Trote solidário defende integração sem violência

Trote da Engenharia Sanitária colaborou com o meio ambiente
O pedir é acompanhado por expressões alegres. Os sorrisos, no entanto, são enigmas. Quem conquista uma vaga na UFSC comemora sorrindo mas, coincidentemente, uma das reações ao constrangimento também é sorrir.
Proibido no campus da UFSC desde 1997, o trote sujo ainda é praticado por estudantes que entendem o ato como “confraternização”. Levando em conta a necessidade de veteranos e calouros se entrosarem, mas pensando também que a humilhação não deve fazer parte desse momento, a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), junto com o Banco do Brasil, criou, em 2005, o Trote Solidário.
O objetivo do programa, de acordo com a pró-reitora Corina Espíndola, é “inibir o constrangimento e incitar a acolhida dos novos alunos, buscando fazer desse ritual algo voltado ao social”. A PRAE apóia financeiramente os Centros Acadêmicos que se inscrevem no programa e promove a escolha de três trotes, que recebem prêmios em dinheiro – o primeiro lugar é de R$ 1500, o segundo, de R$ 750 e o terceiro, de R$ 500.
Em dois anos, o Trote Solidário já foi adotado por vários cursos, dentre eles Administração, Medicina, Letras, Arquitetura e Urbanismo, Serviço Social, Pedagogia, Geografia e as Engenharias. E as atividades englobam de tudo: visita ao Hospital Universitário e distribuição de rosas aos pacientes, gincanas de arrecadação de alimentos destinados a instituições carentes, contação de histórias a crianças, dar banho e carinhos aos animais do Canil da Prefeitura, plantar árvores, doar sangue.
Corina enfatiza que trotes sujos ainda são feitos, mas que a UFSC não tem como coibir algo que acontece fora de seus limites, como as ruas próximas à instituição. “É importante que as responsabilidades fiquem bem definidas, através da criação de comissões de alunos que aplicam os trotes”. A pró-reitora entende que o desafio é modificar a tradição que envolve o trote sem, no entanto, extinguir o ritual. “Quando nos propomos a receber os novos alunos precisamos pensar que estamos lidando com pessoas que não conhecemos, com vivências e especificidades diversas, e as marcas dessa prática podem ficar para o resto da vida”.
Os chamados trotes sujos estão revertendo em constantes manifestações da comunidade, como a do jornalista Mário Xavier, que classificou a situação desses alunos como vergonhosa e disse que vai acionar a Ouvidoria da UFSC.
Sorrisos são lembranças que serão guardadas por muito tempo para os alunos do curso de Pedagogia. A acolhida dos calouros nesse semestre foi feita por crianças do Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI) da UFSC, incumbidas de pintar o rosto dos novos estudantes. Calouros e veteranos, então, passaram a tarde brincando com meninos e meninas, razão maior de terem escolhido o caminho que os trouxe até a universidade. Os sorrisos, dessa vez, tiveram as marcas da cidadania.
Por Claudia Reis/ jornalista da Agecom
Foto: Jéssica Lipinski