Comunidade científica de SC acredita em novos tempos na Fapesc

10/05/2007 12:15

A recondução do professor Antônio Diomário de Queiroz, ex-reitor da UFSC, à presidência da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc) trouxe uma nova esperança à comunidade científica. Criada com o objetivo de unificar e fortalecer o Sistema de Ciência, Tecnologia & Inovação do Estado, a Fapesc ainda não conseguiu atender às expectativas e terá que vencer o ceticismo natural dos que se viram frustrados pelos seus primeiros anos de atuação.

Foi em 2003, através da fusão da Fundação de Ciência e Tecnologia (Funcitec) e do Fundo Rotativo de Estímulo à Pesquisa Agropecuária (Fepa), que a Administração de Luiz Henrique da Silveira criou a Fapesc. Com a missão de “promover o desenvolvimento científico e tecnológico no Estado de Santa Catarina através do fomento à pesquisa científica e da interação, em todos os níveis, das instituições científicas, dos complexos produtivos, do governo e da sociedade”, a fundação teve em Diomário de Queiroz o seu primeiro presidente. Em 2005, no entanto, ele deixou a fundação para assumir a Secretaria de Estado da Educação. Com a saída de Diomário, os recursos rarearam e a recém nascida Fapesc acabou ficando sem ação.

Expectativa de redenção – Apesar de um passivo de R$ 46 milhões e do emperramento da máquina nos últimos dois anos, a volta do professor Diomário de Queiroz cria na comunidade científica uma expectativa concreta de redenção. “A Fapesc funcionou melhor, em todo o tempo que ela existe, durante a gestão do professor Diomário. Então a gente tem a esperança de que ela volte a funcionar novamente.” É o que diz a professora Thereza Christina Monteiro de Lima, Pró-reitora de Pesquisa da UFSC. Segundo ela, assim que Diomário deixou a presidência o Governo não fez mais os repasses que deveria fazer. “Então ela praticamente não funcionou, ela trabalhou no mínimo do mínimo.”

Carlos Fernando Miguez, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU), concorda que o grande problema da Fapesc, mais do que quem a dirige, está justamente no volume de recursos. “A Fapesc plantou muita esperança na universidade para financiamento de projetos e logo em seguida isso se tornou uma decepção, porque foi um volume muito pequeno de dinheiro.” Miguez explica que este volume de recursos ficou muito aquém, não só da necessidade, como do que determina a lei. E o que a lei determina, através do artigo 193 da Constituição do Estado, é que “o Estado destinará à pesquisa científica e tecnológica pelo menos dois por cento de suas receitas correntes, delas excluídas as parcelas pertencentes aos Municípios, destinando-se metade à pesquisa agropecuária, liberados em duodécimos” .

Compromissos com a liberação de recursos – Ao que parece desta vez a lei deverá ser cumprida. Pelo menos esta é a certeza do professor Diomário de Queiroz. Em seu discurso de posse, o novo presidente da Fapesc reiterou a “convicção de que Luiz Henrique da Silveira será o primeiro governador catarinense a honrar o compromisso de liberar para a Ciência e a Tecnologia os recursos do artigo 193 da Constituição do Estado”. Esta certeza, entretanto, está longe de ser uma unanimidade. Júlio Felipe Szeremeta, diretor do Centro Tecnológico da UFSC, não compartilha do mesmo otimismo do professor Diomário. “Espero que eu esteja errado, mas eu não acredito que nós vamos conseguir chegar nem na metade dos 2% de recursos para a Fapesc”. Szeremeta, no entanto, não tem dúvidas de que a nova gestão da fundação será boa para a universidade. “Cria uma expectativa de que realmente consigamos trabalhar de maneira mais estrita com o Diomário, uma vez que ele conhece a universidade.”

As dúvidas, portanto, não repousam na figura do novo presidente – já amplamente reconhecida nos meios científicos e acadêmicos – mas sim no compromisso do Governo de finalmente cumprir a Constituição. E, de acordo com a professora Thereza, Diomário de Queiroz é a pessoa certa para essa missão. “Ele tem um trânsito bom com o governador, no sentido de fazê-lo entender o quanto é importante ter essa continuidade no repasse de recursos.” Se a lei será cumprida, entretanto, só o tempo dirá. “Eu espero que realmente ele possa fazer isso, porque é muito importante para esse Estado. É muito importante que haja uma sustentação do que já é feito em Ciência e Tecnologia e que novas áreas possam ser exploradas. Nós temos recursos humanos qualificados, só precisamos receber o suporte econômico para poder iniciar o processo de dar base tecnológica para a economia do Estado”.

Vice-Reitor da UFSC acredita que Fapesc está no caminho certo

Uma mudança de cultura. Segundo Ariovaldo Bolzan, vice-reitor da UFSC, esta é chave para um maior aporte de recursos em Ciência e Tecnologia no Estado. E, para ele, a Fapesc é uma peça fundamental neste sentido.

Apesar dos problemas pelos quais a fundação tem passado, Bolzan acredita que a Fapesc tem cumprido o seu papel – que seria o de primeiro criar uma cultura de valorização do investimento em Ciência e Tecnologia no Estado. “Pôr a Fapesc em funcionamento e fazer o Governo entender que este investimento é fundamental para o desenvolvimento do Estado não é tarefa fácil”, reconhece. A experiência do novo presidente, entretanto, faz crer que esta não é uma tarefa impossível. “É difícil, mas eu entendo que o professor Diomário é a pessoa certa para esse trabalho”.

Quem ganha é a população – A boa interlocução de Diomário de Queiroz com o governador Luiz Henrique da Silveira, na visão do vice-reitor, pode ainda ser um sinal de que o artigo 193 da Constituição do Estado será finalmente cumprido. “Na medida em que os recursos forem crescendo, as demandas vão sendo contempladas e a qualificação vai ser feita. E ganha a população como um todo. Então, o que a UFSC realmente espera é que ele consiga fazer cumprir o dispositivo constitucional”.

Os resultados do investimento em Ciência e Tecnologia, de acordo com Bolzan, trazem benefícios para toda a sociedade. “Nós temos aí exemplos emblemáticos de empresas que se consolidaram no seu ramo de atividade – cresceram, expandiram, e hoje empregam milhares de pessoas – graças a parcerias com a universidade.” Para que casos como estes se repitam, entretanto, é necessária a tal mudança de cultura. “Criar uma cultura é fazer as pessoas que estão à frente da área financeira do Estado aceitarem que aqueles dois por cento não podem ser mexidos, que eles fazem parte de um investimento estratégico do Estado – que é um investimento no futuro.”