UFSC trabalha no desenvolvimento de vacina contra o HIV

29/05/2006 14:41

Estudos no Laboratório de Imunologia Aplicada

Estudos no Laboratório de Imunologia Aplicada

Uma equipe de professores da UFSC está pesquisando uma vacina contra o vírus da aids. Os estudos começaram em 2003, quando o professor do departamento de Microbiologia e Parasitologia (MIP), Aguinaldo Roberto Pinto, trouxe o projeto dos Estados Unidos. A iniciativa é uma parceria do Instituto Wistar, uma das mais importantes instituições de pesquisa na área biomédica dos EUA, com o Laboratório de Imunologia Aplicada da UFSC, ligado ao Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia.

O laboratório da universidade ficou encarregado de estudar a resposta imune (a forma de proteção do organismo contra microorganismos patogênicos) quando a vacina é administrada pelas vias intranasal ou intravaginal. O tecido vaginal é motivo de preocupação porque umas das principais formas de transmissão do HIV é por via sexual, que ocorre quando não se utiliza preservativo. As mulheres são as mais atingidas. A administração intranasal tem sido estudada pois vacinas administradas no nariz levam à indução de resposta imune na vagina.

Enquanto na UFSC as pesquisas estão em fase experimental, com testes em camundongos, no Instituto Wistar os pesquisadores já trabalham com chimpanzés, que é a chamada fase pré-clínica. Criado em 1988, o projeto dos Estados Unidos prevê que em breve os testes sejam realizados em seres humanos.

“Existem várias maneiras de se fazer vacinas. O projeto da UFSC utiliza um vírus chamado adenovírus, que foi modificado geneticamente, e em seu genoma foi acrescentado um pedaço de DNA do HIV. Portanto, a vacina é um adenovírus recombinante”, explica o professor. O adenovírus é um vírus que causa uma infecção respiratória semelhante à gripe, porém pode ser modificado geneticamente, deixando de ocasionar doenças aos seres humanos e podendo ser utilizado na fabricação de vacinas.

Essa técnica que utiliza vírus recombinantes para a produção de vacinas já é aplicada por vários grupos de pesquisadores. Porém, o professor da UFSC aponta um problema que ocorre quando o vírus usado é o adenovírus. “Como o adenovírus provoca essa infecção respiratória, muitas pessoas podem ter sido infectadas por ele e contraído a doença, mas nem sabem, pois podem tê-la confundido com uma simples gripe”. Portanto, se um indivíduo que já foi infectado pelo adenovírus receber uma vacina feita com esse mesmo vírus, seus anticorpos vão neutralizá-lo, impedindo que a vacina funcione de maneira correta.

Para evitar esse problema, no projeto da UFSC a equipe trabalha com um adenovírus diferente do que circula no meio ambiente, um adenovírus de chimpanzé. Com isso, o organismo humano não reage contra a vacina, pois não possui anticorpos contra o vírus. “Quando a gente vacina os animais ou as pessoas elas ficam imunizadas contra o HIV, que é o nosso objetivo, e acabam criando defesas contra o adenovírus também”, afirma Pinto.

O professor explica que as vacinas geralmente servem para prevenção. “Se um paciente for vacinado e depois entrar em contato com o microorganismo causador da doença, não será infectado, pois estará protegido”. No entanto, a maioria das vacinas contra o HIV, inclusive a que está sendo desenvolvida na UFSC, não impede a infecção. “O que ela muda é o grau de evolução da doença. O indivíduo é infectado, mas não desenvolve os sintomas imediatamente. Não sabemos ainda se a vacina impede os sintomas ou somente os retarda. Outra vantagem é que a vacina diminui a quantidade de vírus no corpo da pessoa, fazendo com que a probabilidade de transmissão seja menor”.

Não há previsões de quando a vacina produzida na universidade poderá ser comercializada. “O último estágio das pesquisas, que é o teste com primatas, é muito caro e precisa apresentar resultados sólidos e confiáveis para que se comece a testar a vacina em seres humanos”, afirma o professor Pinto. Além dele, que é o coordenador do projeto, fazem parte da equipe de pesquisas o professor colaborador Carlos Roberto Zanetti, também do MIP, dois alunos de mestrado e dois de iniciação científica.

A estimativa de Pinto é de que tenham sido gastos cerca de R$ 200.000 com as pesquisas. O projeto foi financiado pelo Ministério da Saúde – a universidade recebeu verbas do Programa Nacional de DST e Aids. Além disso, apóiam financeiramente a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Por Ingrid C. Santos / Bolsita de Jornalimo na Agecom

Mais informações com Aguinaldo Roberto Pinto, fone 3331 5206 , e-mail: pintoar@ccb.ufsc.br