Pesquisas do professor Rosendo Augusto Yunes são reconhecidas através do Prêmio Scopus 2009

14/12/2009 16:21

O Universo teve origem há aproximadamente 15 bilhões de anos. No princípio tinha o tamanho de um átomo e foi se expandindo até a dimensão atual. “A questão é que a evolução do Universo foi realizada dessa forma para dar origem à vida em nosso planeta. Pequenas mudanças da velocidade de expansão, por exemplo, para mais ou para menos, não permitiriam o surgimento da vida”, explica Rosendo Augusto Yunes, pesquisador sênior da Universidade Federal de Santa Catarina junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Em 1995, o estudioso lançou pela Editora da UFSC (EdUFSC) o livro ´A organização da matéria: acaso ou informação`, onde expõe suas considerações e sua visão sobre um assunto que sempre motivou a reflexão de cientistas, filósofos e teólogos. Com base em sua ampla experiência, o pesquisador defende que a origem e evolução do Universo e da vida não podem ser explicadas como produtos do determinismo e do acaso. Através de uma abordagem científico-filosófica, ele expõe pontos de vista, especulações e fatos relacionados à organização da matéria e enfatiza sua posição teísta, que busca conciliar a idéia de Deus e a teoria da evolução.

Em setembro deste ano o professor argentino naturalizado brasileiro foi agraciado com o Prêmio Scopus 2009, uma iniciativa da editora Elsevier em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O prêmio é concedido a pesquisadores que apresentam produção científica de alto destaque e excelência retratada na base mais ampla de resumos e citações de literatura científica mundial.

Yunes possui graduação e doutorado em Química pela Universidade Del Litoral, da Argentina, e pós-doutorado pela Indiana University, dos Estados Unidos. Além do prêmio Scopus, já recebeu diversos outros reconhecimentos. Obteve a Medalha João David Ferreira Lima na Câmara Municipal de Florianópolis em 2008, o prêmio do Núcleo de Investigações Químico-farmacêuticas (NIQFAR) em 2005, o prêmio do curso de Farmácia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) em 2003 e da Pós-Graduação em Química da UFSC em 1996 e o prêmio do Conselho Regional de Química por sua contribuição à Química Fina em 1998, além do título de Huésped Oficial, da Universidad Nacional Del Litoral.

Mudança de paradigmas

A origem da vida sempre causou debates entre ciência e religião. Até agora, não existe nenhuma teoria que possa defender coerentemente essa origem. Existe a dúvida levantada, por exemplo, por Yockey, um cientista que se declara agnóstico: como explicar que há 3,5 bilhões de anos já estava presente no código genético um sistema lógico-matemático de alta complexidade?

Este fato pode, de alguma forma, ser esclarecido pela teoria de Yunes, que considera as estruturas lógico-matemáticas uma parte constitutiva da realidade. “No fundamento da realidade, encontramos relações numéricas, princípios não-materiais. A base do mundo é não-material”, afirma o pesquisador. Para ele, esse fato terminou com o materialismo clássico mecanicista que explicava tudo pela ação de minúsculas partículas, ação regulada por diversas forças de interação.

Atualmente, outros pontos críticos entre ciência e religião se cruzam. “Ainda muitos vivem penando com um paradigma próprio dos séculos XVII, XVIII e XIX, que se inicia com a mudança da ideia de que nosso planeta era o centro do Universo segundo Ptolomeu. Posteriormente, Newton procurou demonstrar que o Universo tem um comportamento totalmente determinista, funcionando como um relógio. Já a teoria de Darwin demonstra que o homem é um produto da evolução biológica e não um ser especialmente criado por Deus. E, posteriormente, as teorias psicológicas de Freud defendem que os instintos, especialmente o sexual, são determinantes da conduta humana”, explica o professor.

Teoria de Darwin

A polêmica obra de Charles Darwin ´A Origem das Espécies` foi publicada pela primeira vez há exatos 150 anos. Hoje, informações sobre genes acrescentam um novo grau de complexidade à questão darwiniana. A evolução da ciência permitiu comprovar e detalhar muitas das teorias propostas, mas ainda não conseguiu elucidar questões inquietantes que derivam de sua obra. “Devemos lembrar que Darwin escreveu sua hipótese no século XIX, quando ainda não eram conhecidas a biologia moderna e seus estudos do genoma, por exemplo”, enfatiza o pesquisador.

