UFSC colabora com o controle da qualidade da água de abastecimento

Cianobactérias: controle é uma exigência
Com o objetivo de preparar os operadores de estações de tratamento de água para reconhecer os sinais de ocorrência das cianobactérias, a UFSC está oferecendo cursos de extensão. Uma primeira capacitação foi ministrada pela professora Roselane Laudares Silva, em março, nos laboratórios da universidade, reunindo 10 técnicos. Os participantes foram escolhidos pela seção catarinense da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Água e Esgoto (ASSEMAE/SC). O treinamento foi ministrado para profissionais dos SAMAEs (Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto) que prestam serviços de água e esgoto em algumas cidades do estado.
Para a pesquisadora é gratificante poder contribuir para a solução de problemas da sociedade, através dos conhecimentos desenvolvidos na universidade. Além de cursos e palestras sobre o assunto, Roselane também ministra uma disciplina sobre o assunto na pós-graduação. “Já faz muitos anos que a UFSC realiza pesquisas nessa área”, afirma.
Com o aumento da poluição e do lançamento de nutrientes, como o fósforo, em rios e lagos, ocorre a eutrofização, estimulando o crescimento de algas e cianobactérias. A nova portaria, aprovada em dezembro de 2000, exige o controle da microcistina, a toxina mais conhecida produzida por cianobactérias, cujo valor máximo permitido na água foi fixado em um micrograma por litro. A partir de dezembro não será mais permitido o uso de algicidas, produto que mata as algas e cianobactérias, liberando as toxinas que se dissolvem na água. As algas e cianobactérias deverão ser retiradas vivas, através do processo de floculação, que as aglomera em pequenos flocos. O monitoramento deverá ser mensal quando houver até 10 mil células de cianobactérias por mililitro de água. Acima desse valor, as análises deverão ser semanais.
O estudo de casos de intoxicação por substâncias produzidas por cianobactérias é recente. Ganhou as manchetes dos jornais de todo o Brasil em fevereiro de 1996, quando cerca de 50 pessoas morreram vítimas da intoxicação, numa Clínica de Hemodiálise em Caruaru, estado de Pernambuco. Na época vários exames foram realizados, sem no entanto detectar as causas das mortes, até que a pesquisadora Sandra Azevedo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, relacionou os sintomas apresentados pelos pacientes da clínica, aos sintomas ocasionados pela microcistina em estudos experimentais com camundongos e alertou sobre a possível causa. A partir daí, as análises comprovaram a intoxicação dos pacientes pela microcistina.
A portaria número 36/MS de 1990, vigente até o final de 2003, não previa o monitoramento das cianobactérias na água, porque eram pouco conhecidos casos de intoxicação por microcistina no Brasil. Muitos casos de intoxicação por cianobactérias já foram registrados no mundo todo, mas em países desenvolvidos esse controle já existe há alguns anos. A tragédia de Caruaru alertou os órgãos de saúde para o perigo representado pela grande quantidade de cianobactérias presentes na água. Até então só era analisada a presença de coliformes e produtos químicos.
As toxinas produzidas pelas cianobactérias podem ser classificadas em dois grupos. As hepatoxinas, com sintomas como diarréia e fígado aumentado por hemorragia e as neurotoxinas, que se manifestam na forma de tontura, perda da coordenação motora, podendo ocasionar até a paralisação dos músculos da respiração. As mais comuns são as hepatoxinas, toxinas que atacam o fígado, entre elas a microcistina.
Segundo a professora, a intoxicação por uma hepatoxina apresenta sintomas iniciais semelhantes a uma gastroenterite, inflamação do estômago e intestinos, o que dificulta a sua identificação, mas existe tratamento.“Só morreram tantas pessoas em Caruaru porque os pacientes que fazem hemodiálise são mais vulneráveis”, explica. “A toxina presente na água utilizada na hemodiálise tem ação mais potente quando aplicada diretamente na corrente sanguínea, do que quando ingerida”.
De acordo com Roselane, os SAMAEs estão se preparando para cumprir com as novas exigências. Uma preocupação é como vai ficar a distribuição de água onde essa atividade é realizada por sistemas alternativos não vinculados aos estados e municípios. O monitoramento do sistema requer alto investimento, sendo inviável em municípios com baixa arrecadação.
Informações: 331-8537 com Roselane Laudares Silva – Departamento de Botânica





























