UFSC estuda propriedades farmacológicas de plantas da flora catarinense
Apesar de toda tecnologia da indústria farmacêutica, cujos comerciais apresentam soluções para quase todos os males, vez ou outra ainda recorremos às velhas receitinhas da vovó. E não é sem surpresa que constatamos: muitas vezes, um chazinho de folha de pitanga é um analgésico tão eficiente quanto um medicamento industrializado.
Para descobrir os segredos de nossos antepassados, nasceu a etnofarmacologia, que é uma forma interdisciplinar de estudar, cientificamente, chás, extratos e compostos tradicionalmente empregados ou observados pelo homem na cura de enfermidades. Foi sob a luz da etnofarmacologia que Adair Roberto Soares dos Santos, professor do Departamento de Ciências Fisiológicas do Centro de Ciências Biológicas da UFSC, desenvolveu o projeto “Avaliação do potencial antiinflamatório e antinociceptivo de compostos naturais obtidos da flora catarinense: flavanóides, biflavanóides, proantocianidina e hexol”.
Com o auxílio de professores dos Departamentos de Química, Bioquímica, Ciências Fisiológicas e Farmacologia, Santos procurou confirmar a atividade farmacológica de plantas utilizadas na medicina popular, além de caracterizar os possíveis mecanismos de ação farmacológicas de substâncias isoladas das plantas, em especial da Pitanga (Eugenia uniflora). “O conhecimento popular é fundamental para a descoberta dos medicamentos, mas existem muitas plantas que estão sendo utilizadas hoje de uma forma não adequada. É extremamente importante, portanto, haver um entendimento dessa utilização, bem como a confirmação dos efeitos e da eficácia farmacológica dessas plantas”, explica.
Um dos casos abordados pelo projeto foi o do famoso chá de pitanga, cujas propriedades analgésicas e antiinflamatórias já são amplamente conhecidas pelas populações locais da Ilha de Santa Catarina. Através do estudo etnofarmacológico da planta, a equipe de Santos descobriu uma grande concentração de miricitrina, uma espécie de flavanóide ainda pouco estudada a qual se atribuem, em grande parte, os efeitos benéficos da planta. Através da caracterização dos efeitos farmacológicos, que constitui uma das partes dos estudos pré-clínicos, foram comprovados, além dos efeitos analgésicos e antiinflamatórios, os efeitos antioxidantes e anti-tumorais da miricitrina. O chazinho da vovó está ganhando, portanto, sustentação científica.
Santos destaca, também, a importância comercial da pesquisa. “O uso de plantas medicinais, não só no Brasil como no mundo, vem crescendo substancialmente. Os achados e a demonstração de que algumas plantas do nosso Estado possuem atividade farmacológica e, principalmente, interesse terapêutico, podem acabar trazendo rendas e fundos para Santa Catarina”. Segundo Santos, ainda existe, no país, um grande filão a ser explorado. “O Brasil possui de 20% a 25% da flora mundial com possibilidades farmacológicas”. O professor ressalta, no entanto, que deve haver um desenvolvimento racional desse tipo de atividade, relacionando-a ao desenvolvimento sustentado regional.
De acordo com Santos, além de gerar crescimento econômico, a pesquisa das propriedades farmacológicas de plantas da nossa flora pode possibilitar o desenvolvimento de medicamentos mais acessíveis. “Os medicamentos fitoterápicos são, geralmente, muito mais baratos do que os medicamentos industrializados”, afirma.
Atualmente, além da continuação dos estudos farmacológicos, a pesquisa se encontra em fase de compilação de dados e publicação de resultados. Até o momento, uma tese de doutorado e uma dissertação de mestrado já foram desenvolvidas a partir do projeto e mais uma tese e uma dissertação estão sendo elaboradas. Além disso, já foram publicados 10 artigos em revistas internacionais.
Mais informações:
Adair Roberto Soares dos Santos – 3331-9352
arssantos@ccb.ufsc.br
Por Daniel Ludwich / Bolsista de Jornalismo na Agecom