Segundo ele, a teoria darwinista deve ser atualizada. “Primeiramente, porque ela diz que as mudanças genéticas são ao azar, por casualidade. Isso claramente não é assim, porque toda mudança de estruturas químicas está determinada pelos orbitais moleculares que se destroem e aqueles que se formam. A mudança é assim, determinística. Em segundo lugar, Darwin não considerou a auto-organização dos sistemas biológicos que apresentam sua própria autonomia e que, segundo Stuart Kauffman, representaria nove de 10 pontos no sentido de induzir as transformações evolutivas, dando um ponto à seleção natural”.

“Finalmente, e mais importante”, continua o pesquisador, “aparece o fenômeno da Convergência, ou seja, processos evolutivos de linhas biológicas totalmente diferentes, mas que levam ao mesmo resultado. Por exemplo, a visão, que apareceu 40 vezes em diferentes espécies. Isto significa que existe uma informação que guia a formação da visão”, reflete. Este fato foi o que levou o professor a escrever sua teoria sobre a evolução da mente humana, guiada pela informação lógico-matemática existente na realidade.

Informações lógico-matemáticas

“Segundo a hipótese de Heisenberg, a mais aceita entre os físicos, a realidade do microcosmo não é igual a do macrocosmo; as partículas elementares são uma realidade ‘potencial’ e isso significa uma espécie de informação. Em 1999, Anton Zeilinger demonstra que uma molécula de 60 átomos de carbono apresenta um comportamento de onda e o fenômeno de interferência. E em 2006, ele diz que a informação está na base do todo, o que denominamos natureza. O comportamento das partículas levou E. Schrödinger a propor a mecânica ondulatória, ferramenta mais poderosa da química quântica.

As partículas elementares, então, não são pequenas bolas, mas desenhos ondulatórios, fórmulas matemáticas, ondas estacionárias que não se propagam porque estão ligadas ao núcleo atômico. Segundo Born, sua natureza é o das ondas de probabilidade. As probabilidades são números sem dimensão, proporções de números. Elas não têm massa nem energia, são informações de relações numéricas”, reforça o pesquisador.

Sobre a psicologia

“Acredito no pensamento de Victor Frankl, criador da terceira escola de Viena e, infelizmente, pouco conhecido por aqui. Ele foi um dos psicólogos mais importantes do século XX e esteve nos campos de concentração dos nazistas, onde adquiriu experiência para escrever diversos livros. Frankl demonstra que o homem é realmente livre e que a procura do prazer como objetivo vital não é um principio psicológico, mas patológico. Normalmente ao homem não basta o simples prazer, mas pretende-se sempre um sentido e, para ele, o sentido da existência se fundamenta no amor ligado a valores que existem somente em uma pessoa. Este é o amor que não perece”, defende Yunes.

Vida acadêmica de Rosendo Yunes

O estudioso tem centenas de artigos publicados, cerca de 400 resumos divulgados em anais de congressos e diversas produções técnicas. Hoje, continua seus trabalhos em colaboração com os professores da UFSC e como pesquisador sênior do CNPq, desenvolvendo trabalhos na área da química medicinal – especialmente com doenças negligenciadas como leishmaniose, tuberculose, chagas e malária.

Depois de trabalhar como bolsista do Conicet (CNPq argentino), Rosendo Yunes ingressou na docência universitária em 1962 com uma função equivalente a monitor da Universidade Del Litoral e, por concurso, ganhou o cargo de professor adjunto em 1965. Em 1971, foi professor visitante no Instituo de Química da Universidade de São Paulo e, em 1974, ganhou o concurso para professor titular. Neste mesmo ano, foi nominado Secretário de Assuntos Acadêmicos e, no ano seguinte, foi aos Estados Unidos para trabalhar na Indiana University como professor visitante, realizando seu pós-doutorado. Ao voltar a Argentina, foi colocado à disposição pela ditadura militar da Universidad Nacional del Litoral. Posteriormente, foi nominado professor na Universidad Católica de Santa Fé e, em agosto de l979, trabalhou na área da química medicinal junto a Central de Medicamentos (CEME) como professor visitante na UFSC. Foi coordenador do curso de Pós-Graduação em Química entre 1984 e 1986 e entre 1989 e 1992. Por problemas cardíacos, foi aposentado em 30 de dezembro de 1998 e, até 2001, foi professor voluntário na UFSC e, depois, na Universidade do Vale do Itajaí (Univali).

Por Natália Izidoro / Bolsista de Jornalismo na Agecom