Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável são temas de seminário

Altieri: agroecologia é conjunto de princípios
Os palestrantes falaram a respeito dos problemas e desafios do século XXI, como o plantio de transgênicos, as mudanças climáticas e as mazelas ocasionadas pela globalização, além de aspectos ambientais, como poluição do ar e da água, desertificação, degradação de microbacias e baixa qualidade de vida de comunidades rurais. Diante deste quadro, a agroecologia e o desenvolvimento sustentável se apresentam como alternativas para amenizar tais problemas.
O conceito de agroecologia consolidou-se na ECO 92, e representa uma abordagem da agricultura que tem como princípio básico o uso racional dos recursos naturais. O objetivo é produzir um modelo tecnológico abrangente, que seja socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente sustentável. “A agroecologia não é um conjunto de técnicas, como a agricultura orgânica, mas sim um conjunto de princípios”, explica Altieri. Para Nicholls, a agroecologia é uma ciência em construção, que se cristaliza em projetos de desenvolvimento rural.

Cara Nicholls: ciência em construção
A agricultura sustentável busca reduzir a miséria, conservar os recursos naturais e garantir a soberania alimentar e o acesso à terra aos cidadãos. Para que isso seja viável, os pesquisadores apontam fatores como políticas favoráveis aos agricultores, tecnologias alternativas, reforma agrária e alto nível de participação social. Além disso, defendem a agricultura familiar como forma de conservação do meio ambiente.
Altieri afirmou que em regiões de agricultura familiar há menos problemas sociais, e mostrou uma pesquisa que indica que esse tipo de agricultura é de cinco a dez vezes mais produtiva que o modelo em grande escala nos Estados Unidos. Também apontou que as propriedades com área de até 70 hectares sofrem menor degradação ambiental.
Outro ponto discutido pelos palestrantes foi o plantio de alimentos transgênicos e a importação de pesticidas. Estados Unidos, Argentina, Canadá, Brasil, China, Índia e África do Sul são os maiores produtores de transgênicos do mundo. “Aproximadamente 219 agricultores abandonam o negócio por dia nos EUA, a agricultura de transgênicos é muito excludente”, afirma Altieri. Entre 1980 e 1984 a América Latina importou cerca de US$ 430 milhões de pesticidas. “Muitos produtos proibidos em outros países são usados aqui”, disse Nicholls.
A pesquisadora citou o caso de Cuba, que considera ser um exemplo de boa distribuição de terras. Segundo ela, como reúne um povo organizado, tecnologia agroecológia e apoio do Estado, Cuba é um dos países mais bem alimentados da América Latina e aproximadamente 80% de sua produção é orgânica.
O 3º Seminário de Capacitação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável é parte de um programa de cooperação entre universidades brasileiras (UFSC e Unicamp) e americanas (Universidade da Califórnia em Berkeley e Universidade de Nebraska em Lincoln) para promoção da Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável.
Mais informações sobre o evento: www.agroecologia.ufsc.br
Por Ingrid Cristina dos Santos / bolsista em Jornalismo da Agecom