Ano Internacional da Astronomia: palestra na UFSC mostra avanços na descoberta de planetas extrassolares

29/05/2009 08:53

51 Pegasi B foi o primeiro planeta descoberto fora do Sistema Solar. Em 1995 quebrou a solidão cósmica, ao ser anunciado na revista Nature. Desde então já foram descritos 320 sistemas planetários, 40 com dois ou mais astros, o que leva a cerca de 400 planetas. Todos orbitam estrelas dentro de nossa galáxia, a Via Láctea.

“É uma avanço impressionante”, destacou o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), José Renan de Medeiros, em sua visita à UFSC para uma palestra dentro da programação do ciclo ´Grandes Temas da Astronomia Moderna`. Integrante de consórcios internacionais de caçadores de planetas, o astrônomo falou sobre Os Novos Mundos do Cosmos e mostrou o que eles estão nos ensinando.

“O zôo planetário é muito vasto”, destacou, citando “coisas assustadoras” (planetas que podem migrar de uma órbita para outra) e “excêntricas” (órbitas tão próximas da estrela-mãe que deveriam fazer o planeta virar vapor, mas isso não acontece, e exige dos astrônomos releituras de suas ferramentas de investigação).

“Aprendemos que sabíamos pouco sobre o sistema solar, estamos em muitas situações tendo que redescobrir a física”, contou o professor, ex-presidente da Sociedade Astronômica Brasileira e da Comissão Brasileira de Astronomia. Sua apresentação mostrou que as adaptações necessárias às descobertas da física do universo extrassolar são apenas mais um desafio para quem há poucos anos não podia assumir que estava procurando novos mundos no cosmos.

“Em 1985 era ´proibido` conversar a respeito, nós dizíamos que estávamos estudando a variabilidade das estrelas. Procurar planetas era loucura”, lembrou o professor, formado por Michel Mayor, o astrônomo suíço que em 1995 descreveu com sua equipe o 51 Pegasi B.

“Galileu abriu as portas para os novos mundos. Michel Mayor anunciou a descoberta do primeiro planeta extrassolar, e hoje há uma corrida em busca de novos planetas”, contou Renan, que apresentou ao público uma relação dos dez astros mais “curiosos” já descritos. Ele explicou que para receber o conceito de planeta um corpo celeste precisa cumprir o pré-requisito de “limpar seu terreiro”. “Limpar o terreiro é ter massa suficiente para sugar qualquer corpo menor em sua vizinhança”, ensinou.

Segundo ele, um dos sonhos da astronomia atual é fazer uma imagem destes planetas extrassolares, já que as descobertas acontecem de forma indireta. Como o planeta não tem luz própria, explicou, os astrônomos dependem da luz que ele reflete de sua estrela.

Bamboleio

O professor deu então uma noção sobre as técnicas usadas para descoberta desses corpos celestes, como a investigação do “bamboleio” da estrela: à medida que o planeta gira ao redor da estrela, desloca esta um pouco em sua direção. Assim, quando o planeta está entre a Terra e a estrela, esta se aproxima de nós, e quando o planeta está atrás da estrela, ela se afasta. Isto faz com que a luz da estrela se desvie para o azul, quando se aproxima, e para o vermelho, quando se afasta. É o mesmo efeito que notamos quando um carro buzinando se aproxima – o som fica mais agudo – e depois se afasta – o som fica mais grave.

Os astrônomos trabalham também com a astrometria, medindo minuciosamente a posição da estrela no céu e vendo que ela descreve pequenos círculos achatados, o mesmo bamboleio da

técnica anterior, visto de outra forma. Outro método de trabalho é a técnica de trânsito planetário, que é a interpretação mais direta: a passagem de um planeta em frente a uma estrela diminui seu brilho.

Há ainda a técnica da microlente gravitacional, que consiste em observar a amplificação da luz de uma estrela próxima quando esta passa na frente de uma distante. Se esta estrela próxima tiver um planeta companheiro, observa-se a amplificação da luz da estrela distante em dois estágios: o primeiro mais demorado, causado pela estrela; sobreposta a esta amplificação, uma

amplificação de duração muito mais curta, causada pelo planeta.

