Exposição fotográfica ´Morte e vida severina à beira do rio São Francisco` abre na terça
Durante 20 dias de pleno verão, a fotógrafa e documentarista Tatiana Kviatkoski percorreu as margens do Rio São Francisco de barco, de balsa, a pé e de carro, da foz até a represa do Xingó. A aventura concretizou um antigo sonho de conhecer a gente que vive nas cidades ribeirinhas do São Chico, o maior rio brasileiro, que atravessa os estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. O resultado da viagem é uma exposição fotográfica que mostra a riqueza biológica e cultural proporcionada pelo rio antes que morra pela exploração predatória e antes que os povoados ribeirinhos desapareçam engolidos com a inundação do mar provocada pela represa. Ao mesmo tempo uma denúncia e uma homenagem ao rio.
A mostra “Feiras do Rio São Francisco” abre no dia 18 de maio, às 19 horas, no espaço cultural do hall da reitoria da UFSC e prossegue até o dia 31 de maio, em uma promoção da Secretaria de Cultura e Arte (SeCarte) e Agência de Comunicação da UFSC. O colorido vibrante das frutas, a confusão dos produtos do campo rolando dos balaios, o coro dos feirantes, o vaivém dos barcos chegando com as mercadorias, os cães a farejar os restos, as rendas de linho de Entre Montes, os guris minguados a distrair os feirantes pra lucrar uma guloseima… São cenas cotidianas e vivas das feiras que bordam as margens do São Francisco como cordões de gentes marcadas pelo sofrimento e pela alegria da vida sertaneja onde o trabalho escravo ainda é uma realidade.
Paranaense radicada em Florianópolis, a fotógrafa assistiu ao Festival Internacional de Jegue e pôde perceber a diferença e a semelhança entre a cultura açoriana e a nordestina. Nas feiras, Tatiana e o namorado e também fotógrafo Joi Cletison viveram o dia a dia dos feirantes na montagem das barracas, no abate do gado, porcos e galinhas. Presenciaram o preparo da carne do sol e dos pratos típicos que são consumidos na própria feira. Nas primeiras cidades fundadas pelo português Américo Vespúcio no inicio do século XVI conheceram a malícia ingênua dos feirantes, a contação de causos, a partilha da cachacinha, as procissões. Em cada povoado, eram inebriados por uma profusão de cores, odores e sons que atestam a musicalidade do povo nordestino não importa o nível de pobreza.
Percorrendo caminhos aonde só se vai de jegue antes do mar subir, sempre costeando o rio, encontraram uma cidade com um presépio (lapinha) montado no meio do sertão e onde Lampião foi assassinado. Embora a cidade se chame Piranhas, não existe mais esse peixe no lugar por causa da salinidade que invade o rio. Muitos ecossistemas estão sendo destruídos por conta da poluição, do esgoto e da represa.
Com a transposição de águas pelas hidrelétricas, o povoado do Cabeço, sede do primeiro telégrafo do São Chico, muito próspero no passado, desapareceu por inteiro. O farol já está mergulhado a uns cinco metros, sumiram duas igrejas, três campos de futebol, as escolas e a maioria das casas. Tudo engolido pelo mar. Sobrou uma única família. “Eu queria conhecer o rio São Francisco enquanto ainda é o que a gente pensa”, diz Tatiana que está elaborando um documentário para denunciar a ameaça contra esse patrimônio da humanidade de onde tudo provém e para onde tudo retorna: ali as gentes pescam, se lavam, lavam a roupa e as panelas, bebem a água, navegam. “Até quando esse rio vai sobreviver?”, ela se pergunta.
Mais informações: 3721-9459 e 9911-0524, raquelwandelli@reitoria.ufsc.br, www.secarte.ufsc.br
SERVIÇO:
Abertura: 18 de maio de 2010 as 19:00 horas
Local: Espaço Cultural Hall da Reitoria da UFSC
Período: 19 a 31 de maio de 2010
Promoção: Universidade Federal de santa Catarina – Secretaria de Cultura e Arte
Apoio: Agecom/UFSC e Colorsysten
Fotografias para ilustrar a matéria:
www.nea.ufsc.br/Expo_FeirasdoRioSaoFrancisco_TatianaKviatkoski.zip
Contatos: (48)9608.6186 ou tatiostra@yahoo.com.br
Abaixo texto de apresentação da exposição e um breve currículo da fotografa.
O Rio São Francisco foi descoberto por Américo Vespúcio em 1502. O “Velho Chico” como carinhosamente é chamado, tem também o título de “Rio de integração Nacional”, nasce na Serra da Canastra em Minas Gerais e atravessa os estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas percorrendo assim 2700 quilômetros. É o maior rio inteiramente brasileiro! Após a represa de Xingó o rio corre manso por vários quilômetros até encontrar o mar. Deságua numa costa lisa entre coqueiros, dunas, manguezais e praias paradisíacas.
O Velho Chico caminha para o mar, irriga a terra árida e realiza o verdadeiro milagre de São Francisco: Dá vida ao sertão. As cidades ribeirinhas dependem do rio para tudo: transporte, irrigação, água potável, lazer, integração, etc.
Nestas cidades ribeirinhas encontramos as feiras livres que são realizadas diariamente, semanalmente ou às vezes de quinze em quinze dias dependendo da clientela. Estas feiras ainda mantêm costumes e hábitos do século XIX no processamento e comércio dos alimentos e utensílios.
As lentes da Fotógrafa Tatiana Kviatkoski captaram justamente essa nostalgia que encontramos nas feiras livres que resistem ao tempo e não aceitam mudanças. São imagens poéticas que juntam o sofrimento do sertanejo com a felicidade de receber bem os seus clientes num colorido vibrante a apaixonante.
Joi Cletison – Historiador e Fotografo
Tatiana Kviatkoski cursa Ciências Sociais na Universidade Federal de Santa Catarina. Participou como fotógrafa de várias exposições. Atua como produtora, roteirista e diretora de filmes documentários. Produziu diversas obras sobre a história e a cultura catarinenses, os títulos mais recentes são: “Mar & Cultura”; “Palhoça, Terra de Muitas Histórias”; “Ganchos entre Mares e Montanhas” e “As Fortificações na Ilha de Santa Catharina”.
Por Raquel Wandelli/ Jornalista na SeCarte/UFSC