Alcides Buss lança “Saber não saber” em Pomerode

14/10/2009 12:08

“Saber não saber”, este é o título do novo livro do poeta Alcides Buss, o vigésimo primeiro de sua carreira. O lançamento acontece neste sábado, 17 de outubro, a partir das 10 horas, na Livraria Pomerana, na cidade de Pomerode, no Alto Vale do Itajaí. “Um dia ainda quero lançar um livro em Salete, a pequena cidade onde nasci. Mas acho que isso vai demorar”, comenta o autor. Mas por que em Pomerode? O poeta explica: “Todos gostam de lançar seus livros em cidades grandes, sob os holofotes da mídia. Pois eu quero agora fazê-lo nas pequenas cidades, onde as pessoas se conhecem e a vida tem aroma de campo.”

Composto de 65 poemas e com bela capa criada por Lúcia Iaczinski, a obra tem como premissa a interatividade com o leitor. ‘A cada momento, ou a cada verso, ele é motivado a concordar ou discordar e a dar sua opinião pessoal ou, ainda, a tecer seu próprio caminho ou atalho poético”, diz Alcides Buss

O livro foi escrito há vários anos, fazendo parte de uma trilogia: Saber não saber, Ter não ter e Poder não poder. Tudo ficou em banho-maria, como é costume do autor. Seu objetivo era destiná-los ao público jovem. Quando terminou de burilar o primeiro volume, encaminhou o mesmo a várias editoras, as quais julgaram que se tratava de poesia “adulta”. Com isso, o livro ficou engavetado mais uns tempos.

“Cabe agora ao leitor, jovem ou não, dar o seu veredicto”, avalia Buss, que começou sua carreira literária em Joinville com o livro Círculo quadrado, uma referência à cidade devotada, naquela época, ao trabalho e onde a cultura era privilégio apenas de alguns. A partir daí a cidade nunca mais foi a mesma. O poeta, investido no papel de diretor de cultura da prefeitura municipal, esteve à frente de ações que criaram novos rumos, levando a arte para as ruas, desde a orquestra sinfônica até a literatura, esta através dos varais literários.

O segundo livro, publicado após vencer um festival universitário – O bolso ou a vida?, foi saudado por professores e críticos literários como um trabalho inovador para a poesia que era feita na época. Lindolf Bell assim se referiu a ele: “O bolso ou a vida? é uma opção que só um altíssimo talento de poeta poderia conciliar sem cair na demagogia ou no romantismo barato dos almanaques.”

Outros livros vieram depois e, junto com eles, inúmeros prêmios, entre eles o da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), pela obra infantil A poesia do ABC, o prêmio Cruz e Sousa de Mérito Cultural e o prêmio Manuel Bandeira, da União Brasileira de Escritores pelo conjunto da obra.

Como professor da Universidade Federal de Santa Catarina, o poeta criou uma das primeiras oficinas de criação literária no Brasil, que ainda está em atividade. Durante dezessete anos dirigiu a Editora da UFSC, respondendo pela edição de centenas de obras. Foi também presidente da Associação Brasileira de Editoras Universitárias. Atualmente coordena o Círculo de Leitura de Florianópolis.

Serviço:

Saber não saber (poesia), de Alcides Buss

Caminho de Dentro Edições

144p – R$ 29,90

O que dizem sobre o poeta

MIGUEL SANCHES NETO

“O aprofundamento deste interesse vanguardístico o leva a uma linguagem mais brasileira, pois ele descobre, como poeta, a força imagética de Cobra Norato. Ahsim (Florianópolis, 1976) deve ser lido como tributo ao poeta gaúcho que brincou com a capital catarinense e seus vícios de fala, no poema “Florianóspi” (1928), definida pelo modernista como cidade-titia, mero passadismo urbano. Ao recuperar a fórmula poética de Bopp, Alcides Buss está mexendo com a própria imagem de sua cidade, mas está também atualizando o discurso fluvial, antes localizado numa Amazônia mítica, paradisíaca, e que agora se manifesta nos rios fedorentos da urbe poluída.”

HILDEBERTO BARBOSA FILHO

“Poemas como os de Alcides Buss, em Cadernos da noite, não devem ser apenas lidos, mas lidos e relidos a vida inteira. Para mim, a leitura da boa poesia nunca deve ser uma leitura de consumo, e sim, uma leitura contínua, de silenciosa e secreta convivência. A intensidade do lirismo, o domínio vocabular, a sobriedade das imagens, enfim, a serena melodia do ritmo me devolvem a convicção de que a autêntica poesia sempre existirá. Depois de muita decepção com os falsos esgrimistas da linguagem, só posso fazer minhas as palavras do bruxo encantado, Lêdo Ivo, expostas na contracapa: “Meus aplausos à sua poesia, uma das mais belas e fortes do nosso país e da nossa língua”. De minha parte, gostaria muito de ter escrito versos assim: ‘A estrela distante / é esta que dói / em meu coração’.”

