Filósofa e Filóloga Barbara Cassin profere conferência nesta sexta na UFSC
Barbara Cassin é uma das principais filósofas e filólogas francesas da atualidade e pesquisa as relações entre a filosofia, sofística, retórica e literatura. Dentre várias obras que escreveu (veja lista abaixo), está Voir Hélène em toute femme: d´Homere a Lacan. Ela vem ao Brasil para o Congresso Memória e Festa, que celebra os 20 anos da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (no Rio).
Em Florianópolis, ela fará a conferência aberta ao público:
HÉLÈNE: MÉMOIRE D´UN NOM
(com tradução do Prof. Luis Felipe B. Ribeiro), dia 8 de julho, sexta, às 14h30min, no Auditório do CFH/UFSC.
Barbara Cassin é pesquisadora do Centre Nacional de la Recherche Scientifique – CNRS/ Centre Leon Robin sur la Pensée Antique/ Université Paris IV – Sorbonne – France.
Promoção:
Associação Helênica de Florianópolis
Núcleo de Filosofia Antiga – Departamento de FILOSOFIA/UFSC
Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos/Regional Sul
Informações:Professores Antônio Coelho e Luis Felipe Ribeiro
Depto de Filosofia/UFSC :331-8823 e 331-9248
Obras de Barbara Cassin
Si Parménide, P.U.L.-M.S.H., Paris, 1980
Positions de la Sophistique, Vrin, Paris, 1986;
Le plaisir de parler, Minuit, Paris, 1986;
Ontologie et politique. Hannah Arendt, Tierce, 1989;
Ensaios sofisticos, Siciliano, Sao Paulo, 1990.
“Le Muses et la philosophie, Eléments pour une histoire du pseudos”, in p. aubenque e m. narcy (ed.), Etudes sur le “Sophiste” de Platon, Biblipolis, Napoli, 1991;
Nos Grecs et leurs modernes. Les stratégies contemporaines d’appropriation de l’Antiquité, Seuil, Paris, 1992;
Gregos, Bárbaros e Estrangeiros: a cidade e seus outros. Cassin et alli. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993;
L’Effet sophistique, Gallimard, Paris, 1995;
Aristote et le logos: contes de la phenomenologie ordinaire, Presses universitaires de France, Paris, 1997.
Voir Hélène en toute femme: D`Homère à Lacan, avec M.Mathieu. Institut Sanofi-Synthélabo 2000
Vocabulaire européen des philosophies, Barbara Cassin (dir.), Seuil/Le Robert, Paris, 2004, 1531 pages.
Edition:Gorgia Trattato del non-essere: Si Parménide, P.U.L.-M.S.H., Paris, 1980;
aristotele, Metafisica, Libro Gamma: (avec M. narcy)
La decision du sens, Vrin, Paris, 1989;
Platon, Parmenide: Sur la nature ou sur l`etant: la langue de l`etre, Seuil, Paris, 1998.
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Artigo na Folha de São Paulo citando Bárbara Cassin.
Por que a pesquisa precisa da retórica (Marcelo Leite )
Provas Públicas: Ciência, Tecnologia e Democracia.
Só mesmo na França parece possível organizar um congresso científico com esse tema geral. E ainda juntar 1.200 pessoas para debater novas formas -dramáticas e retóricas, decerto, mas companheiras da verdade – de reconciliar pesquisa científica e vida social, hoje em litígio avançado, como deixa patente a tenaz controvérsia globalizada sobre os alimentos geneticamente modificados, ou transgênicos.
Pois foi essa a proeza de Bruno Latour, o polêmico autor de “Ciência em Ação” (Editora Unesp). Era a estrela-mor da conferência conjunta da Sociedade para Estudos Sociais da Ciência (4S, na abreviação em inglês), que preside, e da Easst (Associação Européia para o Estudo de Ciência e Tecnologia).
O encontro teve lugar na Escola de Minas, em Paris, e de 25 a 28 de agosto encheu o bulevar Saint Michel de bolsas cor de laranja. Dentro delas, cada um dos conferencistas arrastava um catatau de 966 páginas só de resumos dos trabalhos apresentados em 189 sessões e mesas-redondas.
Foi uma festa. Afinal, era Paris. Até banquete sobre as águas do rio Sena o congresso ofereceu, mas se engana quem concluir que houve só frivolidades. Ali se discutiu de tudo, inclusive a socialidade de máquinas, mas principalmente o desaparecimento da fronteira entre especialistas em que se podia confiar, encarregados dos fatos, e o público em geral, encarregado de coaduná-los com valores e de definir cursos de ação.
Essa divisão de atribuições sempre comportou transações de lado a lado, mas hoje a confusão é completa. Como resultado, observa-se uma erosão contínua e preocupante do prestígio social da ciência. Bruno Latour tem lá suas idéias sobre como resolver o qüiproquó, mas elas estão longe de ser consensuais, práticas e assimiláveis. Cientistas e cidadãos precisariam reaprender a encenar a verdade provisória da ciência no teatro da opinião pública, afirma o intelectual francês, pois não lhe basta mais concordar com o objeto de estudo. É preciso encontrar novas formas de fazer com que entre em concordância com a massa, também.
Como sempre quando há muita perplexidade, os clássicos podem vir em socorro. Na abertura oficial da conferência, realizada em pleno Senado da República -no vizinho Palácio de Luxemburgo-, quem roubou a cena de Latour foi Barbara Cassin, helenista convidada para discorrer sobre as relações entre ciência e retórica. E que discurso ela fez.
Cassin partiu de Aristóteles: o justo e o verdadeiro são mais fortes que os seus contrários, por natureza, mas a retórica não pode ser desprezada. Afinal, é uma vergonha permitir que o verdadeiro se torne mais fraco. Aí comparece a retórica: ela é necessária, segundo Cassin, para ajudar contra a… simples retórica. Mais arte, e não menos, para auxiliar a natureza a derrotar o artifício.
Provas públicas e discursos têm de empregar os meios adequados ao que é comum (diverso do universal), ou seja, aquilo que todos podem entender. O verdadeiro é diferente do persuasivo, e a demonstração pública tem de ser persuasiva, além de verdadeira (apodítica). Contrariamente ao verdadeiro, o que parece persuasivo já é persuasivo, disse a helenista, e por isso pode desencaminhar o debate (tal era a especialidade dos sofistas). Mas há momentos em que o comum se antepõe benignamente ao verdadeiro, e é nesse momento criativo que podem surgir novos valores.
Depende só de nós fazer com que nessa hora se produza muito mais luz, e não apenas calor. (Ciência – 5/9/2004)