Projeto de extensão da Universidade possibilita compra de produtos orgânicos
A Praça da Cidadania, localizada em frente à Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e geralmente usada como um espaço de transição dos estudantes entre um Centro de Ensino e outro, às quartas-feiras, se torna ponto de encontro para aqueles interessados em comprar alimentos orgânicos. Desde 2006, as barraquinhas da EcoFeira Solidária oferecem pães, geléias e laticínios à comunidade acadêmica e moradores de Florianópolis que passam pelo local.
A diversidade desses alimentos produzidos em Santa Catarina, através da agricultura familiar, é muito maior do que os expostos nas barracas. Para que a comunidade possa ter à disposição uma maior quantidade de produtos, os organizadores da EcoFeira Solidária também desenvolvem a Compra Coletiva. Juntas, essas duas atividades formam um projeto de extensão da UFSC.
Óleos, trigo, farinha, iogurte, feijão, canjica. A lista é grande e faz parte de um total de 68 produtos orgânicos que a Compra Coletiva oferece. Os interessados em comprar produtos livres de agrotóxicos podem escolher o que querem, entrando em contato via e-mail com a organização do projeto ou indo às EcoFeiras. A organização possui uma relação de todos os produtos que são comercializados. E não são apenas alimentos que compõe a lista.
Artigos de higiene pessoal, como sabonetes e gel dental, também são produzidos pelos agricultores que fazem parte do projeto. A data limite para se enviar o pedido é também o prazo para o pagamento dos produtos. A partir daí, é definida uma data para a “partilha”, dia em que as pessoas podem retirar o pedido que fizeram.
Ano passado foram realizadas sete compras coletivas e a expectativa é que a cada mês sejam abertos novos pedidos. “Em março tivemos a inscrição de 80 pessoas. O número de participantes foi maior porque a última Compra Coletiva tinha sido realizada em dezembro”, explica Manfred Molz, mais conhecido como Mahesh, um dos organizadores da feira. Ele lembra que desde 2005, quando iniciaram as reuniões para definir as bases do projeto, os participantes começaram a entrar em contato com agricultores familiares que produzem orgânicos.
Atualmente, a maioria desses agricultores é produtor em Santa Catarina, em cidades como Mondaí, São Bonifácio, São Bento, Bom Retiro, Aurora e Florianópolis. Mas o projeto também incorpora agricultores do Paraná e do Rio Grande do Sul que fazem parte de associações fornecedoras de produtos orgânicos.
À medida que a Compra Coletiva se desenvolve, os organizadores procuram descentralizar o comércio de produtos orgânicos. “Consideramos o projeto um comércio justo, porque o preço dos produtos é decidido em conjunto com os produtores e com os organizadores da Compra Coletiva. Não se acrescenta um valor em cima do produto na hora de vendê-los aos clientes”, enfatiza Mahesh.
Valor justo para clientes e para os pequenos produtores, já que esse acréscimo não retorna aos agricultores familiares, quando seus produtos são vendidos às grandes empresas de supermercado. E isso resulta em um dos problemas enfrentados por eles, uma vez que faltam recursos de crédito para as famílias investirem no plantio e melhorarem o negócio. Quando são filiados a alguma associação, a facilidade de crédito é maior, assim como a dimensão de regiões em que seus produtos são comercializados.
Mas nem todos os agricultores familiares, geralmente famílias inteiras que vivem da produção em suas terras, fazem parte de uma organização desse tipo. Outra exigência feita pelas redes de supermercado é um padrão dos produtos que envolve desde o registro da marca até selos internacionais de qualidade. Nesse sentido, a Compra Coletiva atua de forma diferente junto aos pequenos produtores, pois também abrange agricultores familiares que produzem um produto específico, em menores quantidades.
As cidades de Itajaí, Palhoça e Criciúma já tentaram implantar o projeto da Compra Coletiva. Nos dois últimos municípios, os pedidos eram feitos e enviados à organização de Florianópolis, que encomendava os produtos como se esses fossem para um só comprador. Quando a encomenda chegava, os responsáveis de cada cidade buscavam os produtos. Porém, nenhuma das iniciativas ainda é desenvolvida com freqüência regular.
O próximo passo para a organização da Compra Coletiva é negociar um desconto de 5% a 10% no preço dos produtos, para que os participantes deixem de ser voluntários. Desde o dia 9 de março, os interessados podem enviar novos pedidos para a compra do mês.
Mais informações pelo telefone: (48) 3234-5953, com Mahesh ou através do e-mail compracoletivafloripa@yahoo.com.br
Por Claudia Mebs Nunes/ Bolsista de Jornalismo na Agecom
Fotos: Paulo Noronha/ Agecom