Exposição sobre a riqueza biológica e cultural do Rio São Francisco termina dia 31

21/05/2010 17:51

Prossegue até o dia 31 de maio a mostra fotográfica “Feiras do Rio São Francisco”, no Espaço Cultural do Hall da Reitoria da UFSC. A mostra é fruto de uma viagem de 20 dias, em pleno verão, da fotógrafa e documentarista Tatiana Kviatkoski pelas margens do Rio São Francisco de barco, de balsa, a pé e de carro, da foz até a represa do Xingo. Na aventura, Tatiana produziu um rico álbum da gente que vive nas cidades ribeirinhas do São Chico, o maior rio brasileiro, que atravessa os estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Também mostra a agonia do rio, assoreado e contaminado pela represa e pela poluição. É ao mesmo tempo uma homenagem e uma denúncia.

Promovida pela Secretaria de Cultura e Arte (SeCarte) e Agência de Comunicação (Agecom) da UFSC, a exposição fotográfica mostra a riqueza biológica e cultural proporcionada pelo rio antes que morra pela exploração predatória e antes que os povoados ribeirinhos desapareçam engolidos com a inundação do mar provocada pela represa.

O colorido vibrante das frutas, a confusão dos produtos do campo rolando dos balaios, o coro dos feirantes, o vaivém dos barcos chegando com as mercadorias, os cães a farejar os restos, as rendas de linho de Entre Montes, os guris minguados a distrair os feirantes pra lucrar uma guloseima… São cenas cotidianas e vivas das feiras que bordam as margens do São Francisco como cordões de gentes marcadas pelo sofrimento e pela alegria da vida sertaneja onde o trabalho escravo ainda é uma realidade.

Paranaense radicada em Florianópolis, a fotógrafa assistiu ao Festival Internacional de Jegue e pode perceber a diferença e a semelhança entre a cultura açoriana e a nordestina. Nas feiras, Tatiana e o namorado e também fotógrafo Joi Cletison viveram o dia a dia dos feirantes na montagem das barracas, no abate do gado, porcos e galinhas. Presenciaram o preparo da carne do sol e dos pratos típicos que são consumidos na própria feira. Nas primeiras cidades fundadas pelo português Américo Vespúcio no inicio do século XVI conheceram a malícia ingênua dos feirantes, a contação de causos, a partilha da cachacinha, as procissões. Em cada povoado, eram inebriados por uma profusão de cores, odores e sons que atestam a musicalidade do povo nordestino não importa o nível de pobreza.

Percorrendo caminhos aonde só se vai de jegue antes do mar subir, sempre costeando o rio, encontraram uma cidade com um presépio (lapinha) montado no meio do sertão e onde Lampião foi assassinado. Embora a cidade se chame Piranhas, não existe mais esse peixe no lugar por causa da salinidade que invade o rio. Muitos ecossistemas estão sendo destruídos por conta da poluição, do esgoto e da represa. Com a transposição de águas pelas hidrelétricas, o povoado do Cabeço, sede do primeiro telégrafo do São Chico, muito próspero no passado, desapareceu por inteiro. O farol já está mergulhado a uns cinco metros, sumiram duas igrejas, três campos de futebol, as escolas e a maioria das casas. Tudo engolido pelo mar. Sobrou uma única família. “Eu queria conhecer o rio São Francisco enquanto ainda é o que a gente pensa”, diz Tatiana, que está elaborando um documentário para denunciar a ameaça contra esse patrimônio da humanidade de onde tudo provém e para onde tudo retorna: ali as gentes pescam, se lavam, lavam a roupa e as panelas, bebem a água, navegam. “Até quando esse rio vai sobreviver?”, ela se pergunta.

Informações: (48)9608-6186 ou tatiostra@yahoo.com.br

Por Raquel Wandelli/ Jornalista na SeCarte/UFSC