Especial Pesquisa: dissertação recupera trajetória do Correio Braziliense, considerado o primeiro jornal do Brasil

Fotos: Paulo Noronha / Agecom
O trabalho desenvolvido com orientação da professora Daisi Vogel e conta a trajetória de Hipólito da Costa, um homem tratado como herói pela história brasileira. Hipólito foi o fundador do Correio Braziliense, considerado o primeiro jornal do Brasil, escrito em Londres, com ampla circulação mundial em língua portuguesa entre os anos 1808 e 1822.
A influência de sua postura política e das idéias veiculadas pelo jornal ajudou a construir uma identidade brasileira entre as elites políticas e intelectuais que direcionaram a proclamação da independência em 1822. Além disso, as propostas de Hipólito serviram como ponto de partida para a imprensa brasileira.
“Minha dissertação fala sobre um jornalista e seu tempo. Portanto é algo diferente de um case studie propriamente dito, apesar de ter utilizado um veículo jornalístico como fonte documental privilegiada.”, analisa Luís sobre sua obra.
O Correio Braziliense é um importante registro das atividades e movimentações de sua época. Luís acredita que a partir dele é possível uma maior compreensão sobre as condições em que o estado brasileiro foi constituído e como os intelectuais agiam e tentavam produzir sentimentos comuns na população. “Ao longo de 14 anos, Hipólito escreveu religiosamente seu jornal, a partir de documentos oficiais ou relatos orais.”, explica o autor.
Ao longo de três capítulos, o pesquisador passeou pela sociedade londrina, brasileira e portuguesa, abordando o Correio Braziliense por diferentes ângulos, para perceber como Hipólito da Costa discorreu sobre a política e a integração no Brasil.
O primeiro capítulo intitulado ´Nação: desvendando espaços` mostra a nação brasileira como construída e imaginada pelo jornal (história das representações políticas). A segunda parte, ´Cidade: vivenciando espaços`, revela o relacionamento do jornalista com a cidade de Londres e os seus reflexos no jornal (sociologia). Com o título ´Praticando um jornalismo`, analisa as propostas jornalísticas criadas no percurso do Correio Braziliense em seus diálogos com jornais que circulavam em Londres (história do jornalismo).
A dissertação foi baseada em pesquisas no enorme volume de exemplares do Correio Braziliense – que por sua densidade, gera discussões sobre se é realmente jornal ou um livro. A facilidade de encontrar o material, o acolhimento da UFSC e do Departamento de Jornalismo, a acessibilidade a bolsas de pesquisa e a transparência da Pró-Reitoria de Pós-Graduação foram questões que contribuíram para o resultado final, na opinião do recém-mestre.
“Quanto à pesquisa, a estatura de Hipólito da Costa diminuiu consideravelmente. Compreender um bocadito da sua trama vivida em Londres ajudou a tirar um pouco de sua auréola mítica ligada à construção heróica do Brasil, apesar de a sua importância continuar sendo inegável. Mostra sim um pouco da porosidade da nação e estado brasileiros em seus contextos de nascimento”, considera Luís.
Segundo ele, a curiosidade pelo mundo do Correio Braziliense surgiu na graduação. Luís Munaro é formado em História e em Jornalismo pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e seus dois Trabalhos de Conclusão de Curso foram sobre o tema. No primeiro, o título ‘Questão de identidade: o Correio Braziliense no Brasil de D. Pedro (1821-3)’ aborda o discurso da independência feito pelo Correio.
No Curso de Jornalismo, ‘Do Correio Braziliense ao grito da Independência’ apresenta o registro do discurso do jornal no imaginário brasileiro entre os anos 1808 e 1822. Os trabalhos anteriores abriram caminho para o mestrado, em que o autor já estava familiarizado com autores de obras utilizadas como referência, como Benedict Anderson, Roger Chartier, Robert Darnton e Norbert Elias.
Sobre ter sido o pioneiro a defender, na UFSC, uma dissertação de mestrado em Jornalismo, Luís ressalta que é uma grande responsabilidade e felicidade. “É uma possibilidade de cruzar várias ferramentas teóricas ao mesmo tempo. Me propus a pesquisar e pesquisei. Depois de dois anos, ofereci os resultados de minha pesquisa à comunidade acadêmica. Espero que ela contribua para retirar um pouco do estatuto da produção jornalística como uma produção pura de mensagens ou dos jornalistas como ferramentas autônomas de trabalho vivendo confinadas em redações de jornais.”, finaliza.
Mais informações: luismunaro@yahoo.com.br
Por Tifany Ródio / Bolsista de Jornalismo na Agecom
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