Livro analisa a evolução do ensino de Biblioteconomia no Brasil
Na precariedade de publicações sobre o ensino da Biblioteconomia, uma obra relançada pela Editora da UFSC pode ser de grande utilidade para docentes, discentes e pesquisadores neste campo e também na área da Ciência da Informação. Em “O ensino da Biblioteconomia no contexto brasileiro: século XX”, o professor Francisco das Chagas de Souza traça um panorama dos fatores político, educacional e econômico como pano de fundo para a compreensão da Biblioteconomia no país, sobretudo no que se refere ao ensino.
O primeiro curso de Biblioteconomia surgiu no Brasil em 1911, na Uni-Rio, e somente 25 anos depois é que a Fesp-SP ofereceu uma segunda opção aos interessados em adquirir formação nessa área. Mas foi a partir da década de 1950 que se estabeleceram as condições materiais que vincularam fortemente o ensino de Biblioteconomia à realidade brasileira. Não por acaso, o livro de Chagas de Souza, professor associado do Departamento de Ciência da Informação da UFSC, após abordar os antecedentes e os passos iniciais da Biblioteconomia no país, faz uma análise dos acontecimentos políticos e sociais e sua interferência neste campo do conhecimento na segunda metade do século passado.
Em seu trabalho, o autor identifica, por exemplo, determinantes que interferiram na inclusão da Biblioteconomia no rol dos cursos e dos temas de grande interesse no país. A criação do Ministério da Educação e Saúde, em 1930, logo após a instalação do governo provisório de Getúlio Vargas, e a implantação da Escola de Biblioteconomia da prefeitura de São Paulo, seis anos depois, abriram caminho para a formação de profissionais nessa área, atendendo a uma necessidade de mercado no Brasil.
Também contribuiu para as mudanças subsequentes a noção crescente de que era preciso levar em conta o leitor, o utilizador das bibliotecas, e não apenas aspectos formais como a catalogação, classificação e organização, na hora da construir os currículos das escolas existentes. Com os anos 60, cresceu o número de matriculados nos níveis primário e secundário e, nas universidades, agora por influência do regime político de exceção, as matérias de caráter nitidamente técnico foram reforçadas, para “dar suporte informacional ao desenvolvimento econômico industrial brasileiro”.
Na década seguinte (a UFSC criou seu curso de Biblioteconomia em 1974), surgiu a necessidade de modernizar o currículo, concentrando o foco no leitor e nas demandas das bibliotecas especializadas no âmbito das empresas, dos organismos governamentais e das universidades, onde a pós-graduação ganhava um corpo sem precedentes no país.
Cenário atual e perspectivas – As transformações políticas trazidas pelo fim do regime militar e pela instalação da Assembleia Constituinte, na década de 80, criaram o cenário ideal para que se desse, enfim, a atualização curricular nos cursos de Biblioteconomia, permitindo a capacitação para o trabalho com informações especializadas e na perspectiva de que melhor seria o resultado quanto melhor fosse o conhecimento do bibliotecário da área em que atuaria como gerenciador e difusor de informações.
A última década do século trouxe mudanças tecnológicas importantes, que transformaram os bibliotecários em “profissionais da informação”. O autor de “O ensino da Biblioteconomia no contexto brasileiro: século XX”, que tem outros sete livros publicados, critica nessa tendência a falta de articulação em torno da leitura, dos conteúdos escolares, do conhecimento público, social e estético.
Para o século XXI, Chagas de Souza vislumbra um caráter mais transformador no ensino de Biblioteconomia, por conta das novas demandas do ensino superior, forçado a atender as exigências que surgirão com o crescimento econômico e a consolidação das infraestruturas industrial, comercial e de serviços. De outro lado, adverte ele, “há muito o que se fazer para a superação da precariedade da educação pública de níveis fundamental e médio, da consolidação de redes de bibliotecas públicas e escolares, das redes de acesso público de informação via internet”.
Por Paulo Clóvis Schmitz / Jornalista na Agecom