Artista total Cozarinsky fala hoje na UFSC sobre contaminação na arte
O público de Florianópolis tem a oportunidade de ouvir hoje, quinta-feira, às 18h30min, pela primeira vez em Santa Catarina, o multiartista e pensador argentino radicado na França Edgardo Cozarinsky. Cineasta, ator, romancista, contista, dramaturgo e ensaísta, o premiado Cozarinsky vai expor sua estética inovadora na conferência “Elogio da Contaminação”, dentro do Ciclo O Pensamento no século XXI, promovido pela Secretaria de Cultura e Arte em parceria com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFSC. A conferência ocorre no Bosque da Ilha, no segundo andar do Centro de Cultura e Eventos da UFSC.
Durante a Mostra Cozarinsky, promovida pelo Curso de Cinema no auditório do Centro de Comunicação e Expressão da UFSC a título de ilustração à conferência, estão sendo exibidos desde o dia 30 algumas das mais representativas obras do cineasta, como A guerra de um homem só ou Boulevares do crepúsculo. O próprio Cozarinsky participa do encerramento da mostra na sexta-feira, dia 2, às 18h30min, no mesmo auditório, com a projeção de Apontamentos para uma biografia imaginada, seu filme de2010. Ao final, os espectadores terão a oportunidade de conversar com este sofisticado criador, dublê de cineasta experimental e de escritor.
Em crítica ao primeiro desses filmes, que narra a ocupação de Paris sob os alemães, mas que é uma poderosa reflexão sobre o poder e a história, Pascal Bonitzer considera que “Cozarinsky inverteu – genialmente, não hesito em dizê-lo – o princípio do documentário: aqui são as imagens que constituem o comentário da voz. […] Daí resulta paradoxalmente que este filme expressamente baseado em mentiras (pelo menos em dois tipos de mentira: aquelas, triviais, da propaganda, e as mais sutis da literatura) surja como a descrição mais verdadeira, mais rica e a mais cativante da época da Ocupação.”
A promoção é iniciativa da Secretaria de Cultura e Arte juntamente à Pro-Reitoria de Pós-Graduação da UFSC, como parte do ciclo Pensamento do século XXI.
Sua estética tem a importância de criar cinema no paradoxo contemporâneo de fazer a arte do novo e do arquivo. O cinema de Cozarinsky revela a imagem no sentido do movimento e da memória, do presente e da história. Sobre essa estética o professor Raul Antelo, consultor da mostra e interlocutor de Cozarinsky na conferência de hoje escreve:
– Na semana passada, estiveram reunidos em Serpa, no Alentejo, um grupo de cineastas experimentais para pensarem a questão da imagem-arquivo. Tratava-se, segundo os organizadores, de um tema encontrado, um ready-made, para problematizar o filme-compilação ou filme-de-montagem, que atravessa a história do cinema, a partir das vanguardas dos anos vinte. Um século de imagens narrado a partir de imagens anteriores, dando ênfase à teoria da ´imagem em movimento´. O desafio era, portanto, tomar a imagem-arquivo, em parte como uma imagem ´de arquivo´, mas também como uma imagem nova, uma releitura da História que, realizando-se, anula, ao mesmo tempo, o próprio objetivo histórico, como no cinema de Yervant Gianikian e Angela Ricci-Lucchi ou no de Edgardo Cozarinsky, cineastas que tendem uma ponte que vai de Jean-Luc Godard a Harmut Bitomsky. Todos esses artistas, presentes em Serpa têm um ponto em comum: o arquivo é o lugar do qual eles partem, como antes deles, e na arte, Warburg ou Richter.
Data:
1° de julho, quinta, às 18h30, no auditório do Bosque da Ilha, do Centro de Cultura e Eventos, conferência Elogio da contaminação com Edgardo Cozarinsky.
2 de julho, sexta, às 18h30 – Filme: Apuntes para una biografía imaginada (2010), com a presença de seu autor, Edgardo Cozarinsky.
Por Raquel Wandelli/jornalista na Secarte