Mais de 300 monitores preparados pelo Núcleo de Estudos da Terceira Idade atuam em projetos sociais

Maria Cecília e Acélio: valorização da cidadania
O curso, com duração de seis semestres, é oferecido pelo Núcleo de Estudos da Terceira Idade (Neti), que funciona desde 1982 na Universidade Federal de Santa Catarina. As inscrições foram abertas segunda-feira e podem ser feitas até o dia 6 de agosto no próprio núcleo. As aulas serão às segundas e quartas-feiras, das 14h às 16h, em salas do Centro Sócio-econômico (CSE). No dia 10 de agosto, haverá a aula inaugural e uma exposição de trabalhos dos gestores na Reitoria da UFSC.
O conteúdo é ministrado por professores de diferentes centros de ensino da universidade e investe forte nas áreas de humanas (como psicologia, sociologia e antropologia), de saúde e de políticas públicas. Os alunos entram contando com idade entre 55 e 65 anos, na maior parte dos casos, e ao saírem estão aptos a trabalhar como voluntários, aplicando também o que conheceram sobre os fundamentos da gerontologia.
Com isso, aprendem uma nova forma de enxergar a vida, entendem a sua própria condição, valorizam a bagagem que acumularam e se habilitam a suprir carências de pessoal em creches, hospitais e clínicas geriátricas. “Mais de 120 instituições recebem essas pessoas”, conta Maria Cecília, que é assistente social e também dá aulas no curso de gestores.
Direitos e autonomia
A coordenadora faz questão de ressaltar que os idosos aprendem ali a conhecer seus direitos, tornam-se mais autônomos, valorizam a cidadania e o próprio processo de envelhecimento. “São nossos parceiros e se comprometem com as nossas causas”, afirma. A Associação de Amigos do Hospital Universitário (AAHU) é um dos beneficiários desse trabalho, porque depende desses voluntários para continuar desenvolvendo seus projetos.
Ela calcula que mais de 40 mil pessoas já foram alcançadas pelos projetos com os quais se envolveram os gestores formados pelo curso do Neti. Hoje, existem 135 grupos de convivência em Florianópolis, muitos deles contando com egressos do núcleo, a partir de parceria deste com a Secretaria de Desenvolvimento Social da prefeitura. “Estamos tirando as pessoas de casa e integrando-as à Universidade, onde há muitas atividades culturais e científicas que são muito úteis para elas”, ressalta Cecília.
Experiências ricas
Acélio Richetti, formado no curso de gestores no primeiro semestre de 2009, é hoje um voluntário no Núcleo de Estudos da Terceira Idade. Ele é mais um dos que ajudam em eventos dos quais o Neti participa, como a Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFSC (Sepex), encontros e seminários. Há poucos dias, assumiu a função de resgatar o Varal Literário, que o núcleo realizava para promover a integração e estimular o lado literário de seus alunos.
Richetti trabalhou durante 10 anos com atividades físicas junto a idosos na Lagoa da Conceição e também no Instituto Estadual de Educação, envolvendo estudantes, pais e professores em ações que mostravam a importância de respeitar os idosos e reconhecer a importância que tiveram na construção do país. “Aqui, nos sentimos revigorados e aprendemos a encarar o envelhecimento como mais uma etapa da vida”, diz ele.
Outra voluntária muito identificada com o Neti é Alba Mazzola, que se formou em 1999 e não parou mais de atuar em projetos sociais. Ela lembra que a primeira experiência foi chocante, porque o trabalho foi feito numa creche próxima à Penitenciária Estadual, no bairro Agronômica. Ali, ela tomou contato com uma realidade dura, marcada por carências de todos os tipos. “As crianças queriam levar para casa, para dividir com os irmãos, o que dávamos a elas para comer”, conta.
Outra experiência que a marcou foi ter sido discriminada por ser idosa, na mesma escola. “O que essas velhas estão fazendo aqui?”, ouviu de uma professora. Depois, quando percebeu os resultados, a mesma pessoa a convidou para fazer trabalho semelhante com seus alunos. Dona Alba relutou, mas acabou aceitando, por causa das crianças. Depois, ela passou a dar palestras para idosos e adolescentes sobre drogas, gravidez precoce e outros assuntos em vários municípios do Estado.
Hoje, ela dá aulas de bordado para senhoras na Escola de Aprendizes de Marinheiros, no bairro Estreito. Integrante da associação de artesãos da UFSC, está ligada ao Neti desde 1995. E só tem elogios ao curso de monitores e ao núcleo. “Os professores são fora de série”, afirma. “Moro sozinha, e o Neti me ajuda a ocupar o tempo”.
Mais informações podem ser obtidas no Núcleo de Estudos da Terceira Idade (Neti), pelos fones 3721-9445 e 3721-9909.
Por Paulo Clóvis Schmitz / Jornalista da Agecom
Fotos: Paulo Noronha / Agecom