Ano Internacional da Astronomia: pesquisadora do Observatório de Paris usa céu de Florianópolis para falar das estrelas

28/08/2009 09:07

Fotos: Paulo Noronha/ Slides:professora Grazyna Stasinska

Fotos: Paulo Noronha/ Slides:professora Grazyna Stasinska

A partir de uma representação do céu exatamente como se veria em Florianópolis às 21 horas desta terça-feira (25/8), a professora Grazyna Stasinska, do Observatório Astronômico de Paris, falou na UFSC sobre a importância das estrelas. Palestrante convidada a participar da agenda da universidade em comemoração ao Ano Internacional da Astronomia, mostrou que os românticos pontos brilhantes no céu são também berços dos elementos químicos constituintes do universo.

Com a imagem chamou atenção para o fato de que o céu de Florianópolis na terça-feira não era povoado somente por estrelas (ainda que a contemplação a olho nu mostrasse essencialmente o resplandecer de pontos luminosos no céu). “A leste está o planeta Júpiter”, mostrou, comparando a brilhante estrela, que se vê ao olhar para o céu, com uma foto obtida a partir de um telescópio, e que revela a forma arredondada do maior planeta do sistema solar. Aproveitou então para lembrar que a diferença entre uma estrela e um planeta é que a primeira tem luz própria.

Nuvens de Magalhães e Via Láctea

Grazyna mostrou que são também visíveis a olho nu em Florianópolis as Nuvens de Magalhães – duas regiões esbranquiçados no céu. E explicou que estas “manchas” são duas galáxias: conjuntos de nuvens interestelares e centenas de milhões de estrelas. Lembrou ainda que foram descobertas na époda das grandes navegações (quando o português Fernão de Magalhães, a serviço do rei da Espanha, comandou a primeira viagem de circum-navegação ao globo).

“Se olharmos a sudeste é possível ver a Via Láctea, nossa galáxia, onde estão o Sol e a Terra”, continuou a professora, indicando uma grande área esbranquiçada no céu. Com outra imagem, falou de constelações, alertando que estas são fruto da imaginação humana. “É uma da primeiras coisas que as pessoas querem reconhecer quando olham para o céu”, disse, recuperando o fascínio da noite estrelada sobre os povos, que em diferentes épocas criaram combinações para formar as constelações. “É preciso saber que estrelas que pertencem a uma mesma constelação estão a distâncias muito diferentes”, ensinou.

Ciclo das estrelas

Com um telescópio, ao olhar o céu de Florianópolis é também possível avistar nebulosas planetárias. “Elas são o último sopro de vida de estrelas parecidas com o Sol”, ensinou a pesquisadora francesa. E em seguida, com a didática necessária à comunicação com a platéria que incluía leigos, descreveu o ciclo das estrelas. “Elas não são eternas. Nascem, amadurecem, envelhecem e morrem”, iniciou a professora.

Estrelas nascem no interior das galáxias, explicou, onde há nuvens de gás e poeira. Esse material se condensa e quebra em pedaços, que formam as protoestrelas (espécies de embriões de estrelas). É um processo em que a temperatura vai aumentando, até a estrela ficar madura. E então, quando atinge 10 milhões de graus, começam reações termonucleares, em que o hidrogênio se transforma em hélio. “É esse processo, muito energético, que faz as estrelas brilharem”, ensinou, complementando que a bomba H usa o mesmo princípo ─ e lamentou a aplicação do conhecimento para esse fim.

Contou então que a vida de uma estrela é uma luta entre duas forças contrárias: a gravidade, que a comprime, e a pressão, que a dilata. Quando acaba a combustão do hidrogênio, desaparece a fonte de pressão, o “coração” desse corpo celeste se contrai novamente, a pressão e a temperatura no centro aumentam, as camadas externas se expandem e esfriam: a estrela torna-se uma “gigante vermelha”.

“Assim parece simples, mas na verdade ninguém sabe porque as camadas externas se expandem”, destacou a professora, deixando claro à plateia que o conhecimento astronômico está em construção. Mas os astrônomos sabem que o final da evolução de uma estrela depende de sua massa.

As de grande massa completam sua evolução em alguns milhões de anos. Nas fases finais, têm uma “estrutura de cebola”, comparou Grazyna. Em cada camada ocorrem reações nucleares, transformando carbono em oxigênio; oxigênio em neônio; neônio em magnésio; magnésio em enxofre. E assim por diante, até chegar à formação do ferro. Nesse momento a estrela explode e vira uma supernova. O que sobra (o “cadáver” da estrela) vira estrela de nêutrons ou buraco negro.

