Um outono diferente

20/06/2005 10:33

Com a chegada oficial do inverno, 21 de junho, há quem pergunte se o frio realmente virá para ficar. Depois da seca que assolou a região Sul no início do ano e da permanência de temperaturas bastante elevadas nos últimos meses, não restam dúvidas na comunidade científica de que o outono está completamente atípico. “Embora ainda não tenhamos dados para analisar, acredito que esta deverá ser a primeira metade de ano mais quente da história”, afirma o professor do departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (ENS/UFSC) Reinaldo Haas.

De acordo com o professor, vários estudos comprovam que o século XXI vem apresentando temperaturas acima da média em relação às registradas há cem anos. “Exceto em 2000, todos os anos deste século foram muito quentes. E 2005 não foge a essa tendência”. Em Florianópolis, por exemplo, a média de temperatura (verificada ao longo de 12 meses) é de, geralmente, 20,5º C. Mas, conforme Haas, o mês de junho, que historicamente registra temperaturas abaixo da média, este ano apresenta dias muito úmidos e quentes (cerca de 24°).

Entre as explicações para essas alterações climáticas, estão alguns fenômenos naturais. Um deles se tornou conhecido dos brasileiros há cerca uma década: o El Niño. Caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais do oceano Pacífico, esse fenômeno tem afetado o clima regional e global, mudando os padrões de vento, e alterando, assim, os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias. “Apesar de 2005 ser um ano de El Niño fraco, a região próxima à costa do Peru tem apresentado sobreaquecimentos e resfriamentos, acarretando períodos de seca e de excesso de chuvas no Sul do Brasil”, explica Haas.

Neste ano, o El Niño também pode ser o responsável pelos chamados padrões de bloqueios atmosféricos, registrados com muita força desde janeiro. Esse fenômeno bloqueia as frentes frias, ou seja, as massas de ar não avançam, ficando paradas sobre determinadas regiões durante muito tempo. Isso explicaria as chuvas intensas que ocorreram no Uruguai nas últimas semanas. Da mesma forma, o fato de as frentes frias não penetrarem no Brasil causou o longo período de seca enfrentado pela região Sul no primeiro trimestre deste ano.

Outro fenômeno observado por cientistas da UFSC tem sido a elevação da temperatura na costa catarinense. Dados coletados pelo ondógrafo – aparelho de pesquisa do Laboratório de Hidráulica Marítima (LaHiMar/ENS) que monitora as condições do mar – indicam que águas do litoral do estado estão sobreaquecidas em cerca de 4° C. De acordo com o coordenador do LaHiMar, professor Elói Melo Filho, ainda não foram feitas análises detalhadas dos dados fornecidos pelo ondógrafo que possam explicar esse aquecimento.

Uma das possibilidades, segundo ele, seria a demora da entrada de águas mais frias, que, com a aproximação do inverno, são empurradas para o litoral catarinense pelo vento do quadrante Sul. “Como até agora predominaram os ventos do quadrante Norte, essas águas mais frias ainda não penetraram, o que poderia explicar o aquecimento atípico”, afirma Melo. Ele lembra que no ano passado, o resfriamento das águas marítimas foi detectado em meados do mês de maio. “Mas essa é uma explicação bastante genérica, precisamos estudar os dados para saber quais fatores foram determinantes neste ano”.

O professor Haas considera prematuro afirmar que as alterações no clima são resultado do aquecimento global, “uma vez que as causas para os padrões climáticos observados são bastante lógicas”. Além disso, ele lembra que as quatro estações do ano nem sempre podem ser bem definidas no Brasil, pois o clima no País, assim como em toda a América do Sul, é muito influenciado pelos fenômenos oceânicos. “Essa regularidade climática é mais comum aos países do Hemisfério Norte, que são rodeados por mais terra do que mar”, explica.

Fonte: Núcleo de Comunicação do CTC/ Por Débora Horn/bolsista de jornalismo

Informações com o professor Reinaldo Haas 331-9597 ou haas@ens.ufsc.br

Informações com o professor Elói Melo Filho no mesmo telefone ou emf@ens.ufsc.br

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