Especial Pesquisa: Projeto avalia aspectos nutricionais de pacientes bariátricos do HU e de seus familiares
Estudantes dos cursos de Nutrição e de Odontologia da UFSC se uniram para avaliar a saúde dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica no Hospital Universitário. O projeto ‘Aspectos odontológicos e nutricionais de indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica’ realizado pelas pós-graduandas Fernanda Boesing e Juliana Sedrez Patiño deu origem a subprojetos e um deles enfoca os aspectos nutricionais destes pacientes e de seus familiares consangüíneos.
O trabalho ‘Relação intrafamiliar do ganho de peso em obesos mórbidos’ foi feito pelas estudantes Juliana Miranda, graduanda da 6ª fase de Nutrição, Viviane Rodrigues Silva, mestranda de Nutrição e Ana Cláudia Baladelli, pós-graduanda de Odontologia e apresentado no XVII Seminário de Iniciação Científica, que aconteceu na UFSC em outubro de 2007. As estudantes foram orientadas pela professora Emília Moreira.
A equipe analisou 41 indivíduos que fizeram a redução de estômago no HU entre 1999 e 2006 e suas famílias. O estudo considerou a genética (parentesco), os hábitos alimentares, o meio em que o paciente vive; as características de índice de massa corpórea (IMC), o peso e a presença de outras doenças crônicas não transmissíveis relacionadas à obesidade. O objetivo era avaliar a relação de ganho de peso entre familiares consangüíneos destes pacientes.
As estudantes aplicaram um questionário alimentar e constataram que os indivíduos submetidos à cirurgia de redução de estômago continuavam com os mesmos hábitos alimentares. Além disso, percebeu-se a dificuldade de mudar o estilo de vida dos pacientes, inserindo exercícios físicos e dieta para adequá-los às conseqüências desta intervenção cirúrgica. Para as estudantes, não está sendo dada atenção devida ao acompanhamento nutricional e psicológico no pré e pós-operatório .
Juliana Miranda esclarece que o estudo em familiares consangüíneos é importante para confirmar que os maus hábitos alimentares são diretamente influenciados pelo meio no qual a pessoa vive, determinando, conseqüentemente, o estilo de vida e tipo de alimentação predominante entre as famílias. Conclui-se ser essencial uma intervenção nutricional no ambiente familiar antes e depois dos indivíduos passarem pela cirurgia. Nos estudos sobre as famílias dos pacientes, observou-se sobrepeso em 57% das crianças, 60% dos adolescentes, 84% dos adultos e em todos os idosos.
Mas a estudante de Nutrição afirma que não é fácil adequar a alimentação das pessoas e que os nutricionistas têm desafios diários para promover a saúde dos pacientes, no caso os submetidos à cirurgia bariátrica. Apesar da dificuldade, Juliana acredita que colocando o sobrepeso e/ou obesidade como um problema familiar, e não individual, os estudos possam evoluir para medidas de saúde pública que valorizem e auxiliem o trabalho dos profissionais da saúde.
A preocupação com o sobrepeso não é à toa. Por um lado, é um problema que atinge todas as classes sociais. Por outro, quando verificado nos familiares consangüíneos dos indivíduos que possuem obesidade mórbida, revela um problema sócio-econômico. Juliana explica que a vida cotidiana acaba exigindo que as famílias realizem suas refeições fora de casa. Assim, a populaçao de baixa renda, por exemplo, dá preferência aos alimentos mais baratos e densamente energéticos, dificultando que tenham uma alimentação saudável.
O projeto das estudantes de Nutrição e Odontologia concluiu que a obesidade intrafamiliar esteve presente entre os obesos mórbidos submetidos à cirurgia bariátrica. Juliana fala que pretende continuar as pesquisas para atualizar os dados e avaliar com freqüência a saúde dos pacientes bariátricos. A preocupação em acompanhar os aspectos nutricionais no ambiente familiar é constante já que a obesidade torna-se ainda mais perigosa para a saúde do indivíduo quando vinculada a algumas doenças. Dos pacientes entrevistados, 75% apresentavam hipertensão, diabetes mellitus e outros problemas relacionados à obesidade.
A estudante Juliana Miranda espera que o projeto chame atenção de pesquisadores da área da saúde. Os resultados do trabalho mostram a importância de uma intervenção nutricional nas famílias, aliada a mais informações e também a boa vontade política. Poucos estudos interdisciplinares como estes são feitos e isto dificultou a comparação dos dados coletados pela equipe com dados anteriores. Assim, Juliana fala da importância de integrar os profissionais nas pesquisas, para que essa integração se reflita também em um melhor atendimento aos pacientes. Além disso, o enfoque na relação de indivíduos e suas famílias abre possibilidades de novos estudos que possam identificar outras causas da obesidade, somadas ao fator genético e aos hábitos alimentares.
Mais informações com Juliana Miranda 91373998 ou jullymiranda@hotmail.com
Por Fernanda Rebelo/bolsista de jornalismo da Agecom