Espaço Cultural do NEA inaugura exposição `Renda da Ilha da Renda`
A exposição “Renda da Ilha da Renda” será inaugurada no dia 19 de agosto, no Espaço Cultural do Núcleo de Estudos Açorianos (NEA) da UFSC e poderá ser visitada até o dia 30 de setembro. Com pinturas da artista plástica Índia Brazil, a mostra é composta por telas, objetos cerâmicos e porcelanas que utilizam como tema a renda de bilro.
Índia Brazil viveu a sua infância em contato com as senhoras rendeiras que produziam a renda para sua sobrevivência, ainda mantêm gravada em sua memória imagens fantásticas das colchas, trilhos, toalhas produzidas com muito esmero e qualidade, eram verdadeiras obras de arte.
O NEA atua na pesquisa e também na divulgação e preservação das raízes açorianas no Brasil e em especial no litoral do Estado de Santa Catarina. Sendo a renda de bilro um patrimônio da nossa herança cultural açoriana o Núcleo tem o prazer de apresentar mais esta exposição para divulgação das nossas raízes.
Além disso, desenvolve o projeto `Saber Fazer` que estimula a produção do artesanato dos descendentes de açorianos no litoral de Santa Catarina como forma de valorização da herança cultural e geração de renda para os artesão. Desenvolvem wokshop, exposições e intercâmbio entre os vários artesãos que produzem rendas de bilro, cerâmica utilitária e figurativa, rendas de crivo, cestaria e outros.
SERVIÇO:
Exposição: Renda da Ilha da Renda
Artista: Índia Brazil
Local: Espaço Cultural do Núcleo de Estudos Açorianos (NEA/UFSC)
Período: 19/8 a 30/9
Informações: (48) 3721-8605 ou nea@nea.ufsc.br
Contatos com artista: (48) 9103-7153 ou indiabrazilrendas@hotmail.com
Fotos p/ Divulgação: http://www.nea.ufsc.br/Rendas_IndiaBrasil_ExpoNEAUFSC.zip
Por Índia Brazil
Desde pequena tenho a fotografia das Rendeiras na minha memória. Rendeiras da beira da Lagoa, em frente ao novo prédio da Caixa Econômica nos anos 60, na Conselheiro Mafra. Lá também as rendeiras se encontravam para vender, elas vinham das praias do Ribeirão, Armação, Ingleses, Canavieiras, Santo Antonio, Lagoa da Conceição, Barra da Lagoa, onde havia maior núcleo de pescadores e ali as senhoras faziam e vendiam renda para ajudar no sustento da casa.
Ir ao Centro da cidade era uma aventura, meu pai trabalhava na Caixa Econômica, tinha sido inaugurado o novo prédio, eu frequentava muito o prédio para dar recados ao papai. As Senhoras rendeiras ficavam todas nos parapeito do prédio, eram parapeitos grades, com janelas enormes de vidro, todos com renda, e elas fazendo seu comércio. Tinha rendeiras também na Praça XV e na Conselheiro Mafra. Neste tempo, costumava-se usar tolhas redondas, trilhos para a mesa de jantar ou banquete, colchas para as camas, almofadas, trilhos para sofá, poltrona. Havia um bom movimento e as encomendas de toalhas de banquete, como as de renda de tramóia levavam meses para ficarem prontas.
A influência dos meus pais, ambos artistas, o pai ator, diretor, radialista, boêmio das antiga, foi muito importante para todo esse meu conhecimento cultural. Fundamental para eu desenvolver e criar o meu trabalho, pois minha mãe também era artista plástica, uma criatura maravilhosa, e muitas vezes fiquei ao seu lado conversando por muito tempo enquanto pintava suas telas. Foi numa dessas conversas que eu a escutei comentar que quem desenvolvesse esta ideia de pintar renda na cerâmica ia se dar bem, quer dizer ser reconhecido no trabalho. Ela tentou fazer duas peças, mas infelizmente foi interrompido pelo seu falecimento.
Na divisão dos bens entre meus irmãos, acabei ficando com sua maleta de pintura. Entre tintas e pincéis, as peças nunca tinham pintado nada. Quando cheguei em casa abri a maleta e coloquei tudo sobre a mesa e fui mexendo devagar… Quando dei por mim estava tentando pintar rendas. Comecei uma pesquisa grande sobre a renda e me apaixonei, isso há 12 anos.
Comecei fazendo feira de artesanato em Santo Antônio, eventos e exposições. Depois montei um ateliê em Santo Antonio, onde pude divulgar bastante o meu trabalho. Estive na Europa expondo na França, em 2007.
Usando técnicas novas fiz peças de cerâmica esmaltada com desenho de renda, como panelas de todos os tamanhos, travessas. Nas telas também passei a renda para um espaço maior. Uma fascinação poder desenhar a renda em outros tamanhos e formas.
Agora estou pintando renda em porcelana, com tinta azul prussia, para ficar tipo louça portuguesa. Vou mostrar nesta exposição do NEA/UFSC um pouco de cada trabalho: pintura em cerâmica decorativa e utilitária, telas, porcelanas.
“Vivo numa Ilha encantada. Seus contornos são bordados por renda, onde me inspiro para pintar nossa louça de barro, a tradicional Renda de Bilro.”
Índia Brazil






























