Aterros sanitários de Içara, Biguaçu e Itajaí têm potencial para gerar energia para mais de 17 mil residências

Equipe em campo: levantamento estratégico
Pensando na possibilidade de aproveitamento desse recurso, dois
alunos do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) buscaram determinar a capacidade de produção de biogás nos três aterros do estado catarinense.
Matheus Zaguini e Paulo Ecco trabalharam durante um ano no levantamento de dados. Sob orientação do professor Armando Borges, Matheus e Paulo realizaram os trabalhos como bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Pibic/CNPq) e apresentarão os resultados das pesquisas no 19º Seminário de Iniciação Científica da UFSC, nos dias 21 e 22 de outubro.
Os aterros e a geração de energia
Durante a decomposição o lixo é submetido à ação natural de bactérias, que liberam um conjunto de gases denominado biogás, recurso energético rico em metano (CH4). Para gerar energia a partir desse recurso é preciso analisar a concentração de metano, que pode variar entre 30 e 60%. Esse percentual depende do tipo de substância orgânica, da quantidade e do tempo que ela está em decomposição. Quanto maior for o aterro, e mais tempo ele estiver sendo operado, maior será a produção de biogás.
Os aterros sanitários, diferente dos lixões onde o lixo é somente
depositado, são construídos para reduzirem os danos ao meio ambiente. Têm uma camada de impermeabilização de base, sistema de coleta e tratamento do lixiviado (chorume), drenagem de águas pluviais, compactação e cobertura diária dos resíduos. Recebem também drenos (tubos de concreto que são colocados desde a base) para a coleta e tratamento de gases. Foi nestes pontos que os estudantes da UFSC mediram a vazão de biogás.
O aterro sanitário de Biguaçu, que foi criado em 1991, hoje recebe cerca de 20 toneladas por mês de resíduos e estima-se que receba mais 1,3 milhão de toneladas até 2013, ano de fechamento. Ao todo são 34 drenos que produzem, em média, 2.056,2 Nm³/h (volume de gás em m³, sob determinada pressão ‘N’, por hora) de biogás, com concentração de 57,3% de metano.
Segundo o engenheiro mecânico Alexandre Takahashi, que trabalha com o
aproveitamento de biogás para geração de energia, essa quantidade de gás pode representar 2.350.000 kWh/mês de energia elétrica. Considerando que uma residência gasta em média 250 kWh/mês de energia elétrica, o aterro de Biguaçu poderia gerar energia para 9.400 residências.
Já os aterros sanitários de Içara e Itajaí apresentam uma produção de biogás inferior. Isso porque são menores e mais novos em relação ao de Biguaçu. Segundo Takahashi, o aterro de Itajaí poderia produzir energia elétrica para 5.800 residências e o de Içara para 2.000. Matheus Zaguini prevê que a maior produção de biogás do aterro de Itajaí será em 2029, mesmo ano em que finaliza a deposição de lixo no local.
O aterro de Içara, criado em 2005, é o menor e o mais novo entre os
analisados. A pequena quantidade (sete toneladas de resíduos por mês), e o pouco tempo de operação, resultam uma baixa produção de biogás. Nesse aterro, além de estudar a emissão do gás, a intenção é analisar o tratamento de lixiviado, conhecido como chorume.
Redução de gases que provocam o efeito estufa
Os dois alunos atuaram junto ao Laboratório de Resíduos Sólidos (Lareso), ligado ao Departamento de Engenharia Sanitária Ambiental da UFSC. Como bolsista de iniciação científica, Paulo Ecco focou seus estudos nos aterros de Içara e Biguaçu. Matheus Zaguini, durante seis meses, estudou a vazão de biogás do aterro de Itajaí. Os dois estudantes trabalharam com conjunto com Vanessa Dias e Débora Oliveira, que estudaram o tema na pós-graduação em Engenharia Sanitária da UFSC.
