Vestibular UFSC/2010: Cursinho promove inclusão antes e depois do concurso
Em funcionamento desde 2003, o Cursinho Pré-Vestibular da UFSC vem crescendo a cada ano: de 120 alunos, contará, segundo previsões do coordenador Otávio Augusto Auler Rodrigues, com 2500 vagas em 2010. Vinculado ao Programa de Ações Afirmativas (PAA) e à Pró-Reitoria de Ensino de Graduação (PREG), busca, junto com a PAA, uma inclusão sustentável: proporciona oportunidades de ingresso ao estudante, mas também o acompanha depois que conquista a vaga, diminuindo assim a evasão.
São várias as ações que se somam para que os estudantes carentes possam ter acesso à universidade pública e cheguem até o fim do curso. Desde a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) – que apóia os estudantes através da Moradia Estudantil, de bolsas de auxílio moradia e bolsas Permanência, além do Restaurante Universitário -, até a criação do Cursinho, que viu surgir, em 2007, o Programa de Ações Afirmativas como mais um reforço para consolidar a inclusão.
A preocupação com a permanência na Universidade é fundamental para que todo o esforço em auxiliar o aluno a conquistar uma vaga não tenha sido em vão. O Cursinho disponibiliza aulas de reforço ao acadêmico, ministradas pelos professores do pré-vestibular e também por seus ex-alunos a todos os estudantes da UFSC. Há acompanhamento psicológico – já oferecido durante o período de preparação para o vestibular – e também auxílio no momento de sair ao mercado de trabalho.
A parceria com a Secretaria de Estado da Educação, firmada no início de 2009, possibilitou que o Cursinho, assim como a própria UFSC tem feito nos últimos anos, saísse da Ilha de forma mais efetiva – já que em 2008 Curitibanos também passou a contar com as aulas do pré-vestibular -, oferecendo mais de 2 mil vagas contra as 700 disponibilizadas em 2008. Ao todo, Santa Catarina contabilizou, neste ano, 24 unidades em 20 cidades: Araranguá, Balneário Camboriú, Blumenau, Brusque, Canoinhas, Chapecó, Criciúma, Curitibanos, Florianópolis, Itajaí, Jaraguá do Sul, Joaçaba, Joinville, Lages, Mafra, Palhoça, Rio do Sul, São Bento do Sul, São José e Tubarão. “E o compromisso é de aumentar as vagas e os municípios atendidos a cada ano. Em 2010, serão 28 unidades espalhadas em 24 cidades”, afirma Otávio.
Com índice de aprovação aclamado como um dos maiores dos cursinhos públicos do País – chegou à marca de 35% em 2009 – a procura por uma vaga é grande. Só na última seleção, que teve como critério primordial o nível socioeconômico dos estudantes (assim como as anteriores), foram 6.857 inscritos disputando as 1.000 vagas para o segundo semestre. Otávio avisa que em fevereiro o edital para as aulas de 2010 será divulgado.
Diversas lembranças e um compromisso
A assistente social Corina Espíndola, coordenadora do setor de Supervisão de Inclusão, (vinculado à PREG), coleciona histórias de estudantes que se superaram para alcançar o sonho da vaga na universidade pública. Os relatos são sempre relembrados com um sorriso e braços arrepiados de quem acredita que a missão da Universidade seja democratizar o ensino.
Junto com Otávio e outros professores e servidores, Corina encarou a maratona da Caravana da Inclusão: viajou pelo Estado visitando as escolas públicas das cidades atendidas pelo Cursinho, a fim de estimular os alunos a se inscreverem no Pré-Vestibular e a inserir em suas vidas uma perspectiva: o ensino superior.
“O aluno da rede pública não tem uma história de motivação para o ensino superior. Fomos até a escola Padre Anchieta, que fica no bairro Agronômica, bem perto da UFSC, e era assustador: a maioria dos estudantes nunca esteve na Universidade, porque, para muitos deles, fazer um curso superior é algo inatingível”, explica Corina. “O mais interessante é percorrer muitos quilômetros, chegar numa pequena cidade, falar sobre a UFSC e o Cursinho e ver o brilho no olhar de cada um deles por perceberem que existe a possibilidade de frequentar uma universidade pública e gratuita”.
A assistente social analisa que o Cursinho tem despertado uma outra consciência – porque busca a formação do cidadão, em aulas em que se discutem, por exemplo, o espaço público e a ética -, e novo ânimo nos estudantes do ensino médio que assistem as suas aulas. “É todo um movimento. Os próprios diretores nos relatam que o comportamento deles se modifica: passam a cobrar mais dos professores e reclamam com os colegas que fazem bagunça. E isso acaba por estimular os docentes, que estimulam todos os alunos, num círculo vicioso”.
Ex-pró-reitora de Assuntos Estudantis, Corina avalia que o período tem sido favorável à inclusão. Durante o Fórum Nacional de Pró-reitores de Assistência Comunitária e Estudantil, realizado em 2008, a vitória foi pela inserção de portarias no Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) que garantissem recursos específicos –que devem aumentar a cada ano, até 2012 – para a permanência dos estudantes carentes nas instituições federais.
“Já ouvi muitos alunos dizerem que se passassem no vestibular não teriam como se manter na universidade pública. Para evitar a evasão por esse motivo, agora, temos recursos. Foi uma conquista histórica”.
Corina entende que, apesar da conquista, falta divulgação para que os estudantes possam concorrer aos editais dos programas de assistência. “Conheci vários deles que penaram durante um ou dois meses até descobrirem a PRAE. Nossa preocupação, então, é também passar o máximo de informação sobre esses programas aos que estão chegando agora à Instituição. Precisamos diminuir o distanciamento do aluno da escola pública da Universidade; a instituição só existe porque a população a mantém. Essa, para mim, é uma das funções primordiais da UFSC”.
Por Cláudia Reis/ Jornalista na Agecom
Fotos: Paulo Noronha/ Agecom
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