Peixes, barcos e o próprio mar são tema dos quadros de Sílvio Pléticos

09/12/2008 16:36

Ter dado os primeiros passos como artista na bela costa croata e passado boa parte da vida em Florianópolis (ou São José, mais precisamente), onde duas baías lembram um pouco a cidade medieval de Pula, sua terra natal, talvez explique porque os temas do mar – peixes, redes, pescadores – são tão recorrentes no trabalho de Silvio Pléticos. O pintor expôs cerca de três dezenas de suas obras, incluindo esculturas em gesso e resina patinada, na Galeria de Arte da UFSC, onde mesclou trabalhos recentes com telas dos anos 70 para construir um panorama de sua trajetória criativa, que se caracteriza pela inventividade e pela coerência.

Elementos do mar estão invariavelmente presentes nas obras, seja nos barcos deslizando na mansidão das baías, seja em pescadores com ou sem rosto, seja nos indefectíveis peixes sobre travessas ou em cestas pelo chão. Não são meras reproduções, mas imagens que instigam, indagam, incomodam. O professor e crítico Sergio Molesi, da Universidade dos Estudos de Trieste, na Itália, atribui a riqueza temática de Pléticos ao fato de haver aportado no Brasil, no início da década de 60, onde “o experimentar e o entender parecem sujeitar-se a algo mais secreto e impalpável, que é a própria vida em contato com a dimensão do natural, do exótico, do diferente, do original”.

Quando chegou a Milão, em 1939, Pléticos – que vinha de uma região habituada a conflitos étnicos e separatistas – viu explodir a Segunda Guerra e chegou a ser recrutado como soldado. A experiência deprimente das batalhas plantou nele um grande desapego pelos bens materiais e a busca por uma razão de viver que se transportou para a arte. Contribuíram para isso também a condição de órfão precoce e uma existência dura, de empregos braçais e esparsos, pelo menos até encontrar sua vocação artística.

Além de Pula, Zagreb (capital da Croácia, onde estudou artes aplicadas) e Milão, Pléticos morou em Ribeirão Preto (SP), Porto Alegre e Passo Fundo (RS) antes de se fixar em Santa Catarina. Aqui, seus traços cubistas, com elementos do expressionismo e do surrealismo, fizeram vários discípulos, mas só ele manteve a unidade da obra ao longo da carreira. Chegou a ser um dos artistas mais valorizados pelo mercado local, graças especialmente a um currículo que inclui participações na Bienal de São Paulo (em 1972 e 1976) e a exposições fora do país.

Falando de seu trabalho, Pléticos atribui ao poder da arte o equilíbrio que reencontrou após a experiência de combatente na guerra. “A terapia através das atividades criativas, especialmente das artes plásticas, deve ter sido a razão principal que me manteve por toda a vida ‘amarrado’, quase que fanaticamente, a esta linda atividade”, escreveu ele.

Por Paulo Clóvis Schmitz/ Jornalista na Agecom

Fotos: Nilson Só/ DAC