Na próxima segunda-feira, dia 30, às 15h, acontecerá o primeiro entre vários eventos que serão realizados em comemoração aos 30 anos do Curso de Jornalismo da UFSC. Será uma aula inaugural ministrada por quatro convidados que tiveram participação ativa na criação e no desenvolvimento da graduação: Paulo José da Cunha Brito, César Valente, Moacir Pereira e Maria Elena Hermosilla.
Os profissionais abordarão sua trajetória e como enxergam a formação do curso superior e do mercado de trabalho. A aula será realizada no auditório do Centro de Comunicação e Expressão (CCE).
“O evento está aberto não só aos atuais alunos do curso, mas também a todos que por aqui passaram”, diz o coordenador do curso, Áureo Moraes. A coordenadoria do curso e a chefia do departamento de Jornalismo estão também preparando um vídeo e um livro, que trarão depoimentos de fundadores, ex-alunos e professores.
Mais informações com o professor Áureo Moraes, coordenador do curso, pelos fones (48) 3721-6597 e 9621-9552 ou pelo e-mail aureo@cce.ufsc.br.
Um pouco de história
O Curso de Jornalismo da UFSC é o mais antigo de Santa Catarina. Nasceu em 8 de março de 1979, durante a ditadura, sob um regime em que alunos e professores tinham igualdade de direitos de decisão.
Segundo seu primeiro coordenador, professor Moacir Pereira, o lema era “liberdade, consciência crítica e responsabilidade”. Os primeiros anos foram de intensa participação na vida política do Estado. Mas quando a primeira turma se formou, em 1982, foram observadas deficiências do ponto de vista técnico e científica. O curso funcionava com espaço físico reduzido, tinha poucos equipamentos e quase nenhuma estrutura laboratorial.
Em 1984 constatou-se a inviabilidade de um projeto estritamente político e muitos professores deixaram a universidade. O curso, que se tornara conhecido nacionalmente como inovador, viveu um período de desânimo.
A reconstrução começou em 1988, sem que a formação política fosse descartada, mas com cuidado para que não se sobrepujasse às outras. “Em matéria de jornalismo, competência técnica e espírito crítico têm que ser a mesma coisa”. Com base neste lema, em 1991 foi implantado o projeto Universidade Aberta, que hoje já não existe mais. Inicialmente era um programa de rádio, feito por alunos bolsistas supervisionados pelos professores, cobrindo as notícias da UFSC.
O projeto se expandiu, o curso ganhou equipamentos e outras mídias foram contempladas. O site Universidade Aberta, com atualização diária de notícias sobre a UFSC, foi um marco no processo acadêmicos dos estudantes de jornalismo da UFSC.
Em 2006, o curso recebeu conceito máximo (nota 5) no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).
Entrevista
Moacir Pereira, primeiro coordenador do curso
Maria Luiza Gil O que levou vocês a criarem o curso de jornalismo na UFSC?
Moacir Pereira Múltiplos foram os motivos que me motivaram a insistir na criação do Curso de Jornalismo na UFSC. O primeiro era de ordem legal. O exercício do jornalismo, pelo Decreto-Lei 972, de 1969, exigia formação universitária. O segundo, de convicção pessoal sobre a importância da formação acadêmica. Terceiro, a constatação de que no Brasil inteiro os Estados tinham cursos superiores de Jornalismo.
Da Bahia até o Rio Grande do Sul, apenas Santa Catarina não tinha Curso de Jornalismo. Finalmente, o convencimento de que só a Universidade poderia garantir consciência crítica, conhecimentos universais, postura ética e habilitação técnica. Tendo exercido a presidência do Sindicato dos Jornalistas entre 1975 e 1978, constatei em congressos e eventos nacionais de jornalistas que os melhores profissionais estavam entre aqueles que tinham formação universitária.
Maria Luiza Gil Quais foram as maiores dificuldades que os fundadores encontram para a formação deste novo curso?
Moacir Pereira Muitas foram, também, as dificuldades. Começava com a contestação de vários jornalistas, alguns colunistas famosos, que se opunham ostensivamente à idéia. “Jornalista nasce feito, traz o sangue nas veias”, alegavam. Os precedentes também não ajudavam. Um grupo de trabalho concluiu pela não instalação do Curso em 1973.
Outro estudo do jornalista Adolfo Zigelli também não recomendava à Reitoria a nova habilitação. Não fora a visão do reitor Caspar Erich Stemmer e o curso não teria sido criado. Ele foi determinante e determinado. Procurou agilizar tudo no Conselho Federal de Educação e no MEC. E ofereceu as condições mínimas – ainda que precárias – para instalação da Coordenação do Curso no prédio da Imprensa Universitária. Havia, ainda, a má vontade dos empresários, contrários ao curso superior. Alegavam que não havia mercado de trabalho. Quer dizer: o cenário geral era recheado de obstáculos a superar.
Maria Luiza Gil Qual a importância da formação acadêmica para o profissional jornalista?
Moacir Pereira Não consigo vislumbrar o exercício do jornalismo sem a formação acadêmica. É preciso muito mais, como leitura, atualização constante, domínio das novas tecnologias, aprimoramento ético e outras condições humanas e profissionais. Mas uma boa universidade sempre fará o diferencial.
Prova maior? Inúmeros profissionais que hoje brilham nos principais veículos de comunicação do Rio, São Paulo e Brasília e que passaram pelo curso de jornalismo da UFSC. Exemplo mais vivo: a jornalista Sônia Bridi, formada pela UFSC, e a primeira correspondente da Rede Globo na China. Há outros, igualmente expressivos.
Sou francamente favorável à formação acadêmica, portanto, ao diploma superior, e ao registro profissional. Jornalismo é atividade muito séria, de múltiplas responsabilidades, para ser exercido por quem não tem habilitação. Você pode até encontrar outros profissionais que atuam bem no jornalismo. Mas eles formam exceção. No geral, os bons jornalistas saem das universidades.
Aos que se opõem ao diploma, alegando que os cursos formam com deficiências, recomendo examinar os outros profissionais. Além disso, a universidade é o caminho, a base, não o fim de tudo na formação e no exercício profissional.
Por Maria Luiza Gil / Bolsista de Jornalismo na Agecom