TV UFSC exibe “Pelas Lentes do Palco”, documentário sobre o grupo teatral Luz de Luna
Nesta quinta-feira, às 20h30, o programa Primeiro Plano da TV UFSC estreia ‘Pelas Lentes do Palco’, documentário que apresenta o trabalho do Coletivo Teatral Luz de Luna, grupo colombiano, com sede no bairro Atanásio Girardot, região centro-oriental de Bogotá. O vídeo, produzido pela jornalista Marina Veshagem, mostra o dia a dia do grupo, o trabalho social desenvolvido junto à comunidade da região e apresenta a história por trás da peça mais importante do Luz de Luna, a “Donde está”.
A peça teatral, que estreou em 2 de abril de 1995 e nunca deixou de ser mostrada, retrata o caso real de Leonardo Gómez, um entre os 50 mil desaparecidos forçados, vítimas da violência e repressão política das décadas de 80 e 90.
“Pelas Lentes do Palco” apresenta imagens de bastidores e ensaios e depoimentos de integrantes do grupo, intercalados com entrevistas com personagens da peça principal.
Marina Veshagem fala sobre como optou por esta narrativa, suas impressões em relação à Colômbia, as dificuldades no processo de produção e a importância do grupo Luz de Luna no contexto político-social do país vizinho.
– Como surgiu a ideia do TCC?
Durante meu período de intercâmbio na França, no primeiro semestre de 2009, conheci muitos colombianos. Com o tempo, percebi que tínhamos vários aspectos em comum, na forma de se relacionar, de ver o mundo. A partir disso comecei a refletir sobre o que eu conhecia da Colômbia, um país com uma fronteira enorme com o Brasil e culturalmente parecido. Me dei conta de que sabia apenas da existência de narcotráfico, guerrilha e paramilitares, e que meu conhecimento sobre isso tudo era superficial. Foi então que decidi que queria falar sobre a Colômbia.
Comecei a buscar uma lente para criar e contar minha história. A primeira conclusão a que cheguei foi que queria falar da representação da realidade, estabelecer um jogo que instigasse a relação entre realidade e ficção. Decidi partir do teatro.
Os meus objetivos de trabalho eram: acompanhar o dia a dia de um grupo de teatro (Luz de Luna) e, através de entrevistas com cada integrante, fazer um retrato dessa realidade – de pessoas que vivem em coletivo e fazem teatro comunitário e político -, assim como a relação delas com a comunidade. Além dos atores, eu entrevistaria os personagens de um espetáculo, o que me permitiria traçar o paralelo entre ator e personagem, realidade e ficção. Tinha apenas meu projeto de TCC e um pré-roteiro muito incipiente (já que não sabia exatamente com que ia me deparar).
– Quais as maiores dificuldades encontradas?
As principais dificuldades foram a falta de oportunidade de fazer muitas gravações externas no bairro Atanasio Girardot, por ser um bairro muito pouco seguro, além de gravar sem o apoio de um cinegrafista. A pós-produção também foi bastante trabalhosa, como não prever que a transcrição e a legendagem pudessem levar tanto tempo. Mas talvez o principal seja a falta de experiência.
– Quais foram as suas impressões em relação a Colômbia?
A primeira impressão não foi um choque cultural. Bogotá lembra São Paulo em muitos aspectos: é uma cidade grande, muito populosa, com trânsito maluco e culturalmente parecida. Mais sei que isso é recente, a cidade mudou muito depois que teve início uma forte política de segurança. Aos poucos, detalhes foram chamando a atenção e se destacando, como a presença de militares todos os dias no centro da cidade ou a utilização de cães na entrada de centros comerciais, para a identificação de explosivos ou drogas.
– Como se deu a escolha do grupo Luz de Luna?
Durante o curso de jornalismo, tive uma aproximação maior com a área de vídeo e acreditava que esse seria o melhor suporte para o meu trabalho, já que a imagem do teatro é muito forte. Comecei uma busca incessante por grupos de teatro que se encaixassem na minha idéia. E no Google que encontrei o Colectivo Teatral Luz de Luna. Ao ler sobre a filosofia do grupo, os espetáculos que já haviam feito e as aspirações que tinham, cheguei à conclusão que, se na prática eles executassem o que propunham, esse era o grupo escolhido. Tentei contato por e-mail, mas obtive uma única resposta: “Estaremos atentos a su trabajo”. Então, deixei acertado com o diretor do grupo que eu iria realizar um trabalho com eles.
– A mensagem principal do seu trabalho é apresentar uma forma alternativa de resistência e crítica, por meio do teatro de rua. Qual foi a importância de iniciativas como a do grupo Luz de Luna no processo político colombiano?
Minha intenção é mostrar uma “ilha”, um grupo singular – dentro de um universo num país como a Colômbia -, mas que tem uma forma peculiar de se relacionar com a reali do teatro, optando por criar uma microssociedade que tem uma visão diferente da dominante.
Eu pude observar que eles têm uma formação política muito sólida e um compromisso real com o comunitário, com a transformação. Isso é o importante para o processo político, que não se faz apenas num universo macro, mas que aponta para um caminho diferente com esse tipo de iniciativa.
– No Brasil, tal iniciativa seria importante? Por quê?
No Brasil há iniciativas como essas, de grupos que, assim como Luz de Luna, fazem parte Rede Latino-Americana de Teatro Popular. O Brasil não vive uma ditadura permanente, constitucional. Temos assegurados direitos de liberdade de expressão que não podem ser observados na Colômbia, por exemplo.
– O que mais lhe agradou no documentário?
É difícil dizer. Mas de forma geral, creio que foi a possibilidade de mostrar aspectos da realidade colombiana pouco conhecidos no Brasil e de uma maneira não óbvia, jogando com a realidade e a ficção e revelando como elas se misturam e se confundem.
Assista ao documentário “Pelas Lentes do Palco” na quinta-feira,
25/8, às 20h30, na TV UFSC, canal 15 da Net. Para mais informações
sobre a programação da emissora, acesse www.tv.ufsc.br
Por Marcone Tavella/ Bolsista de Jornalismo – TV UFSC



