CARLOS JORGE APPEL

Em Cinza de Fênix e três elegias, um livro de excelência e um dos melhores do País neste início de século, o autor privilegia e reitera alguns temas: a finitude do amor, o esquecimento, a memória e a transitoriedade, o ser errático e incompleto que somos: ‘Sob a pele das certezas, / carregamos a morte inumerável / de nós mesmos’.”

LAURO JUNKES

“Ser poeta não constitui um simples privilégio, mas resulta do constante construir-se poeta. Porque ser poeta consiste em assumir a vida, ser a vida, não apenas nela estar. O caráter poético não libera o poeta de galgar passo a passo os meandros da existência. E olhar a vida abrange o existir próprio e o dos semelhantes. O poeta Alcides Buss bem o demonstra em Olhar a Vida (Insular, 2007).”

FÁBIO LUCAS

“A arte, todos sabem, procura transitar no campo da totalidade intensiva. O poeta explora a contingência dos sentidos, valendo-se do vigor dos sinais. Uma semiologia dos arcanos. Como a palavra é densa e escassa, os poemas de Alcides Buss se realizam com sobriedade, em versos curtos, mínimos. Certos poemas se engendram, por vezes, como uma iluminação, um achado súbito, um êxtase, uma epifania.”

NELLY NOVAES COELHO

“Poesia altamente consciente da palavra e seu poder criador, a de Alcides Buss concentra uma situação-limite bem característica destes nossos tempos de apocalipse e gênese. Referimo-nos à consciência de que hoje estamos vivendo, em compasso-de- espera, entre um findar e um renascer.”

ANTONIO CARLOS SECCHIN

“Eis um poeta cuja limpidez discursiva não transforma a elipse, o verso curto, em esconderijo retórico de uma possível anemia existencial; em sua poesia, ao contrário, o metro conciso parece operar como um dique de controle a uma voragem de vida. Buss é um poeta culto em quem a cultura não pesa, nem se transforma em fala vedada aos não-iniciados. Nele, é sensível o apego à matéria do mundo, em sua misteriosa e complexa simplicidade.”

Obras publicadas:

Círculo quadrado. Joinville, edição do autor, 1970.

O bolso ou a vida? Florianópolis, Diretório Central dos Estudantes da UFSC, 1971.

Ahsim. Florianópolis, Editora Lunardelli, 1976.

O homem e a mulher. Joinville, edição do autor, 1980.

Cobra Norato e a especificidade da linguagem poética. Florianópolis, Fundação Catarinense de Cultura, 1982.

O homem sem o homem. Florianópolis, Editora Noa Noa, 1982.

Antologia do varal literário (Org.). Florianópolis, Editora da UFSC, 1983.

Sete pavios no ar. Florianópolis, Edições Sanfona, 1985.

Pessoa que finge a dor. Florianópolis, Movimento de Ação do Livro, 1985.

Segunda pessoa. Florianópolis, Movimento de Ação do Livro, 1987.

Transação. Florianópolis, M.A.L. Edições, 1988.

A poesia do ABC (infantil), 6ª ed. Cuca Fresca Edições, Florianópolis, 2009.

O professor é um poeta (Org.). Florianópolis, Editora da UFSC, 1989.

Contemplação do amor – vinte anos de poesia escolhida. Florianópolis, Editora da UFSC, 1991.

Natural, afetivo, frágil. Florianópolis, Edições Athanor, 1992.

Nenhum milagre. Florianópolis, Editora Letras Contemporâneas, 1993.

Sinais/Sentidos. Florianópolis, M.A.L. Edições, 1995.

Cinza de Fênix e três elegias. Florianópolis, Editora Insular, 1999.

Pomar de palavras (infantil) 3ª. Ed. Florianópolis, Cuca Fresca Edições, 2009.

Contemplação do amor – 30 anos de poesia escolhida. Florianópolis, Editora da UFSC, 2002.

Cadernos da noite. Florianópolis, M.A.L. Edições, 2003.

Olhar a vida. Florianópolis, Editora Insular, 2007.

Saber não saber. Florianópolis, Caminho de Dentro Edições, 2009