Questionado sobre a veracidade das informações sobre a existência dos novos planetas, já que as descobertas são indiretas, o professor lembrou a importância da contra-expertise para comprovação das pesquisas. “Não temos dúvida. Sempre questionamos nossa própria capacidade e todos os estudos são realizados para revogar as possibilidade de erro”, salientou o astrônomo, engajado em projetos espaciais de vanguarda, como a missão CoRoT, que visa, através de uma sonda espacial, encontrar planetas em outras estrelas.

“Os novos planetas estão nos ensinando coisas impressionantes: há moléculas orgânicas lá em cima, como o metano. Há vapor d´água num planeta extrassolar”, exemplificou o astrônomo, que depois de sua palestra respondeu por mais de uma hora perguntas da platéia.

Convidado para o encontro com o público na UFSC pelo professor Antônio Kanaan, do Grupo de Astrofísica da UFSC, Renan iniciou sua fala com uma imagem histórica, em que a terra era o centro do Universo. No final, apresentou outra figura com uma nova configuração do Universo, desenhada a partir do avanço conquistado pela astronomia nos últimos anos. “Era um mundo complexo devido à nossa ignorância”, disse referindo-se à primeira imagem. “Agora temos uma nova imagem complexa, que foi construída porque ultrapassamos nossas fronteiras da ignorância”, destacou o professor, deixando clara a paixão pela área em que trabalha e o sonho de encontrar um planeta capaz de abrigar a vida.

“Estamos no alvorecer. Não temos razão alguma para ter dúvidas sobre a possibilidade de vida em outros planetas, mas também não temos argumentos para afirmar que há vida lá fora”, instigou. Segundo Renan, há expectativa de que muitos outros planetas sejam descritos por equipes de astrônomos nos próximos anos. O desafio é ver quem chega primeiro à descoberta de um semelhante à Terra.

Fóssil do Big Bang

A Cosmologia, ciência que estuda a estrutura, evolução e composição do universo, é uma área que requer observações que sustentem as previsões teóricas dos cientistas. Formada por microondas fraquíssimas que permeiam o espaço, a Radiação Cósmica de Fundo é uma das observações utilizadas para isso, sendo considerada a melhor evidência de que há 13,7 bilhões de anos houve o Big Bang, a explosão primordial que teria originado o universo.

De forma semelhante a um arqueólogo que coleta fósseis e relíquias para construir uma imagem do passado, cosmólogos estudam as propriedades da Radiação Cósmica de Fundo como um fóssil do Big Bang. Esse será o assunto de uma nova palestra integrada às comemorações do Ano Internacional da Astronomia na UFSC. O encontro será realizado no dia 15 de junho, a partir de 19h, no auditório da Reitoria.

O convidado é o professor Carlos Alexandre Wuensche, da Divisão de Astrofísica do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). Ele terá, assim como os outros palestrantes que visitaram a UFSC para falar sobre vida fora do sistema solar, buracos negros e planetas extrassolares, o desafio de traduzir o assunto para o público leigo.

Mais informações: astro@astro.ufsc.br / fone 3721-8238

Por Arley Reis / Jornalista da Agecom

Fotos: Paulo Noronha / Agecom

O ciclo ´Grandes temas da astronomia moderna`

30 Março Jorge Quilffeldt – Instituto de Biociências / Universidade Federal do Rio Grande do Sul – “Astrobiologia : Água e Vida no Sistema Solar e além”

13 Abril João Steiner – Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo (IAG-USP) – “Buracos negros, cemitérios cósmicos”

13 Maio Renan Medeiros – Departamento de Física Teórica e Experimental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DFTE/UFRN) – “Os Novos Mundos do Cosmos”

15 Junho Carlos Wuensche – Divisão de Astrofísica / Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)

Agosto Guillermo Tenorio-Tagle / Instituto Nacional de Astrofísica Óptica y Electrónica (México)

Setembro Augusto Damineli – Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo (IAG-USP)

Outubro Kepler Oliveira – Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IF/UFRGS)

Novembro Laerte Sodré – Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo (IAG-USP)

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