Na Mídia: Astronomia – Caçadores de estrelas
Celebrada mundialmente em 2009, a ciência que encantou Galileu há quatro séculos ainda fascina a humanidade e desperta a atenção de curiosos em SCFlorianópolis, 21h30min de quarta-feira. Dez pessoas, incluindo crianças, estudantes e um casal estrangeiro, experimentam a mesma sensação que o músico alemão William Herschel teve em 13 de março: enxergar Urano através de um telescópio.
Tudo bem, Herschel fez isso em 1781, tornando-se o descobridor do sétimo planeta do Sistema Solar. Mas vasculhar o universo é algo que ainda fascina tanto, que grupos de curiosos frequentam o Observatório Astronômico, ao lado do planetário da UFSC, para aprender um pouco sobre astronomia.
Quem conta a história do alemão e outras tantas, ricas em detalhe e entusiasmo, é Alexandre Amorim, 36 anos. Na noite da última quarta, o grupo, que ainda observaria Júpiter e a galáxia de Andrômeda – a mais próxima da nossa, a Via Láctea – participava de um projeto de astrofísica da universidade chamado De Olho no Céu de Floripa, aberto ao público.
– Aqui vem gente interessada de todas as idades. Há senhores que olhavam estrelas quando eram crianças e agora descobrem que temos um telescópio – conta Germano Bortolotto, 19 anos, bolsista do projeto, ele próprio fascinado pelas estrelas.
Amorim não é professor nem pesquisador. Eletricista lotado no Tribunal de Justiça, é um dos muitos astrônomos amadores apaixonados pelo céu e pela divulgação científica que se reúnem em clubes pelo Estado. Ou, como ele diz:
– Sou astrônomo e, nas horas vagas, eletricista.
Amorim está envolvido em eventos do Ano Internacional da Astronomia, que celebra os 400 anos das primeiras observações telescópicas de Galileu Galilei, o italiano que mudaria a História ao afirmar que o Sol não gira ao redor da Terra.
O gosto pela observação das estrelas, Amorim não herdou de nenhuma figura histórica. Foi do pai, pescador artesanal e morador da Costeira, na Capital. O pescador que gostava de observar o céu voltava do mar cheio de histórias para contar ao filho.
– A escola não me deu as informações que eu queria. Tive de buscar fora – ressalta Amorim.
Há 20 anos, ele comprou uma edição da revista Superinteressante, guardada até hoje, que lhe mostrou como se lia uma carta do céu (veja na página ao lado). Começou observando a olho nu, buscando as principais constelações. Depois, passou a usar binóculos simples e mais tarde comprou um telescópio.
Desde 1997, toda noite possível, quando o tempo está bom e não há nuvens demais, Amorim reserva uma ou duas horas para observar estrelas variáveis (cujo brilho muda de intensidade ao longo do tempo) do quintal de casa, no Bairro Carianos. Anota o nome da estrela, o brilho e outras informações que são enviados para três associações internacionais. Os bancos de dados alimentados por voluntários podem ser utilizados por cientistas de verdade.
Mas é bom que se diga: astrônomos amadores são fissurados por cometas. Como os observatórios costumam acompanhar apenas objetos já conhecidos, são os amadores que descobrem novos cometas, o que lhes dá o direito de batizar o objeto. Por enquanto, o único brasileiro a conseguir o feito foi Paulo Holvorcem em 2002.
Cometas causam frisson. Já os eclipses solares, como o visível em SC em 1994, representam uma verdadeira Copa do Mundo da astronomia. Existem até os caçadores de eclipse, que rodam o mundo atrás de uma observação e se distinguem pelo tempo em que assistiram a um eclipse total.
– O observador que nunca viu um eclipse solar tem que falar baixo – brinca Amorim.
Ele mesmo já foi até Natal admirar um. Planejava observar outro em Xangai, este ano, mas não conseguiu. Astronomia, lembra o eletricista, é um exercício de paciência. O próximo eclipse solar total visível em Florianópolis tem data: 8 de janeiro de 2103.
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EDUARDO KORMIVES