Editora da UFSC e IOESP lançam novo olhar sobre hipertexto e literatura
O livro de Raquel Wandelli mistura romance e hipertexto tendo como pano de fundo O Dicionário Kazar, romance enciclopédico do iugoslavo Milorad Pávich, cuja narrativa, segundo a autora, é aberta a uma multiplicidade de vozes e combinações ilimitadas de percursos, obrigando o leitor a ziguezaguear de um verbete a outro, como um pássaro de galho em galho, perguntando-se a cada esquina desse labirinto: para onde vou agora?” Pávich é, na verdade, considerado pioneiro, no mundo, na descoberta da leitura hipertextual.
Leituras do Hipertexto – Viagem ao Dicionário Kazar, publicado pela Editora da UFSC e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, é o lançamento marcado para o próximo dia 3, às 19h30min, na Pizzeria San Francesco, no Centro de Florianópolis (fones 222-7400 e 222-1122), rua São Francisco, 190, fundos do estacionamento do Supermercado Angeloni (rua do Colégio Imaculada Conceição).
O evento, conforme Alcides Buss, diretor da EdUFSC, abre a temporada de lançamentos de 2004.
O livro discute como o conceito de hipertexto pode operar em obras de papel que primam pela fragmentação, interconectividade, arquitetura labiríntica e pela interatividade com o leitor. Inspirado na Bíblia, onde as histórias surgem umas dentro das outras, como As mil e uma noites, o romance de Pávitch é um grande jogo de união e dispersão de fragmentos, em que o leitor precisa se munir de um espírito devastador para revelar a arquitetura da obra e reconstituir um corpo para a narrativa, que não mudou só na Internet. É preciso estudar as relações entre informática e literatura para perceber que as obras impressas também estão mudando na era do computador ou que os livros estão ficando mais tecnologizados.
“Trata-se de uma leitura consistente do romance O Dicionário Kazar, do iugoslavo Milorad Pávitch, publicado em 1989 pela Editora Marco Zero, de São Paulo, o primeiro livro que, explicitamente, aponta para o caráter intertextual da leitura, já que através de lógicas associativas, abre a leitura a uma multiplicidade de percursos e sentidos. É uma excelente contribuição para se pensar em uma estética hipertextual, que dissolve os limites entre velhas e novas tecnologias, informatizando e hipertextualizando livros”, salienta a professora Tânia Regina Oliveira Ramos, do Conselho Editorial da EdUFSC. A obra apresenta uma capa moderna, integrada ao conteúdo, e inova com uma editoração leve, convidativa à leitura.
“A idéia de hipertexto relaciona conhecimentos interdisciplinares que vão do campo da semiótica, filosofia, ciência,tecnologia às teorias literárias. Sobretudo as que propõem o descentramento da leitura, a responsabilidade do leitor na construção da narrativa e a idéia de obra não como um produto acabado, mas como uma produtividade”, arremata a autora.
Numa entrevista concedida ao jornal iugoslavo Danas, Raquel Wandelli explica que é um livro que trata de temas como a criação do mundo, traz a versão de três grandes religiões para a mesma história, classifica os personagens/narradores como fontes islâmicas, cristãs e judaicas e ao mesmo tempo requer um leitor endiabrado, no sentido de que obriga-o a sabotar seus hábitos consagrados de leitura.
Leituras… remete ainda a autores como Saramago, Ítalo Calvino, Borges e Machado de Assis, Cervantes, Joyce, Cortázar, Osman Lins, cuja literatura também é considerada intertextual, foi inscrito no Prêmio Jabuti de 2004 e está previsto para ser lançado na Bienal Internacional do Livro em São Paulo, em maio. Outros lançamentos devem acontecer no interior de Santa Catarina.
A autora :
Raquel Vieira Wandelli nasceu em Florianópolis. É jornalista profissional, especialista em Estudos Culturais e mestre em
Teoria Literária. Leciona na Unisul, onde coordena o jornal-laboratório Fato&Versão. Atuou por mais de dez anos em jornais
catarinenses. Atualmente é chefe da Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado da Educação e Inovação. Autora de
diversos artigos em publicações acadêmicas e científicas, também se dedica à literatura, sendo premiada em concursos
estaduais e nacionais. Participa de antologias de contos, crônicas e poesias. Integra o Núcleo de Pesquisas em Informática e
Lingüística e Literatura (Nupill), da UFSC. Venceu o concurso de monografias Borges y sus contemporâneo”, promovido pela
Associação de Professores de Espanhol de SC. É co-autora de obras na área de comunicação. Na especialização escreveu a
monografia Literatura dos Excluídos – Consagração e exclusão na literatura. Do mestrado surgiu o livro Leituras do Hipertexto
– Viagem ao Dicionário Kazar. Produziu ainda a obra 50 Anos de Propaganda em Santa Catarina. Está cursando o doutorado
em Literatura na UFSC.
Para fazer contato com Raquel (48)234-7366 (casa) (48) 221-6161 (trabalho) ou 9989-6900.
Fonte: Editora da UFSC