Projeto Encuentros 18:30 debate estudos latinoamericanos
O Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) começa nesta terça, 16/3, o Projeto Encuentros 18:30. O evento irá debater temas concernentes à América Latina. As discussões do início têm como foco o pensamento econômico clássico, e trazem Andrea Vicentini, Pedro de Alcântara Figueira e Fani Figueira, editores da Segesta.
A editora curitibana publica, há dez anos, traduções de obras pouco conhecidas, incluindo a coleção ´Raízes do Pensamento Econômico`, e irá lançar, durante o evento, o livro ´Novos princípios de economia política (1819-1827)` de Jean-Charles Léonard Simonde de Sismondi. O projeto, como já avisa no nome, acontece às 18h30, no Auditório do CSE.
Partilhar estudos
A proposta dos Encuentros é de realizar encontros mensais, oferecendo um espaço permanente de informação e debate para que pessoas envolvidas com a pesquisa ou interessadas na vida da América Latina possam partilhar conhecimentos e discutir, de maneira aprofundada, pesquisas em andamento ou trabalhos já concluídos.
A atividade é coordenada pelo professor Lauro Mattei,dos cursos de graduação e pós-graduação em Economia do Departamento de Ciências Econômicas da UFSC e pesquisador do IELA. Ele mesmo, na inauguração do projeto, ofereceu seu projeto de pesquisa ao conhecimento e à crítica, expondo um panorama da pobreza no continente latino-americano, parte dos estudos que desenvolve sobre ´Pobreza, políticas públicas e desenvolvimento na América Latina`.
Mattei destaca que o fórum Encuentros 18:30 é “um espaço de debate acadêmico sobre a temática Latino-Americana, visando socializar conhecimentos.” Através desse espaço, como afirma, “busca-se estreitar o longo fosso de ignorância, principalmente dos acadêmicos brasileiros, sobre o continente latino-americano, suas mazelas e suas perspectivas.” A atividade, portanto, busca oferecer uma contribuição para que estudantes, professores, trabalhadores e a comunidade em geral “voltem suas atenções também para a problemática Regional, rompendo as barreiras do nacionalismo tardio.”
Os debates já estão agendados até junho. O segundo Encuentro 18:30, em abril, dia 28, vai ser com Pedro de Alcântara Figueira, que apresenta suas idéias sobre ´Descartes e o nascimento da ciência moderna`, título do livro que o autor também lança durante o evento.
Sobre os palestrantes
Andrea Vicentini é economista pela Universidade de Urbino, Itália, e foi diretor da Companhia Brasileira de Colonização e Imigração Italiana entre 1969 e 1975. Fani é socióloga e tradutora de vários livros, entre eles, Novos princípios de economia política (1819-1827)”, de Jean-Charles Léonard Simonde de Sismondi, publicado pela primeira vez em língua portuguesa, e que vai ser lançado na noite desse Encuentros de março. Pedro de Alcântara Figueira é filósofo, foi pesquisador do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb) e um dos criadores da História Nova.
Sobre o livro
O nono volume da coleção ´Raízes do Pensamento Econômico`, da Editora Segesta (www.segestaeditora.com.br), é a obra clássica de Jean-Charles Léonard Simonde de Sismondi, ´Novos Princípios da Economia Política`, cuja primeira edição é de 1819 e a segunda de 1827. A obra, de 504 páginas, traduzida por Fani Goldfarb Figueira, é a primeira em língua portuguesa. A tradutora, na introdução do livro, afirma que “sequer na França existe uma edição desta envergadura, pois a única atualmente em circulação, truncada, tem sido, por isso mesmo, justamente muito criticada. Fani Figueira diz, de Sismondi, que ele é um “um autor a que todos se referem embora muito poucos o tenham lido”.
O fato de ser um texto que não é de fácil leitura pode, como diz Fani Figueira, “ ter contribuído para que tenha se tornado mais conhecido pela afirmação de Marx de que Sismondi é um pensador pequeno-burguês”. No entanto, afirma, “o leitor que se dispuser a debruçar-se seriamente quer sobre o texto de Sismondi, quer sobre o que dele diz Marx, facilmente perceberá que este simplismo e esta superficialidade servem apenas para encobrir umas das mais profundas críticas à riqueza que se obtém por via do trabalho assalariado.”
O autor
O economista e historiador suíço Jean-Charles de Sismondi, nascido em Genebra, em 1773, foi, inicialmente, um divulgador do pensamento de Adam Smith. Entretanto, depois de observar em várias viagens as duras condições de trabalho da classe operária, se converteu num crítico da doutrina econômica liberal ortodoxa, elaborando suas próprias teses econômicas. É considerado, assim, o primeiro dos “socialistas ricardianos” e precursor direto de Karl Marx.
Criticou o excesso de abstração da economia clássica, negou a harmonia social e a coincidência do interesse individual com o interesse coletivo. Sinalizava que a livre concorrência conduzia aos monopólios, à proletarização massiva, ao subconsumo e às crises. Sismondi considerava que o objetivo da economia política não é o estudo das formas de aumentar a riqueza, senão das formas de melhorar o bem-estar.Sustentava que, para este objetivo, os problemas chave estão relacionados à distribuição da riqueza.
