Seminário Carl Einstein exibição de filme precursor do neorrealismo

15/04/2010 19:04

A exibição do filme Toni, do crítico de arte alemão Carl Einstein e do cineasta francês Jean Renoir dá continuidade hoje, às 18 horas, no auditório do Centro de Comunicação e Expressão da UFSC, à série de seminários “Carl Einstein, pensador da Modernidade”, desenvolvida pela historiadora francesa Liliane Meffre. Ontem o dia foi dedicado à reflexão sobre as artes do espetáculo, com destaque para as colaborações de Einstein, Meyerhold e Léger. Nesta sexta (16), às 10 horas, no auditório da Reitoria, Liliane Meffre profere a esperada conferência final «Carl Einstein (1885-1940), na vanguarda das vanguardas», que terá tradução simultânea do francês.

Encenado por atores não-profissionais e, em alguns casos, deliberadamente não franceses, `Toni` pode ser considerado um filme precursor do cinema neorrealista. É bom notar que o nome de Einstein não figura nos créditos por sua origem judia, mas recentemente Meffre localizou uma correspondência que esclarece ser Einstein não apenas o autor do scénario, como se dizia, mas também da “ambientação artística”, com a qual o filme opera uma sorte de encenação do imaginário de revistas do quilate de Documents e Transition e `Last but not least`. Toni é também a estréia de Luchino Visconti como assistente de direção.

A segunda edição do Ciclo O Pensamento no Século XXI iniciou na segunda, 13, com a professora da Universidade de Bourgogne, doutora em História da Arte-Estética e `Docteur d’Etat` em estudos germânicos. Uma forma atrativa de se aprofundar no mundo do escritor que ela reverencia é a pequena, porém interessante exposição de documentos e edições de Carl Einstein organizada pelo professor Raúl Antelo, crítico, teórico e professor da Pós-Graduação em Literatura da UFSC. Sexta-feira é o último dia para apreciar essa exposição no Hall da Reitoria e no Hall do CCE.

Essas mostras paralelas reúnem imagens raras como a foto de Einstein descoberta recentemente em Gênova, e outra em pose de dândi, tirada em Berlim em 1920, além de facsimiles de carta do escritor a Klee e a outros amigos. Trazem ainda algumas páginas dos jornais anarquistas e da que Einstein estampou na Alemanha, com desenhos de George Grosz e uma cópia do primeiro livro que faz referência a Einstein no Brasil, o livro sobre a arte dos alienados, de Osório César, autor de Onde o proletariado dirige, editado no Instituto Psiquiatrico do Juquery, em 29. São peças importantíssimas para a interpretação do sentido da obra e da vida do autor, como a revista Documents (1929-30), que traz o verbete sobre o Absoluto, artigo inédito do autor. “Esse texto nos permite aventar o que teria sido o verbete sobre Política Absoluta que ele redigiu para a Enciclopédia Soviética, nunca publicada”, completa Antelo.

Promovido pela Secretaria de Cultura e Arte (SeCarte) com apoio da

Pró-Reitoria de Pós-Graduação, o seminário faz parte das comemorações do aniversário de meio século da UFSC. Lançado no ano passado, o Pensamento no século XXI promove palestras mensais com grandes intelectuais da atualidade, sob a consultoria do professor Antelo. CDe acordo com a secretária Maria de Lourdes Borges, o evento se inscreve na proposta de fazer da UFSC um cenário da discussão internacional contemporânea sobre arte, filosofia e literatura.

Quase desconhecido no Brasil e sem nunca ter obtido um título de doutor, Einstein criticou a arte e o conceito de objeto. Seu trabalho é considerado pioneiro ao apresentar artefatos provenientes da África como obras de arte. Desiludido com os rumos adotados pelo stalinismo, lutou na Coluna Durruti, na Guerra Civil Espanhola, entre 1936-37. Seu idealismo artístico o levou ao suicídio em 1940, num campo de concentração. “A liberdade indispensável em relação a si próprio e à sociedade é o que torna Einstein ainda necessário hoje em dia”, acentua o professor Raul Antelo.

Liliane Meffre, que visita o Brasil pela primeira vez, especializou se nas relações entre arte e antropologia, primitivismo, psicanálise e arte moderna, notadamente, no espaço franco-alemão. Dedicou grande parte de seus trabalhos a Carl Einstein e traduziu várias de suas obras, como Negerplastik. Autora do livro Carl Einstein (1885-1940. Itinéraires d’une pensée moderne), editou vários volumes do autor na França, Alemanha, Bélgica e Espanha e traduziu ao francês obras essenciais, como Negerplastik, o ensaio fundador dos estudos sobre a escultura negra e a arte africana (La sculpture nègre), que notabilizou Einstein.

Mais informações: Raul Antelo, professor titular do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas da UFSC / antelo@iaccess.com.br

Por Raquel Wandelli (jornalista, SeCarte)

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