Liliane Meffre discute Carl Einstein, o crítico da liberdade artística

09/04/2010 16:55

A segunda edição do ciclo O Pensamento no Século XXI deste ano coloca em palco dois grandes pensadores europeus da arte e da literatura: Liliane Meffre, professora da Universidade de Bourgogne, Docteur d’Etat em estudos germânicos e doutora em História da Arte-Estética, revisita a obra de um dos mais criativos e irreverentes críticos de arte do século passado, o escritor alemão Carl Einstein. No dia 16 de abril, às 10 horas, no auditório da Reitoria, Meffre profere a palestra ´Carl Einstein (1885-1940), na vanguarda das vanguardas`, com tradução simultânea do francês.

Promovido pela Secretaria de Cultura e Arte (SeCArte) com apoio da Pró-Reitoria de Pós-Graduação, o seminário faz parte das comemorações do aniversário de meio-século da UFSC. E se inscreve na proposta de fazer da UFSC um cenário da discussão internacional contemporânea sobre arte, filosofia e literatura, conforme a secretária Maria de Lourdes Borges

Como parte do Ciclo, Liliane Meffre ainda coordena o Seminário ´Carl Einstein, pensador da Modernidade`, com quatro palestras proferidas em francês e tradução sucessiva. Sob a consultoria do crítico, teórico e professor da Pós-Graduação em Literatura da UFSC Raul Antelo, o seminário ocorre nos dias 12, 13 e 15 de abril, às 18 horas, no auditório do Centro de Comunicação e Expressão, e no dia 14, às 18 horas, na sala Drummond, no prédio B do CCE. Nos dois últimos dias haverá debate em torno da projeção do filme Toni, de Einstein e Jean Renoir, que será exibido sem legendas.

Lançado pela SeCArte no ano passado, o ciclo Pensamento no século XXI promove palestras mensais com intelectuais da atualidade. “Queremos formar um público cultivado no conhecimento mundial, que esteja em sintonia com o pensamento dos grandes centros culturais e das grandes universidades. Não se parte assim de uma postura eurocêntrica, mas se recusa o papel de subalternidade”, explica a secretária Maria de Lourdes Borges. Segundo ela, os intelectuais brasileiros e latino-americanos podem e devem se colocar em diálogo com os grandes centros.

O Pensamento no século XXI convida a abandonar a estratégia terceiro-mundista de formação de redutos de intelectuais que afirmam culturas nacionais ou localizadas, adotada nos anos 60, para se lançar na perspectiva do conhecimento multicultural, sem fronteiras, mais condizente com o momento de mundialização, como lembra a secretária.

Multiculturalismo

O seminário foi programado nessa direção, de colocar lado a lado pensadores franceses, alemães, brasileiros, argentinos, que são, por sua própria origem multiétnica e experiência acadêmica internacional, expressão do multiculturalismo do tempo presente. Mostra disso é a carta de palestrantes: o primeiro convidado deste ano foi o filósofo italiano Emanuele Coccia, professor na Alemanha e antigo assistente do filósofo Giorgio Agamben.

Na sequencia da francesa Liliane Meffre está programada a vida do crítico cultural norte-americano Chris Dumm, especialista em contracultura, seguido pelo escritor argentino Alan Pauls, o escritor português Gonçalo Tavares, o crítico curador brasileiro Paulo Herkenhoff e o diretor do Museu de Arte de Princeton University Hal Forster, todos de reconhecida trajetória e notória contribuição. “O particular só faz sentido quando se integra ao universal”, acentua Maria de Lourdes.

Liliane Meffre e Einstein

A pesquisadora francesa, que visita o Brasil pela primeira vez, especializou-se nas relações entre arte e antropologia, primitivismo, psicanálise e arte moderna, notadamente, no espaço franco-alemão. Dedicou grande parte de seus trabalhos a Carl Einstein e traduziu várias de suas obras, como Negerplastik. Autora do livro Carl Einstein (1885-1940. Itinéraires d’une pensée moderne), editou vários volumes do autor na França, Alemanha, Bélgica e Espanha e traduziu ao francês obras essenciais, como Negerplastik, o ensaio fundador dos estudos sobre a escultura negra e a arte africana (La sculpture nègre), que notabilizou Einstein.

Quase desconhecido no Brasil e sem nunca ter obtido um título de doutor, Einstein (1885-1940) criticou a arte e o conceito de objeto. Seu trabalho é considerado pioneiro ao apresentar artefatos provenientes da África como obras de arte. Desiludido com os rumos adotados pelo stalinismo, lutou na Coluna Durruti, na Guerra Civil Espanhola, entre 1936-37. Seu idealismo artístico o levou ao suicídio em 1940, num campo de concentração. “A liberdade indispensável em relação a si próprio e à sociedade é o que torna Einstein ainda necessário hoje em dia”, acentua o professor Raul Antelo.

Mais informações:

– Raul Antelo, professor titular do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas da UFSC / antelo@iaccess.com.br

Por Raquel Wandelli/ Jornalista na SeCArte/UFSC

Contato: raquelwandelli@gmail.com / 9911-0524 / 3721-8329.

Leia também:

– Artigo: Quem é Carl Einstein?