Equipamentos para preservação de museus desenvolvidos na UFSC são empregados por novas instituições
Equipamentos desenvolvidos no Centro Tecnológico da UFSC para a preservação de acervos serão instalados este ano nos museus de Arte de Santa Catarina, Victor Meirelles e Universitário, em Florianópolis. Uma equipe do Laboratório de Meios Porosos e Propriedades Termofísicas (LMPT) produziu um sistema para medição e outro para controle de temperatura e umidade em ambientes com grande quantidade de telas, livros, fotos e microfilmes. A instalação de sensores eletrônicos e de um sistema de aquecimento acoplado aos aparelhos de ar-condicionado ajuda a aumentar em 10 vezes, ou mais, o tempo de vida dos materiais.
Na Cinemateca de São Paulo, no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, na Casa Rui Barbosa e na Casa França Brasil já foi instalado, desde o ano 2000, o sistema de monitoramento ou medição de temperatura e umidade do ar desenvolvido na UFSC. Este sistema é composto de vários termômetros e sensores eletrônicos que transmitem informações 24 horas por dia para um computador, onde são registrados todos os dados e feitas projeções sobre a durabilidade do material mantido naquele local, sob determinada condição. Este será o equipamento instalado no Museu Victor Meirelles. No Museu Cruz e Souza, o primeiro a receber os equipamentos de monitoramento, em 1999, o sistema será reinstalado devido a uma reforma.
Além de medir, é necessário ajustar a temperatura e a umidade do ambiente. Para isso, é preciso um sistema para controlar a umidade e a temperatura. O professor Saulo Güths, coordenador de instrumentação do LMPT, explica que há duas maneiras conhecidas para resolver o problema: a instalação de um ar-condicionado central com controle de umidade – solução complicada e que requer um alto investimento, na opinião do professor; ou a utilização de aparelhos de ar-condicionado comuns para controlar a temperatura e de um desumidificador portátil – aparelho que controla a umidade, mas produz ruído e requer muita manutenção.
A alternativa encontrada pelos pesquisadores da UFSC foi instalar um sistema de aquecimento na saída de ar dos aparelhos de ar-condicionado comuns. O equipamento possui um sensor de umidade portátil e faz com que o ar saia com a temperatura e umidade ideais para conservar o acervo do museu. Este aparelho já foi instalado no Arquivo Municipal de Belo Horizonte e vem apresentando bons resultados. Os próximos a receber o sistema de controle serão o Museu Universitário da UFSC e o Museu de Arte de Santa Catarina, no Centro Integrado de Cultura (CIC).
Vitrines
O objetivo das pesquisas do LMPT é desenvolver um equipamento simples, de baixo custo e que supra as necessidades de um país tropical como o Brasil. Güths afirma que outras soluções existem, mas estão voltadas para os problemas de países do hemisfério Norte, com clima diferente do brasileiro. O aparelho da UFSC para regular a umidade do ambiente é mais barato, portátil e silencioso que um desumidificador, que tem o preço aproximado ao de um aparelho de ar-condicionado.
Outro equipamento desenvolvido no laboratório é ideal para controlar a umidade dentro de vitrines utilizadas para a exposição de peças raras. O uso de uma tubulação ligada a um aparelho, que fica pelo lado de fora, permite a circulação do ar no interior da vitrine e o controle da umidade.
Um armário, com regulador de umidade, está em fase de pesquisa no laboratório. A intenção é utilizar a estrutura de uma geladeira ou de um freezer semelhante aos de guardar latinhas de refrigerante e cerveja (porque já possuem vedação) e instalar um sistema de controle, ótimo para guardar materiais que sofrem degradação rápida, como fotografias, slides e máquinas fotográficas.
País tropical
Em países de clima tropical como o Brasil, os níveis de temperatura e umidade do ar são elevados e facilitam o processo de degradação de produtos orgânicos, como os encontrados em museus. A deterioração química, causada pela oxidação e hidrólise – processos de queima e quebra de moléculas orgânicas – faz com que as páginas de um livro fiquem amareladas e quebradiças, por exemplo. Isso ocorre porque, com o tempo, as longas cadeias de celulose que formam o papel se rompem, tornando o material mais frágil. Outro tipo comum de degradação é a biológica, causada por fungos que se desenvolvem em locais onde a temperatura e a umidade são adequadas para a reprodução. O professor Saulo Güths explica que o ataque de fungos, em uma sala sem o controle adequado dessas variáveis climáticas, pode destruir todo o acervo do local em menos de um mês.
Na costa brasileira, a umidade relativa do ar é de aproximadamente 80% e a temperatura média de 23ºC – sendo que no verão pode chegar a 30ºC no interior de algumas salas e museus. O equipamento desenvolvido na UFSC reduz a umidade do ambiente para 60% e a temperatura para 21ºC – níveis que dificultam a ação de fungos e os processos de hidrólise e oxidação. Em exposições internacionais geralmente é solicitada a temperatura de 20ºC e umidade de 50% – ideais para a proteção do acervo. Mas o professor alerta que, muitas vezes, esses níveis não são mantidos porque quanto mais baixa a temperatura e umidade de um ambiente, maior é o consumo de energia e os gastos para manter o equipamento funcionando.
Mais informações: Engenheiro Saulo Güths, saulo@lmpt.ufsc.br