No caso das estrelas de massa pequena (como o Sol), há uma evolução mais lenta e um final mais suave. Quando o hidrogênio de seu núcleo é consumido, a estrela gera carbono, expande e suas camadas externas escapam. Quando o núcleo fica descoberto, a estrela emite radiação de alta energia, que excita a matéria recém -ejetada e a faz brilhar: aparece uma nebulosa planetária. A nebulosa pouco-a-pouco se dilui, enquanto o que sobra da estrela vira uma “anã branca”.

Os elementos químicos no universo

Os dois tipos de estrelas ejetam elementos químicos para o meio interestelar. Estrelas de pequena massa formam carbono e nitrogênio. As de grande massa formam oxigênio, neonio, magnésio, etc. Outros elementos são formados por astros dos dois tipos. “Todos os elementos químicos, salvo o hidrogenio e a maior parte do helio, que vêm do Big Bang, são formados por estrelas”, frisou a professora.

“E toda a matéria do universo é formada por moléculas que são combinações destes elementos”, destacou. “A água, por exempo, é formada por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. A citosina é C4H5N3. É uma molécula simples que está na constituição do DNA, constituinte primordias das células”, ensinou. Em seguida, apresentou uma tabela com a composição de animais, planetas, cometas e estrelas, chamando atenção para a semelhante na composição química. “Animais e cometas têm uma composição muito parecida”, mostrou. “E é importante lembrarmos disso quando olharmos para o céu”, sugeriu a professora.

A palestrante

Grazyna veio ao Brasil para participar da 27ª Assembleia Geral da União Astronômica Internacional, que aconteceu no Rio de Janeiro de 3 a 14 de agosto. Ministrou a palestra na UFSC a convite do Grupo de Astrofísica, equipe ligada ao Departamento de Física com quem desenvolve pesquisas.

Nasceu e se formou na França. Desenvolveu sua tese de doutorado no Observatório de Paris, em 1978. No início dos anos 70 passou 18 meses no Instituto Astronômico e Geofísico de São Paulo. “Foi naquele tempo que aprendi o português”, conta a estudiosa que tem colaboradores em vários paises, especialmente no Brasil, México, Polônia e Ucrânia. Também é responsável por uma pesquisa envolvendo cerca de 80 participantes da França e da Polônia, país de suas raízes.

Pesquisa com a UFSC

Grazyna colabora desde o ano 2004 com o grupo do professor Roberto Cid Fernandes, do Departamento de Física da UFSC, estudando o conteúdo de centenas de milhares de galáxias, para entender sua formação e evolução. Um dos resultados de maior destaque foi a identificação de um grupo de galáxias que ela chamou de “aposentadas”, porque pararam de formar estrelas há muito tempo. O trabalho foi publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society (jornal da Royal Astronomical Society) e, no Brasil, foi destacado na Folha de São Paulo.

Ciclo de palestras

O ciclo ´Grandes temas da astronomia moderna` já trouxe para a UFSC os astrônomos Jorge Quilffeldt (do Instituto de Biociências da UFRGS, que falou sobre
astrobiologia, água e vida no sistema solar e além; João Steiner (do Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo, que ministrou palestra com o tema Buracos negros, cemitérios cósmicos; Renan Medeiros (do Departamento de Física Teórica e Experimental da UFRN, que abordou o tema Os Novos Mundos do Cosmos e Carlos Wuensche (da Divisão de Astrofísica do INPE, que trouxe para a UFSC palestra sobre a radiação cósmica de fundo. A organização é do professor Ant^nio Kanaan, do Grupo de Astrofísica da UFSC.

Próxima palestra

Representante do Brasil para o Ano Internacional da Astronomia, o professor Augusto Damineli Neto será o próximo palestrante da UFSC no ciclo ´Grandes temas da Astronomia moderna`. Membro da União Astronômica Internacional, Damineli é chefe do Departamento de Astronomia do Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo (IAG-USP). Na pesquisa astronômica seu foco são as estrelas massivas. Seus estudos sobre a estrela Eta Carinae, uma das maiores já descritas, e sobre a qual é uma das autoridades, tiveram repercussão mundial.

Há anos o professor tem também se envolvido em atividades de popularização da astronomia, organizando exposições e ministrando palestras, além de escrever dezenas de artigos para veículos de comunicação, entre eles a Revista Superinteressante. Participou de seis roteiros da série da TV Cultura Minuto Científico, que ganhou três prêmios internacionais. Organizou diversas exposições para o grande público, sendo que ´Halley em Máxima Aproximação`, sobre o cometa Halley, foi visitada por 70 mil pessoas.

Sua palestra na UFSC terá como foco a procura de vida em outros planetas, um dos carros-chefes da Astronomia do século XXI. O encontro será realizado no dia 14 de setembro, no auditório da Reitoria, às 19h. É aberto e gratuito. Após as palestras há sessão de observação do céu com telescópios, no Observatório Astronômico da universidade.

Por Arley Reis / Jornalista da Agecom

Fotos: Paulo Noronha/Agecom

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