Professora Zuleika Lenzi é a convidada do mês no Círculo de Leitura

26/10/2010 11:17

A professora aposentada Zuleika Mussi Lenzi, uma das mulheres mais ativas da cultura e da política catarinenses, é a convidada da 53ª edição do Círculo de Leitura de Florianópolis, marcada para quinta-feira, dia 28, às 18h, na sala Harry Laus da Biblioteca Universitária da UFSC. Nascida em 1939, ela possui formação na área da sociologia e sempre teve na história um tema contumaz e recorrente em suas leituras. Foi vereadora e secretária de Estado e se considera um “rato de livrarias”, porque está sempre comprando, aqui e quando viaja.

Zuleika lecionou durante 26 anos na Universidade Federal de Santa Catarina, onde também foi diretora de Cultura. Mais tarde, foi secretária de Cultura, Esporte e Turismo no governo de Pedro Ivo Campos. A administração cultural, por isso, foi outro foco permanente de suas leituras. “Queria entender como as coisas se passam nessa área, porque às vezes elas simplesmente não acontecem”, explica ela.

Também esteve muito ligada a movimentos feministas e teve atuação partidária destacada, fazendo parte do diretório do PMDB estadual. Essa vinculação, no entanto, não a impediu de se posicionar contra o ex-governador Luiz Henrique da Silveira quando este tentou municipalizar a Biblioteca Pública do Estado. Zuleika é uma crítica ferrenha da falta de uma política de distribuição do livro, embora exista uma lei estadual que regulamente do assunto. Ela foi a organizadora do livro “O kerb em Santa Catarina”.

O CÍRCULO

Criado pelo poeta Alcides Buss, o Círculo de Leitura é um projeto que permite ao convidado e aos presentes discutirem informalmente sobre os livros que estejam lendo, as leituras do passado e as influências de outros autores sobre o seu trabalho. Escritores e jornalistas como Salim Miguel, Oldemar Olsen Jr., Fábio Brüggemann, Inês Mafra, Mário Pereira, Maicon Tenfen, Cleber Teixeira, Dennis Radünz, Rubens da Cunha, Renato Tapado, Raimundo Caruso, Nei Duclós, Marco Vasques, Zahidé Muzart, João Carlos Mosimann, Mário Prata, Rogério Pereira, Rosana Bond e Tabajara Ruas foram alguns dos participantes das etapas anteriores do projeto.

BREVE ENTREVISTA

Como foram seus primeiros contatos com os livros? Havia, em sua casa, um ambiente propício para o convívio com a leitura?

Zuleika Lenzi – Minha mãe, Wladyslawa Wolowska Mussi, de origem polonesa, sempre foi uma grande incentivadora da leitura na família. Ainda hoje, ela mantém quatro estantes repletos de livros, assim como faço em minha casa. Passei a infância em Orleans, no sul de Santa Catarina, e nossos presentes sempre foram livros. Desde cedo, tive contato com a obra de Machado de Assis, em especial os seus contos. Depois também passei pela obra de Erico Veríssimo e de outros autores nacionais importantes.

A carreira acadêmica construída em cima da sociologia determinou o rumo de suas leituras posteriores?

Zuleika – Dei aulas durante muito tempo, em disciplinas como Sociologia Básica, Teoria Sociológica e Organização Social e Política do Brasil, e isso me levou a concentrar as leituras nesse campo. A sociologia é muito marcada pela história, o que direcionou o interesse para tudo o que tivesse relação com a história universal, a história do Brasil e a história de Santa Catarina. Nos tempos de universidade, o conhecimento histórico dos alunos era pequeno, mas se debatia muito sobre a luta de classes, a formação dos sindicatos e a vida dos imigrantes no Brasil.

Naqueles anos, sobrava algum tempo para a literatura?

Zuleika – Sim, mas eu também comecei a me interessar por temas como a administração cultural e a questão feminista. Porém não abandonei Machado de Assis, que comecei a ler aos 12 ou 13 anos, Rubem Braga e outros cronistas e contistas brasileiros. Ainda hoje, leio muitos jornais e gosto de cronistas como Sérgio da Costa Ramos, cujos textos remetem a coisas da Florianópolis antiga, e Flávio José Cardoso, que se detém sobre o sul do Estado, onde morei durante nove anos.

Como vê a relação dos jovens de hoje com a leitura?

Zuleika – Eles têm muita informação, mas nem sempre procuram ordenar esse volume de dados que recebem, o que os impede de desenvolver o senso crítico. Também não se veem programas que estimulem nos jovens o gosto pelos livros. Menos mal que as principais bienais do país estão procurando fazer isso com as crianças.

O que está lendo neste momento?

Zuleika – A gente lê muito de acordo os interesses e curiosidades mais imediatas. Estou lendo as obras “Pós-guerra – Uma história da Europa desde 1945” e “Passado imperfeito”, de Tony Judt, que analisam o contexto internacional após a 2ª. Guerra Mundial. Questões relacionadas à guerra, muitas delas ainda não resolvidas, me atraem muito, inclusive em relação aos desdobramentos ocorridos em Santa Catarina. Também me interessei por autores turcos, para entender melhor as ligações entre os mundos oriental e ocidental. Em geral, leio obras que me ajudem a compreender as transformações do mundo, a globalização e de que forma isso tudo influencia a produção cultural local.

Contatos com a professora Zuleika Mussi Lenzi podem ser feitos pelos fone (48) 3225-6598.

Por Paulo Clóvis Schmitz / Jornalista na Agecom