Pastoreio Voisin da UFSC mostra as vantagens de um manejo racional dos pastos

17/05/2007 12:02

“Não quero ser garçom de vaca!” Esta é uma reação comum a muitos agricultores quando apresentados ao método do Pastoreio Voisin. Depois de alguma conversa, entretanto, a maioria deles consegue realmente enxergar as vantagens proporcionadas por um manejo racional dos pastos. Quem conta essa e outras histórias são os integrantes do Grupo de Pastoreio Voisin (GPVoisin), do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da UFSC, que mostram um pouco do trabalho desenvolvido na 6ª Semana de Pesquisa e Extensão (Sepex).

Criado em 1998, o GPVoisin atua como um grupo de extensão e pesquisa que tem como objetivo viabilizar a implantação de projetos de produção animal agroecológica em pequenas propriedades familiares. Formado por 16 alunos do curso de Agronomia da UFSC, sob a coordenação do professor Abdon Schmitt, o grupo já prestou assessoria para 586 propriedades rurais de Santa Catarina. O método de pastoreio proposto pelo grupo foi elaborado pelo cientista, agricultor, bioquímico e professor francês André Voisin.

A base do sistema – denominado de Pastoreio Voisin – é a divisão da área de pastagens através de piquetes. Uma vez por dia os animais saem de uma parcela pastoreada e são conduzidos para uma nova, de pasto fresco e odor agradável. O tempo de repouso concedido aos piquetes proporciona às plantas condições para que possam crescer, sem interrupções ou agressões, até que atinjam um novo ponto de corte. Os animais, por sua vez, consomem uma quantidade maior de um pasto com melhor qualidade.

As evidentes melhoras na produção são o melhor argumento em prol do Pastoreio Voisin. Mesmo assim, muitos agricultores ainda recebem o grupo com um certo receio. Por isso, antes da visita do GPVoisin, os agricultores passam por um processo de sensibilização. Um grupo de técnicos – que podem ser da Epagri, de ONG’s, de cooperativas, de prefeituras – organiza um encontro com os interessados e explica as etapas e benefícios do processo. De acordo com Fabian Busnardo, coordenador executivo do grupo, a sensibilização dos agricultores é uma etapa fundamental do trabalho. “É importante que eles entendam como funciona o processo e vejam que ele realmente pode ser adaptado às condições particulares das suas pastagens.”A sensibilização mais forte, porém, é feita quando os próprios agricultores vêem o sistema de pastoreio Voisin já funcionando em outras propriedades.

Depois do convencimento, o GPVoisin inicia o seu trabalho de campo. Nesta primeira etapa são feitas a medição e a análise sócio-econômica da propriedade. De volta a Florianópolis, o grupo confecciona dois mapas – um do estado atual da propriedade e outro já com a divisão dos piquetes, corredores e parte hidráulica – e, cerca de 15 dias após a primeira visita, retorna à propriedade. É feito, então, o balizamento e a demarcação de onde vão ficar os piquetes.

Nesta segunda visita, o grupo também constrói o piquete escola para que o agricultor aprenda como construir os outros. Em todo este processo é importante destacar a presença do técnico, que é quem vai dar continuidade ao trabalho iniciado pelo GPVoisin. Esta, aliás, é uma característica do projeto destacada por Busnardo. “O projeto não educa apenas estudantes. Ele também contribui para a capacitação de técnicos e agricultores”.

A participação dos estudantes se encerra com a confecção de um mapa definitivo. O sucesso do projeto vai depender, então, de dois fatores externos ao grupo: o proprietário rural – que nem sempre possui condições financeiras para promover uma implantação total ou imediata – e o técnico – que será responsável por continuar o trabalho do grupo. Não há uma estatística oficial de quantos dos 586 projetos iniciados foram totalmente implementados, mas Busnardo afirma que – “pela conversa com os técnicos e agricultores que nós reencontramos” – os resultados são animadores. O GPVoisin está apresentando o seu trabalho no estande 17 da 6ª Sepex.

Dois lados

César Buss, coordenador técnico da equipe, tem uma visão singular sobre o Pastoreio Voisin. Filho de agricultores, o estudante de 25 anos teve o seu primeiro contato com o grupo cerca de um ano antes de entrar para a faculdade. Lembra da empolgação que sentiu quando o GPVoisin chegou à propriedade de seu pai, em São Bonifácio. “Eu acompanhei a medição, eles me falaram como funcionava e eu fiquei bem entusiasmado. Dar um descanso para a pastagem era uma coisa que me parecia bem lógica.”

O interesse inicial, no entanto, não foi o suficiente para aproximar César do grupo. E não era por falta de convite. Jailso Epping, colega de curso e amigo dos tempos de São Bonifácio, insistia para que o estudante entrasse no GPVoisin. “Ele me convidou várias vezes para participar do Grupo, mas eu sempre ficava com um pé atrás, achava que podia atrapalhar a minha faculdade.” A insistência, porém, acabou funcionando. Quando estava na 3ª fase, e já um pouco desanimado com o curso de Agronomia, César se juntou ao projeto. “Depois que comecei a viajar com o grupo é que eu comecei a vivenciar realmente o que é ser agrônomo. Com isso, eu passei a gostar ainda mais de Agronomia e hoje eu não me vejo fazendo outra coisa.”

Em relação aos colegas, César afirma ter uma facilidade maior para se comunicar com os agricultores. “Eu falo mais a linguagem deles, acho que eu consigo transmitir mais fácil para eles a forma como as coisas funcionam.” O estudante só não encontra essa mesma facilidade quando se trata de convencer um agricultor em especial – o próprio pai. “O meu pai tem o projeto lá desde 2001 e até agora só tem 10% do projeto implantado.”César acredita, contudo, que as resistências estão caindo com o tempo. “Devagarzinho ele está se adaptando ao projeto”.

Assim como a maioria dos estudantes formados que passaram pelo grupo, o aluno da 10ª fase pretende continuar trabalhando com Pastoreio Voisin. “A proposta inicialmente é trabalhar com consultoria e implantação de projetos”, revela. Depois de reunir algum capital, porém, os planos são de investir na propriedade familiar. “A propriedade tem 47 hectares e grande parte ainda é mato. Tem uma área lá que dá pra explorar bem, fazer pastagens… O que tu pensar dá pra fazer na propriedade. E é lá que eu quero investir.”

Mais informações sobre o Grupo de Pastoreio Voisin:

GPVoisin – 3334-3176 – gpvoisin@cca.ufsc.br ou voisin@cca.ufsc.br

http://www.gpvoisin.ufsc.br

Mais informações sobre Pastoreio Voisin:

http://www.planetaorganico.com.br/voisin1.htm

http://www.planetaorganico.com.br/voisin2.htm

http://www.planetaorganico.com.br/voisin3.htm

Por Daniel Ludwich/bolsista de Jornalismo na Agecom