Filho de um pastor protestante mudou-se com a família para a Inglaterra, e depois para a região italiana da Toscana, em seguida aos distúrbios da revolução francesa (1789). De volta a Genebra (1800), publicou Tableau de l`agriculture toscane (1801) e La Richesse commerciale (1803). Influenciado por Adam Smith, nos anos que se seguiram dedicou-se à elaboração de Histoire des républiques italiennes du moyen âge (1809-1818), uma obra em 16 volumes que inspirou os líderes do Risorgimento italiano. Nas muitas viagens que fez pela Europa, em particular pelo Reino Unido, fez observações sobre o desenvolvimento industrial que o conduziram à crítica do liberalismo econômico, exposta em Nouveaux Principes d`économie politique (1819).
Apresentou teses pioneiras no estudo da natureza das crises econômicas e históricas do capitalismo, defendendo o combate às crises econômicas com maior participação dos trabalhadores nos benefícios do crescimento econômico e com o estímulo à pequena propriedade privada. Pregou a regulamentação da concorrência econômica pelo governo e o equilíbrio entre a produção e o consumo. Sismondi previu um crescente conflito entre a burguesia e as classes trabalhadoras, sugerindo reformas sociais para melhorar as condições de vida dos trabalhadores. Nos seus últimos anos de vida escreveu a monumental Histoire des français (1821-1844).
Karl Marx, a respeito do pensador suíço, escreveu
“Sismondi teve a profunda sensibilidade de ver que a produção capitalista é contraditória; que, por um lado, suas formas, suas condições de produção, estimulam o desenvolvimento desenfreado das forças produtivas e da riqueza; que, por outro, essas condições são determinadas; que suas contradições entre valor de uso e valor de troca, entre mercadoria e dinheiro, compra e venda, produção e consumo, capital e trabalho assalariado etc. assumem dimensões tanto maiores quanto mais se desenvolvem as forças produtivas.
Ele detecta a contradição fundamental: de um lado existe o desenvolvimento desenfreado das forças produtivas e o aumento da riqueza, que, ao mesmo tempo, é constituída de mercadorias e tem de ser transformada em dinheiro; que, de outro, constitui a base da limitação da massa de produtores restrita à produção dos gêneros essenciais. Por isso, para ele as crises não são meros acasos, como em Ricardo, mas, ao contrário, são essencialmente a expressão de contradições imanentes que, em grande escala, ocorrem em determinados períodos.
A partir daí ele vacila constantemente: não sabe se as forças produtivas devem ser controladas pelo Estado a fim de ajustá-las às condições de produção, ou se devem ser fixadas as condições de produção a fim de ajustá-las às forças produtivas. Volta, dessa maneira, frequentemente para o passado; torna-se o laudator temporis acti; por meio de outras regulamentações, também procura eliminar as contradições existentes no rendimento em relação ao capital ou na distribuição em relação à produção, não compreendendo que as relações de distribuição em relação à produção sub alia specie
Ele ajuíza corretamente as contradições da produção burguesa, mas não as compreende; por isso também não compreende o processo de sua dissolução. A base em que ele se apoia é de fato a suspeita de que às forças produtivas desenvolvidas no seio da sociedade capitalista, condições materiais e sociais da criação da riqueza, devem corresponder novas formas de apropriação dessa riqueza; que as formas burguesas de apropriação dessa riqueza são formas transitórias e contraditórias, nas quais a riqueza apenas adquire existência contraditória e sempre se manifesta como seu oposto. A riqueza sempre tem por pressuposto a pobreza, e só se desenvolve na medida em que promove a pobreza.”.
Confira a programação dos Encuentros 18:30
Primeiro semestre de 2010
Primeiro Encuentro
Data: 16/03
Tema: debate sobre pensamento econômico clássico
Palestrantes: Andrea Vicentini, Pedro de Alcântara Figueira e Fani Goldfarb Figueira
Lançamento do livro ´Novos princípios de economia política (1819-1827)` de Jean-Charles Léonard Simonde de Sismondi
Local: Auditório do CSE
Segundo Encuentro
Data: 28/04
Tema: Descartes e a ciência moderna
Palestrante: Pedro de Alcântara Figueira, historiador e filósofo oriundo do ISEB e um dos criadores da História Nova
Lançamento do livro: ´Descartes e o nascimento da ciência moderna`
Autor: Pedro de Alcântara Figueira
Local: Auditório da Economia
Terceiro Encuentro
Data: 27/05
Tema: Políticas sociais no Brasil e na América Latina
Palestrantes: Jorge Abrahão de Castro, Diretor do IPEA, Beatriz Paiva, professora do Departamento de Serviço Social da UFSC.
Local: Auditório do CSE
Lançamento do livro ´Políticas sociais`, do IPEA.
Quarto Encuentro
Data: 18/06
Tema: Repensando o presidencialismo na América Latina
Palestrante: Timothy Power, professor e diretor do Centro de Estudos Latino-americanos da Universidade de Oxford
Local: Auditório do CSE