Hernando Ospina fala sobre questões polêmicas da Colômbia

Hernando Ospina na UFSC
O evento foi organizado pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas ( CFH), em conjunto com o Programa de Pós-Graduação em História, o Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) e o Núcleo de Estudo de História da América Latina (NEHAL) da UFSC. O público presente era composto por estudantes e docentes da universidade.
Durante duas horas o jornalista refugiado, que trabalha no Le Monde Diplomatique, em Paris, abordou, entre outras questões, a hegemonia dos Estados Unidos sobre a Colômbia, a ligação entre as oligarquias rurais, o Estado e os narcotraficantes e o sofrimento dos camponeses que vivem nesse contexto.

Fotos Paulo Noronha/ Agecom
A conferência dividiu-se em três momentos. No primeiro, Hernando fez um resgate histórico, apontando a origem da guerra civil vivida no país. Segundo ele, o problema começou com a divisão da Grande Colômbia (território libertado e idealizado pelo revolucionário Simón Bolívar) em três países: Equador, Venezuela e Colômbia. “Essa divisão aconteceu, em grande parte, pela vontade das oligarquias rurais, que depois tomaram o poder. Foi assim que começou a se instalar o regime de violência até hoje vigente na Colômbia e em outros países latino-americanos” explicou.
O nascimento das guerrilhas foi outro ponto bastante explorado. Esses movimentos teriam nascido na década de 20, como sindicatos de trabalhadores em busca de terras, saúde e educação. Em 1927, com o estabelecimento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), os Estados Unidos teriam começado a classificar os sindicatos como organizações comunistas e foram apoiados pelo governo colombiano, que passou a perseguir os sindicalistas.
O fato que mudaria a história política do país, no entanto, ainda estava por vir. Em 1948, o assassinato do dirigente liberal Jorge Eliécer Gaitán, desencadeou uma revolta popular que levou à destruição de importantes símbolos de poder em Bogotá. Apesar de liberal, Gaitán era anti-imperalista e protegia os interesses do povo. A partir de então, os partidos Conservador e Liberal se uniram para garantir que esses grupos continuassem no poder. “Na tentativa de combater a situação de opressão surgiram as guerrilhas. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) nasceram em 1965 com a intenção de defender os interesses do povo e tentar mudar a situação do país” disse Hernando, defendendo as FARC como um grupo de formação essencialmente social. Para o jornalista “os paramilitares fariam o que o exército não poderia fazer por causa da sua imagem”.
Em um segundo momento, Hernando tratou de uma questão polêmica também presente em “O terrorismo no Estado da Colômbia”: o envolvimento do atual presidente colombiano, Álvaro Uribe, com o narcotráfico. Para provar a sua tese, o palestrante citou o episódio em que o pai do presidente foi atacado pelas FARC em sua fazenda. Para chegar ao local, Uribe usou uma aeronave de Pablo Escobar Gavíria – o maior narcotraficante do país.
Na terceira parte a conferência foi aberta para perguntas. Foram dois blocos de cinco perguntas. Em um deles, um grupo de estudantes colombianos da UFSC questionou o jornalista sobre o lado violento das FARC, que segundo eles, teria sido omitido. A resposta foi firme: “Não posso dizer que a guerrilha não mata, porque ela mata sim. Mas as suas razões são diferentes das do governo. As FARC matam como meio de atingir um objetivo que é conseguir mais saúde, educação e terras para o povo. O Estado mata para acabar com a guerrilha.”, falou defendendo as FARC.
Por Ingrid Fagundez/ bolsista de jornalismo AGECOM