Após Pensamento do Século XXI, Cozarinsky apresenta ´Apontamentos para uma biografia imaginada`

02/07/2010 17:14

Depois de palestrar sobre o ´Elogio da Contaminação`, dentro do Ciclo O Pensamento do Século XXI, o cineasta, dramaturgo, romancista, contista e ensaísta argentino radicado na França Edgardo Cozarinsky apresenta, encerrando a Mostra Cozarinsky, `Apontamentos para uma biografia imaginada´, filme de sua autoria. A exibição acontece no auditório do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) da UFSC, às 18h30 desta sexta (02), e será seguida de debate com o multiartista.

A Mostra Cozarinsky é uma promoção do Curso de Cinema, e foram exibidos, desde o dia 30, algumas das mais representativas obras do cineasta, como ´A guerra de um homem só` ou ´Boulevares do crepúsculo`.

Em crítica ao primeiro desses filmes, que narra a ocupação de Paris sob os alemães, mas que é uma poderosa reflexão sobre o poder e a história, Pascal Bonitzer considera que “Cozarinsky inverteu – genialmente, não hesito em dizê-lo – o princípio do documentário: aqui são as imagens que constituem o comentário da voz. […] Daí resulta paradoxalmente que este filme expressamente baseado em mentiras (pelo menos em dois tipos de mentira: aquelas, triviais, da propaganda, e as mais sutis, da literatura) surja como a descrição mais verdadeira, mais rica e a mais cativante da época da Ocupação.”

Sua estética tem a importância de criar cinema no paradoxo contemporâneo de fazer a arte do novo e do arquivo. O cinema de Cozarinsky revela a imagem no sentido do movimento e da memória, do presente e da história. Sobre essa estética o professor Raul Antelo, consultor da mostra e interlocutor de Cozarinsky na conferência escreve:

– Na semana passada, estiveram reunidos em Serpa, no Alentejo, um grupo de cineastas experimentais para pensarem a questão da imagem-arquivo. Tratava-se, segundo os organizadores, de um tema encontrado, um ready-made, para problematizar o filme-compilação ou filme-de-montagem, que atravessa a história do cinema, a partir das vanguardas dos anos vinte. Um século de imagens narrado a partir de imagens anteriores, dando ênfase à teoria da ´imagem em movimento´. O desafio era, portanto, tomar a imagem-arquivo, em parte como uma imagem ´de arquivo´, mas também como uma imagem nova, uma releitura da História que, realizando-se, anula, ao mesmo tempo, o próprio objetivo histórico, como no cinema de Yervant Gianikian e Angela Ricci-Lucchi ou no de Edgardo Cozarinsky, cineastas que tendem uma ponte que vai de Jean-Luc Godard a Harmut Bitomsky. Todos esses artistas, presentes em Serpa, têm um ponto em comum: o arquivo é o lugar do qual eles partem, como antes deles, e na arte, Warburg ou Richter.

Por Raquel Wandelli/jornalista na Secarte