lógica.

– Mas, sua maior preocupação era o ensino da própria disciplina de

Inteligência Artificial no Brasil. Escreveu um dos primeiros livros sobre o assunto no país, “Inteligência Artificial – Ferramentas e Teorias”, que foi e é utilizado como livro-texto em várias universidades brasileiras, em especial na parte de Representação de Conhecimento, onde fornece uma base sólida aos leitores e estudantes. Este livro é bastante elogiado por alunos em listas de discussões e, não por acaso, o seu autor, graças a este

livro, foi, com justiça, agraciado com o Troféu “Boi de Mamão” em 1999, prêmio oferecido pela Câmara Catarinense do Livro.

– Professor Guilherme nunca foi egoísta com seus conhecimentos. Formou ao longo de sua carreira como orientador 22 mestres e 9 doutores, além de ter contribuído indiretamente na formação de muitos outros pesquisadores, julgou 49 bancas de mestrado e 23 de doutorado. Muitos pesquisadores da área de Inteligência Artificial, em especial os mais antigos, que passaram por seu crivo como

orientandos ou candidatos a mestres e doutores, hoje ocupam posições

destacadas em suas instituições e na pesquisa brasileira da área.

Organização e interação com a área de IA no Brasil:

– Professor Guilherme participou da criação dos eventos de Inteligência Artificial no Brasil, o SBIA e o ENIA. Em suas prateleiras encontram-se os anais de quase todas, senão todas, as edições do SBIA, desde meados dos anos 80.

– Dirigiu o comitê de programa do SBIA em duas edições (1991 e 2002), o que denota o respeito da comunidade para com o seu nome, pesquisa e publicações.

– Publicou em todas ou quase todas as edições do evento. Na edição de 2000, em que o SBIA realizou-se em conjunto com o IBERAMIA, tornando-se, portanto, mais competitivo, ganhou o prêmio de Melhor Artigo de todo o evento.

– É, portanto, um membro ativo e participante da comunidade de IA no Brasil, comparecendo aos eventos em que se discutem pesquisas, políticas para a área, ensino e formação de pesquisadores.

Pesquisa:

– Sua pesquisa na área de Inteligência Artificial é vasta e abrangente. Embora sua área principal de concentração seja Representação de Conhecimento, pouquíssimos pesquisadores brasileiros (talvez nenhum) podem reivindicar para si a autoria de artigos relevantes em tantas áreas e tópicos tão diversos. O

professor Guilherme publicou artigos em tópicos como lógica, lógica fuzzy, lógicas possibilistas, lógicas multivaloradas, modelos de cognição, sistemas especialistas, revisão de crenças, sistemas de regras de produção, agentes, aprendizado de máquina, algoritmos genéticos, programação genética, redes de Petri, tutores inteligentes, robótica, sistemas embarcados, controle,

comunicação e estratégias de cooperação em sistemas multiagentes, sistemas híbridos de diversas formas, redes neurais.

– Muito contribuiu ainda na interação com centros de pesquisa qualificados, tanto brasileiros quanto europeus. Coordenou 10 projetos de pesquisa, dos quais dois com a França e um com a Alemanha. Estes projetos internacionais propiciaram a estudantes seus e de seus parceiros a experiência de intercâmbio com as excelentes universidades européias de Karlsruhe (Alemanha) e Paul Sabatier (Toulouse, França), além do renomado INRIA (Institut National de Recherche en Informatique et en Automatique), em Grenoble, França. É, portanto, um pesquisador de reputação reconhecida internacionalmente.

– Vários órgãos de fomento à pesquisa reconheceram seu mérito cientifico e experiência como líder de projetos de pesquisa científica. Trabalhou como Consultor “ad-hoc”para Fundações de Amparo à Pesquisa dos Estados do Espirito Santo, São Paulo e Alagoas, além da Capes e do Cnpq.

Amizades sólidas e duradouras

– Guilherme era muito querido pela comunidade de IA. Seu espírito tranqüilo e conciliador angariaram-lhe esta simpatia, gozando de excelente conceito entre seus pares. Nunca ouvimos falar de intrigas ou desentendimentos que tenha tido ao longo de sua carreira como pesquisador; ao contrário, possui amizades sólidas e duradouras com pesquisadores de IA das mais variadas matizes e correntes científicas, algumas delas com décadas de duração e largo histórico de cooperação.

– Não obstante ser visto como um pesquisador respeitado, sua humildade e espírito fraterno chamavam a atenção. Vestindo-se com uma simplicidade que, de maneira alguma, coaduna com o alto nível de seus conhecimentos e ensinamentos, recebia com a mesma boa vontade alunos iniciantes e pesquisadores calejados ou renomados, dedicando igual atenção e tempo a uns e outros, e a todos distribuia um sorriso alegre de boas-vindas, que já ajuda a tornar a palestra mais agradável.

– Outras grandes qualidades suas eram o altruísmo e generosidade. Apesar de ter sido compulsoriamente aposentado por motivo de saúde, continuava ministrando cursos no DAS-UFSC e orientando alunos de pós-graduação sem receber por estas atividades.

– Suas palestras e aulas sempre causaram excelente impressão e constituíram momentos de extremo deleite para seus ouvintes, sejam estudantes ou pesquisadores. Isso se deve a sua extensa cultura e formação, além de uma curiosidade incessante em adquirir conhecimentos novos com profundidade. Em suas palestras, discorria com naturalidade sobre inteligência artificial e suas complexas e enoveladas relações com várias outras ciências, tais como filosofia, psicologia cognitiva, teorias de personalidade e cognição, lingüística, física quântica, matemática, evolução e teorias evolutivas. A tranqüila propriedade e desenvoltura com que abordava estes assuntos tão variados encantava suas platéias.