O estudo não levou em conta somente a produção de energia elétrica. Foi desenvolvido também com foco na redução de gases que provocam o efeito estufa. O metano contribui 21 vezes mais para o aquecimento global do que o dióxido de carbono (CO2) e, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), o CH4 proveniente dos aterros sanitários corresponde a até 20% de todo o metano produzido. Por esse motivo, a queima do biogás pode ser convertida em créditos de carbono.
Queima do chorume
O chorume é cerca de 100 vezes mais prejudicial aos lençóis freáticos do que o esgoto e atualmente o seu tratamento é feito em pequenas “lagoas”, o que afeta o meio ambiente. Por isso, são estudadas alternativas de evaporação desse líquido fazendo uso do biogás.
De acordo com o professor Armando, o tratamento do chorume com o uso do biogás é uma abordagem muito importante. Possibilita que o metano não seja jogado na atmosfera e ainda colabora com o tratamento de um liquido extremamente danoso, proveniente do próprio aterro.
Embora esse processo já seja adotado em alguns aterros sanitários, ainda são raros estudos sobre os resultados dessa evaporação. Segundo Débora Machado, cada lixiviado tem uma composição diferente porque é formado pelos diferentes materiais depositados no aterro, e como não existe um controle do que é depositado, fica difícil determinar os componentes químicos do chorume.
A equipe do Lareso está há dois anos estudando a queima do chorume em
um projeto piloto. Além da UFSC, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) estão realizando pesquisas na área. A intenção é desenvolver informação para conciliar o tratamento do biogás com o do lixiviado, em grande escala.
Seminário terá recorde de trabalhos
Durante os dias 21 e 22 de outubro alunos de graduação que desenvolveram projetos de pesquisa no último ano apresentam suas descobertas e constatações no 19º Seminário de Iniciação Científica da UFSC. É a oportunidade que os jovens cientistas universitários têm de mostrar seus trabalhos à comunidade e divulgar conhecimentos científicos. O evento faz parte da programação da 8ª Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão (Sepex) da UFSC, que será realizada de 21 a 24 de outubro.
Com cerca de 740 trabalhos, o seminário deste ano estabeleceu novo
recorde, ultrapassando a marca de 1996 (neste ano foram apresentados 712 projetos). As pesquisas serão divididas em três áreas: Ciências Exatas e da Terra, Ciências Humanas e Sociais e Ciências da Vida. Ao todo são 480 bolsistas inscritos pelos programas de pesquisa da UFSC, que se somam a alunos voluntários e de outras instituições.
Segundo o professor Armando Borges, o projeto de iniciação científica é muito importante, pois viabiliza pesquisas e gera conhecimento. Além disso, motiva os estudantes. “Os projetos incentivam a pesquisa e animam os alunos, que continuam realizando estudos na universidade depois da graduação”, destaca o orientador.
Para Matheus e Paulo a iniciação científica é uma possibilidade de aplicar em campo o que foi estudado no curso. “Sem a bolsa e a oportunidade que o projeto possibilita, provavelmente não teríamos realizado a pesquisa”, conta Matheus, que usará os dados do aterro de Itajaí para elaborar seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
Todos os projetos inscritos no Seminário de Iniciação Científica são
avaliados por uma comissão de professores da UFSC e por uma
comissão externa. Os seis melhores, dois de cada área, recebem o prêmio Destaque da Iniciação Científica. Os alunos premiados têm todas as despesas pagas para participar da Jornada de Iniciação Científica, evento que acontece durante a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), um dos principais eventos científicos do país.
Por Erich Casagrande / Bolsista de Jornalismo na Agecom
Fotos: Laboratório de Resíduos Sólidos (Lareso)
Mais Informações junto ao Laboratório de Resíduos Sólidos (Lareso) no
telefone 3721-7754, ou com os estudantes:
Paulo Ecco (48) 99775267 / pauloecco@hotmail.com
Matheus Zaguini (47) 99673909/ matheussz@hotmail.com
E com o professor Armando Borges / borges@ens.ufsc.br