Exibição do filme ´A Arca Russa` foi evento do 2º Café Filosófico da UFSC

09/11/2009 17:00

Dentro da programação da segunda edição do Café Filosófico, foi exibido na quinta, 5/11, o filme A Arca Russa, do cineasta russo Alexander Sokúrov, no Teatro do DAC. Em seguida, aconteceu uma mesa-redonda sobre estética, que reuniu o professor Jair Fonseca, do Laboratório de Estudos Transdisciplinares e Nazareno Eduardo de Almeida, professor de Filosofia da UFSC, com moderação da cineasta catarinense Maria Emília.

A obra, filmada em um único plano-sequência, não tem corte ou pausa na câmera em seus 99 minutos de duração. Rodado em dezembro de 2001, o cineasta russo Sokúrov concretiza as tentativas anteriores de outros diretores ao fazer um filme sem um único corte.

A maior duração das tomadas começou a ser pensada no neo-realismo europeu como algo que daria uma concepção da própria realidade. “Daí chegar ao ponto extremo e radical nesse filme, que exige, além da nova tecnologia, grande organização, logística e coreografia do câmera, dos atores e de toda a equipe”, afirmou o professor Jair Fonseca durante a mesa-redonda.

Mais de dois mil figurantes e atores profissionais compuseram os cenários deste filme, seguindo o roteiro do diretor geral Sokúrov e do artista alemão Tilman Büttner, diretor de fotografia e operador da câmera. A câmera foi ligada e tudo foi filmado em tempo real e contínuo. Todos os atores tiveram de estar no lugar certo, e tudo devia funcionar ou todo o trabalho se perderia.

O cineasta Alexander Sokúrov já produziu 27 documentários e outros 14 filmes. “Essa é uma obra de alguém muito maduro. O que mais me chama a atenção é a versatilidade incrível do Sokúrov. Embora com ar um pouco melancólico, esse filme é colorido, vivo, épico, completamente diferente de outros filmes grandiosos já dirigidos pelo diretor russo”, analisou o professor Nazareno de Almeida.

A relação conflituosa da Rússia e Europa percebe-se nos diálogos do filme. “As falas do ator que representa a personificação alegórica da Europa faz uma alusão ao que é a Rússia hoje, desiludida, ‘mal-vestida’. A Rússia é o que? Depois do império czarista que ruiu, do império soviético que não foi e uma república que não foi também?”, refletiu Fonseca.

Na obra, um diplomata francês do século XIX passeia pelo Museu de Hermitage, em São Petersburgo, ex-palácio dos czares russos, e encontra figuras históricas dos últimos três séculos. A câmera é o olhar de outro personagem, invisível e inconformista, que representa a Rússia e dialoga com o diplomata, que representa a velha Europa. Flutuante, ela percorre os espaços do museu em diferentes temporalidades da história.

Divagando sobre um passado, o francês serve de guia ao narrador e ambos conversam e passeiam pelo museu, onde se vêem os salões, as obras-primas e personagens da história russa. Os espectadores vão juntos, fascinados pelo clima onírico do filme e pela gigantesca beleza das imagens. Tudo que se vê é o apogeu da era da aristocracia.

O filme mostra a corte de Catarina e de Pedro e os últimos momentos da monarquia russa antes da Revolução no país. Um túnel do tempo que termina com o último grande baile imperial que se deu no palácio em 1913, enquanto no mundo exterior fermentava a turbulenta revolução.

“Esse filme entra na história do cinema por vários motivos. Se já é difícil produzir um filme com cortes e montagens, imaginem a dificuldade de se fazer um filme com milhares de figurantes, num museu, com todo aquele aparato”, concluiu Fonseca.

Por Natália Izidoro/ Bolsista de Jornalismo na Agecom