Evento inédito discute as “bibliotecas insaciáveis” em dois séculos de literatura argentina
Em “Veinte poemas para ser leídos en el Tranvía”, de 1922, Oliverio Girondo e, antes, em 1913, René Zapata Quesada em “Um libro saturniano”, reivindicam à literatura argentina o mesmo “estômago eclético” que Jorge Luis Borges lembraria mais tarde em sua conferência de 1951, publicada primeira em Sur em 1955 e mais tarde incluída nas Obras Completas em Discussão, “El escritor argentino y la tradición”. Nele, Borges destaca a voracidade da literatura argentina de amassar, triturar e digerir todos os temas para fazer matéria própria.
A vontade incessante de se apropriar do novo fez a produção literária, ensaística e crítica do país vizinho se converter em “bibliotecas insaciáveis”. Essa é a temática proposta pelo Simpósio Internacional de Literatura Argentina em seu Bicentenário, com intensa programação entre 20 de setembro e 6 de outubro, no Centro de Comunicação e Expressão da UFSC. A organização é do Núcleo Onetti e do Núcleo de Estudos Literários & Culturais (Nelic) do CCE.
“Quase que uma anomalia”, como define o professor Raul Antelo, membro da comissão organizadora do simpósio. Pela primeira vez, um evento deste porte é realizado no Brasil com a proposta de discutir a literatura argentina e seu papel tanto no âmbito latino-americano como sua projeção universal. “Há 60, 70 anos, um brasileiro urbano tinha uma informação muito mais acurada do que acontecia na Argentina. Instigado pela indústria cultural, hoje esse conhecimento se limita ao esporte e a estereótipos paupérrimos”, argumenta.
Enquanto a literatura brasileira é cadeira específica na Universidad de Buenos Aires desde a aproximação entre Getúlio Vargas e Juan Domingo Perón em meados da década de 1940, a produção literária e cultural argentina é ainda pouco evidenciada no Brasil. “É uma contrapartida, uma tentativa de montar uma aproximação que se afaste do lugar comum”, argumenta o professor Raul Antelo ao falar do simpósio.
A programação começa em 20 de setembro com a Mostra de Cinema Argentino “Tradição e Anomalia”. “Os filmes selecionados abrangem vários gêneros e problemáticas, dando conta da relação entre cinema e cultura.” A mostra traz desde “O segredo de seus olhos”, de Juan Campanella, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010, até “Los tres berretines”, de 1933, o segundo filme sonoro produzido na Argentina. Destaque ainda para “La hora de los hornos”, de 1968, uma das produções políticas mais contundentes e com formato pouco convencional, tendo mais de quatro horas de duração.
O simpósio será aberto em 29 de setembro com a conferência “Tres inmersiones fugaces (Ensayo, cleptomnesis, desprendimiento)”, de Noé Jitrik, professor titular da Universidad de Buenos Aires e um dos maiores nomes da crítica literária argentina. Durante o evento, que se estende até 1° de outubro, estão confirmadas as presenças do professor Roberto Ferro (Universidad de Buenos Aires) e da professora Gabriela Nouzeilles (Princeton University), entre outros convidados internacionais e pesquisadores brasileiros.
Paralelamente ao simpósio, a UFSC recebe a mostra de fotografia “O que é um Autor?”, com obras de Paola Cortés e Sebastián Freire, além do colóquio internacional “Tempo e Movimento: Imagens Argentinas”, com a conferência de abertura do professor Daniel Link (Universidad de Buenos Aires).
PROGRAMAÇÃO
Mostra de Cinema Argentino “Tradição e Anomalia”
20 a 24 de setembro de 2010
Simpósio Internacional de Literatura Argentina “As Bibliotecas Insaciáveis”
29 de setembro a 1º de outubro de 2010
Mostra de Fotografia “O que é um autor?”
29 de setembro a 6 de outubro de 2010
Colóquio Internacional “Tempo e Movimento: Imagens Argentinas”
4 a 6 de outubro de 2010
A programação completa pode ser vista em http://www.onetti.cce.ufsc.br/simposio/index.html
Mais informações podem ser obtidas com o jornalista Edson Burg pelo fone (48) 9944-9825 e pelo e-mail edson157@gmail.com.